Tecnologia tem impactos diferentes em sebos santistas

O Capítulo Primeiro fechará as portas em breve; já a Brizolinha Livros atrai novos leitores com a internet

Por: Bruna Faro & Da Redação &  -  01/05/19  -  13:01
  Foto: Alexsander Ferraz / AT

'O Thesouro da Juventude' é uma das raridades encontradas no sebo Capítulo Primeiro. Trata-se de uma enciclopédia publicada na década de 1920, muito usada pelas crianças daquela época, que buscavam nos livros as respostas sobre o mundo.


César Luiz Costa, sócio do sebo Capítulo Primeiro, trabalha há mais de 20 anos em estabelecimentos que valorizam a leitura e fala com grande orgulho sobre o acervo com cerca de sete mil livros da loja, localizada no coração do Gonzaga (Avenida Floriano Peixoto, 4, 1º andar).


Quem criou o sebo foi Rosana Sérgio de Sá, em 1995, graças ao seu amor pela literatura.“Ninguém fica rico dono de sebo. Tem que gostar da coisa. Quando a firma compra um livro para revender, é como uma caixinha de surpresas”, declara Costa.


Agora, depois de 24 anos de história, infelizmente chegou o momento de fechar as portas e finalizar esse capítulo da melhor forma possível. A loja inteira está em liquidação, todo o acervo tem 50% de desconto. Até alguns móveis e estantes estão à venda. “A firma vai fechar formalmente. Vamos dar baixa e pretendemos atingir um bom público”.


A liquidação vai durar mais duas ou três semanas, sendo que os livros que não forem vendidos serão doados para entidades filantrópicas.


Costa credita o fechamento do sebo “à grande crise econômica” do País: “Não há um retorno dos clientes, a crise leva a um corte de despesas. Infelizmente, livros e lazer, de um modo geral, são muito afetados”, lamenta o sócio, ao acrescentar que a lenta recuperação do País não ajuda em nada.


Costa acredita que, além da crise econômica, a internet é um dos fatores que fazem com que a procura por livrarias esteja diminuindo. Mas também vê a tecnologia como o futuro e sente que pode ser benéfico em casos como enciclopédias, que precisam de uma atualização constante.


“Eu não sei se redes de livraria fariam sentido no futuro. Acho que vão voltar para o que era nos anos 30. Com atendimento personalizado, conhecendo bem o gosto do cliente. Isso faz mais sentido”, aposta ele.


Guilherme Eduardo de Moraes Mancio, que assumiu a banca Brizolinha Livros (Rua Bahia, 196, Gonzaga), após a morte de seu pai, há dois anos, já começou a se adaptar à tecnologia. Tanto que criou uma página no Instagram para atingir o público mais jovem. “Eu tinha clientes mais velhos, mas, depois que criei a página, comecei a ter um público jovem. Até me surpreendeu ver uma molecada com uma leitura clássica”.


O estabelecimento, à primeira vista, lembra uma banca de jornal. Criado pelo seu pai, há cerca de 25 anos, se tornou um dos sebos mais conhecidos da Cidade. Para ele, a crise não o afetou tanto.


“Não me prejudicou em comparação a livrarias maiores. Acho que é um mercado que ainda tem muito a ser explorado. Tenho um público bom, que renovou bastante. Não vou ficar rico, mas não tenho do que reclamar”. Ele sente que quem cresceu com o livro embaixo do braço não troca o aroma e a textura das páginas por nenhuma tela. “Quem tem o hábito do livro físico, não vai substitui-lo”.


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