Webdoc retrata processo artístico da peça "Outros", do Grupo Galpão
Nesse período de pandemia, o Grupo Galpão busca "tocar a poesia" no público, transformando cenas do que acontece além do palco em um webdocumentário, como resposta teatral à polarização
A sensibilidade dos atores do Galpão, um dos grupos de teatro mais tradicionais do Brasil, vai além do que é visto nos palcos. De forma intimista, o processo artístico de criação e desenvolvimento da peça Outros, a mais recente da equipe, está sendo retratado em um webdocumentário de seis episódios. O primeiro vídeo foi lançado na segunda-feira (11), no Youtube, e o segundo entrou no ar nesta quinta (14).
Os episódios do 'A gente pode tudo pelo menos por enquanto', nome dado ao webdoc, estreiam às segundas e quintas-feiras, sempre acompanhados de uma versão com intérprete de Libras. Os vídeos têm até 20 minutos e seguirão disponíveis no YouTube até 11 de fevereiro, de forma gratuita.
As gravações de estudos, ensaios, performances e discussões em torno do espetáculo Outros foram feitas entre 2018 e 2019 por Luiz Felipe Fernandes, também diretor e idealizador do webdoc. Além disso, a produção conta com fragmentos das estreias da peça em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, feitas nesse período, antes da pandemia.
“Muita gente fica curiosa para saber o que acontece ali, nas salas de ensaio. E eu, que fui filmando todo o processo, fui sendo tomado pela energia que o Grupo tem. A entrega deles é muito impressionante”, ressalta o diretor da produção, Luiz Felipe Fernandes.
Foram coletadas mais de 150 horas de material. Para transmitir tudo ao público, seguindo “alguns preceitos da peça”, de acordo com Fernandes, o webdoc segue uma narrativa atemporal e não linear. “A série aposta e arrisca um pouco na questão de interação com quem está assistindo. Não é tipo uma novela em que você consegue prever o que irá acontecer. Pede um pouco mais de participação. Eu quis deixar as lacunas um pouco abertas”.
Resposta artística
“Outros é uma resposta teatral ao momento de polarização que estamos vivendo. Um momento repleto de pessoas fechadas em suas próprias ideias, convicções. e muito arredias com relação a tudo que seja o outro”, descreve Eduardo Moreira, de 59 anos, um dos fundadores do Grupo Galpão que segue atuando como ator na equipe.
Moreira conta que a experiência em torno do Outros foi muito intensa e que o processo de 'mergulho' dos atores está bem retratado no webdoc. “Buscamos tocar a poesia em um período sem abertura para o poético”.
O Grupo Galpão
Criado em 1982, o Grupo Galpão carrega como essência a tradição do teatro popular e de rua. Em quase 40 anos de trajetória, o Galpão busca levar ao público peças com poder de comunicação, dialogando com o popular e o erudito, a tradição e a contemporaneidade, o universal e o regional brasileiro.
Atualmente, os atores que compõem o grupo são: Antonio Edson, Beto Franco, Eduardo Moreira, Fernanda Vianna, Inês Peixoto, Júlio Maciel, Lydia Del Picchia, Paulo André, Simone Ordones e Teuda Bara.
De acordo com Moreira, o grupo tem buscado se reinventar neste período de pandemia. “O encontro pessoalmente com nosso público é insubstituível, mas no momento estamos privados dele”.
Em função da pandemia, projetos de peças virtuais, cursos a distância e outras produções estão sendo realizadas e idealizadas pelo Grupo Galpão de forma virtual. O trabalho da equipe pode ser acompanhado pelas redes sociais (Facebook e Instagram).