'Suk Suk' aborda paixão e autodescoberta na terceira idade

Longa dirigido pelo cineasta Ray Yeung investe na representatividade LGBTQIA+ em delicada história de amor

Por: Bia Viana  -  07/10/21  -  08:35
Atualizado em 07/10/21 - 09:35
 'Suk Suk' investe na representatividade e revitaliza o cinema independente
'Suk Suk' investe na representatividade e revitaliza o cinema independente   Foto: Divulgação

Dirigido por Ray Yeung, cineasta e dramaturgo que retrata a comunidade LGBTQIA+ em países asiáticos, o longa Suk Suk — Um Amor em Segredo traz frescor aos filmes sobre amor na terceira idade. Independente, o longa de Yeung sobre dois homens redescobrindo a si mesmos pela paixão estreou em 60 cinemas de Hong Kong, iniciando um fenômeno que o levou a múltiplas indicações e prêmios pela Ásia.


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Na trama, Pak, um taxista de 70 anos que recusa a se aposentar, conhece Hoi, um pai solo aposentado de 65, em um passeio pelo parque que mudará suas vidas. Pressionados por anos nos moldes de uma sociedade conservadora, o encontro entre os dois desperta questionamentos sobre tudo que consideravam certo — o que configura um lar, quais as relações morais que criamos com a família, trabalho, religião e muito mais.


A visão escolhida pelo diretor busca combater preconceitos, especialmente aqueles construídos na representação midiática de idosos. Suk Suk evita discursos melancólicos sobre morte, luto, maturidade e afins, criando histórias e perspectivas dignas e palpáveis aos seus personagens, sem ceder suas caracterizações aos estigmas e clichês.


Monopólio ocidental

O amor retratado pela grande mídia — especialmente no audiovisual — é caracterizado como um sentimento jovem, associado à beleza, aventura e descobertas.


Vale destacar também o monopólio ocidental, cujo ideal de beleza condiciona o novo como desejável em detrimento do antigo, que é admirável, porém ultrapassado. Contrariando esse status quo, Suk Suk investiga os sentimentos humanos em sua totalidade, ampliando a observação sobre o universo queer. A direção curte o inesperado, permeando um mundo de possibilidades enquanto os protagonistas seguem caminhos de autodescoberta, liberdade e sensibilidade.


Preconceitos

Nas palavras do próprio diretor, “ainda queremos ser desejados, ter necessidades sexuais e vaidade” ao chegarmos à terceira idade.


Com essa premissa, Yeung fortalece seus protagonistas enquanto seres tridimensionais, que possuem desejos, sonhos e necessidades, camadas comumente negligenciadas em boa parte dos filmes com protagonistas idosos. Suas ações não são vitimizadas ou diminuídas pela idade, mas trata com carinho a realização afetiva e seus desdobramentos.


O enfoque em um grupo de ativistas queer que planejam abrir uma casa de repouso gay demonstra a preocupação do longa com lugar de fala e representatividade. Como chefe do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Hong Kong, Yeung cria uma ótima atmosfera de diálogo, desenvolvendo seus personagens por meio da cumplicidade e reciprocidade com o público.


A delicadeza expressa nos toques e cenários retrata com responsabilidade as questões do corpo, conflitos e incertezas enfrentados pelo casal. Imersos em uma atmosfera de proibição, que está tanto na repressão da sexualidade quanto no fato de Pak ser casado, a produção trabalha com dicotomias estéticas, entre cores, luzes e movimentos opostos para cada versão de “realidade” dos dois.


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