Streamers da Baixada Santista comentam sonhos e desafios do machismo na profissão

As questões financeiras e o machismo evidente no universo gamer são dificuldades da profissão

Por: Bia Viana  -  23/07/21  -  10:25
Atualizado em 23/07/21 - 10:35
 Quatro mulheres da Baixada Santista comentam os desafios da profissionalização no mercado de streaming
Quatro mulheres da Baixada Santista comentam os desafios da profissionalização no mercado de streaming   Foto: Reprodução/Redes Sociais

Mesmo representando 47% do público gamer com adesão crescente no Brasil, segundo pesquisa realizada pela Brasil Game Show (BGS) junto ao Instituto Datafolha, as mulheres ainda enfrentam desafios no mercado gamer. Focando nas transmissões de jogos, que tiveram audiências aumentadas devido à procura por lives na pandemia, muitas streamers da Baixada Santista aproveitaram o momento para investir na profissionalização de suas transmissões e se dedicar aos jogos que amam.


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Para entender as motivações que levam essas mulheres a investirem na profissão e conhecer o cenário gamer feminino na Baixada, a reportagem conversou com streamers iniciantes e profissionais que levam suas habilidades de jogo para a web e investem em canais de entretenimento. Além disso, as quatro mulheres também comentam como o machismo impacta em seu trabalho e como lidam com esses desafios. Conheça suas histórias.


 Isabela Garcia é streamer na Twitch com o game Tibia, e deseja crescer na profissão
Isabela Garcia é streamer na Twitch com o game Tibia, e deseja crescer na profissão   Foto: Acervo Pessoal

Isa Garcia, @shar_acter


A santista Isabela Souza Garcia, de 25 anos, conseguiu melhorar seu notebook durante a pandemia e dar início ao sonho de longa data. Pedagoga e fotógrafa, ela se divide entre suas paixões e escolheu o Tibia como jogo para transmitir. “É o jogo que tenho mais contato e habilidade, jogo há quase 10 anos, e meus companheiros sempre incentivaram bastante. Já tinha praticamente tudo, só precisei comprar mais iluminação, por enquanto”.


Como é um jogo pouco conhecido, Isa tem como maior desafio hoje a conquista de seguidores, além de conciliar as lives com seu trabalho como professora em uma escola primária de São Vicente. “Gosto dessa troca entre o streamer e os viewers, que as pessoas assistam meu jogo e possam aprender algo comigo. Tenho mais de 2.000 seguidores na Twitch, com lives de segunda à segunda, a partir das 21h30”. Ela chegou a faturar com a plataforma depois de atingir algumas metas, mas ainda não é uma forma de sustento.


Para a pedagoga, a hegemonia masculina complica o desenvolvimento das streamers mulheres no meio. “Ainda tem muitos caras que se sentem ‘ofendidos’ por terem mulheres jogando melhor que eles. Tem também os que idolatram a menina, oferecem de tudo achando que vão ‘conquistar’. Muitas vezes já chegaram na minha live perguntando se queria namorar com eles. Percebo que os homens não gostam muito das mulheres que rejeitam essas atitudes e passam a criticar mais ainda”, comenta.


A jogadora destaca outras meninas que fazem lives de Tibia, para quem quiser conhecer ou se aprofundar no jogo. Entre elas, CharOnline, Dressah_ e Vovó Tibiana, todas disponíveis em plataformas como Twitch e YouTube.


 Victória foi do streaming em seu perfil às transmissões de Rainbow Six na Ubisoft Brasil
Victória foi do streaming em seu perfil às transmissões de Rainbow Six na Ubisoft Brasil   Foto: Léo Sang

Victória de Sá, @viicrodrigues


Aos 26 anos, a santista Victória de Sá e Santos Rodrigues é jornalista, caster e comentarista de e-sports (esportes digitais) na Ubisoft Brasil. Mesmo que atualmente não faça tantas streams sozinhas, ela participa de transmissões de jogos para a empresa. “Comecei no mundo dos jogos eletrônicos em 2017, como jornalista cobrindo os campeonatos. Quando conheci o Rainbow Six e comecei a trabalhar com o jogo como comentarista, comecei a me interessar em streaming”.


Apaixonada por games desde pequena, ela entrou no streaming em 2018 como caster de Rainbow Six. Além de transmitir campeonatos amadores, também começou as lives em seu canal. “O processo foi bem tranquilo. Tive ajuda de alguns companheiros na época para configurar mais a parte técnica”. Focando em fortalecer sua marca pessoal nas redes e também trabalhar com as transmissões pela Ubisoft, que são sua principal fonte de renda, ela pretende voltar às lives futuramente.


Segundo Victória, as situações difíceis devido ao machismo não estão só nos games, mas em todas as profissões. “Obviamente vemos um reflexo disso não só na parte de streaming, porém, aqui a exposição é maior, então temos essa impressão. De uns tempos para cá as coisas vem melhorando bastante por conta da representatividade e pelo aumento no número de mulheres streamers, mas ainda assim, infelizmente, vemos episódios machistas”.


Ela destaca algumas situações frequentes no meio, que infelizmente, acha serem enfrentadas pela “maioria das mulheres”. “Já escutei gracinhas principalmente quando estou nas transmissões dos jogos, como ‘mulher não manja de jogo’, entre outros, mas me considero privilegiada porque sei que muitas mulheres passam por coisas terríveis”, desabafa.


Com experiência na área e um caminho de sucesso, Victória deixa uma palavra amiga para as mulheres que sonham com a entrada nesse mercado. “Meu principal conselho é não desistir. Hoje tem muita gente fazendo live ou querendo trabalhar com e-sports, é difícil se destacar. Tem que ter muita persistência”, finaliza.


 Aline Figueiredo, a Maka, é streamer na Twitch e conta com mais de 130 mil seguidores nas redes
Aline Figueiredo, a Maka, é streamer na Twitch e conta com mais de 130 mil seguidores nas redes   Foto: Acervo Pessoal

Maka, @eaimaka


Aline Figueiredo, mais conhecida como Maka, é streamer e influenciadora digital. A guarujaense de 28 anos conseguiu realizar seu sonho em 2019, focando no League of Legends, que tem um amplo mercado de stream. “O cenário de LoL já era bem grande, então eu tinha muita vontade de streamar o jogo. Não tinha um PC bom ou uma internet que pudesse suportar lives, então o sonho teve que ficar guardadinho por um bom tempo”.


Completando dois anos de streams em março, ela joga desde os quatro anos, e sempre nutriu seu amor pelo universo. “Desde o primeiro dia fui determinada a fazer com que aquilo se tornasse a minha profissão, então sempre tratei como trabalho. A parte mais difícil é produzir um conteúdo que se destaque dos demais, para poder atrair a galera pra sua live”.


O compromisso atual não é só de LoL, mas também com jogos de terror e GTA VRP. “Hoje em dia toda a minha renda vem de lives, mas demorou muito para acontecer. É algo que vai acontecendo gradualmente”. Em seu canal na Twitch, conta com 243 mil seguidores e uma média de 1.800 pessoas por live.


Mesmo com o sucesso, Maka acredita que esse ainda é um universo que sofre com o machismo. “Ao longo dos tempos vem diminuindo consideravelmente, mas ainda é sim um universo machista. Nunca aconteceu [comigo] durante as transmissões, mas nas redes sociais costuma acontecer”, reforça. A influencer também ressalta a importância de não se deixar abalar com esses comentários negativos. “É um caminho difícil, mas extremamente gratificante”.


 Rafaella de Oliveira descobriu sua paixão pelos games enquanto trabalhou em uma loja
Rafaella de Oliveira descobriu sua paixão pelos games enquanto trabalhou em uma loja   Foto: Reprodução/Instagram

Meew Moon, @rafsoc


Rafaella de Oliveira, de 23 anos, é streamer na Twitch no canal Meew Moon. Apaixonada por lives desde 2016, foi quando começou a trabalhar em uma loja de video games que se apaixonou pelo streaming. “Meu passatempo era ver lives e testar os jogos que chegavam na loja, isso foi aumentando o amor por games e senti que era isso que queria fazer da minha vida”. Na época, não conseguia rodar o League of Legends em seu computador, mas acabou pegando um Playstation 4 e “viciando” em Fortnite.


As lives no PS4 começaram em 2018, sendo a organização dessa produção seu maior desafio. “Eu fazia tudo sozinha, pois ninguém colocava muita fé que daria certo. Hoje em dia, tenho ajudas incríveis, 25 mil seguidores e uma média por live em torno de 90 para cima”. No momento, seu principal objetivo é pegar parceria com a Twitch, além de criar conteúdo inédito para o YouTube.


Com lives que duram 10 horas, de segunda a sexta, sempre a partir da meia noite, Rafa conta com a participação ativa de seus seguidores para montar a programação. Com metas diárias e muita inovação, consegue retorno financeiro, o que inspira ainda mais o desenrolar do sonho.


Ela destaca o crescimento de streamers mulheres na Baixada, mas também lamenta a frequência desnecessária de comentários machistas em suas redes. “Infelizmente o machismo está por toda parte, e acho difícil ficar no passado. Com frequência, escuto que ‘só sou grande nas lives porque sou mulher’, ou uns comentários bem ofensivos e machistas. Isso é um pouco desmotivador, mas não podemos deixar que interfira em nosso trabalho de jeito nenhum”.


O sonho de seguir na profissão continua, mesmo com os desafios, e Rafaella destaca que quem quiser começar no streaming precisa ter paciência. “Não é fácil no começo e ter que lidar com uns tipos de comentários é complicado. A dica para alcançar o sucesso é ter muita perseverança e ser você mesma”.


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