Política dá o tom no Festival de Berlim, com filme iraniano

Longa 'Não há Nenhum Mal' venceu o Urso de Ouro

Por: Rui Martins - De Berlim & Especial para A Tribuna &  -  03/03/20  -  19:49
Elenco de produção iraniana, de Mohammad Rasoulof, recebeu o prêmio no último sábado (29)
Elenco de produção iraniana, de Mohammad Rasoulof, recebeu o prêmio no último sábado (29)   Foto: Ronald Witteck/EPA

O Festival de Cinema de Berlim, encerrado no último sábado (29), na Alemanha, confirmou sua natureza política. O Urso de Ouro concedido ao filme iraniano Não há Nenhum Mal, de Mohammad Rasoulof, ratificou essa preocupação.


O filme brasileiro Todos os Mortos poderia ser uma opção, se não houvesse o filme iraniano. Porém, não obteve a penetração esperada junto à crítica e nem junto ao júri, que lhe teria dado algum prêmio.
Teremos de nos habituar à nova realidade: com as atuais dificuldades criadas aos produtores de filmes haverá, a partir de agora, uma diminuição de títulos brasileiros nos festivais. Mas também é verdade que, a exemplo do que aconteceu durante a ditadura militar, os filmes brasileiros terão apoio no exterior, seja dos festivais, como de distribuidores e da imprensa.


O balanço final desta Berlinale é magro para o Brasil: dos 18 filmes levados às diversas mostras, só um foi premiado: Meu Nome é Bagdá, da cineasta paulistana Caru Alves de Souza, na mostra Geração 14Mais. Porém, os filmes brasileiros tiveram bom público.


Foi o caso do filme de adolescentes, também na mostra Geração 14Mais, Alice Júnior, onde houve standing ovation, no cine Urania, por mais de cinco minutos. Dirigido por Gil Baroni e já com sucesso no Brasil, tem no papel principal Anne Celestino Motta, a vida e alma do filme, no papel da trans Alice, na verdade Jean Genet no registro civil.


O amor na classe operária


Um filme francês não premiado, me chamou bastante a atenção: foi o Sal das Lágrimas, do realizador Philippe Garrel. Histórias de amor em preto e branco de um jovem do interior da França, Luc, vivido por Logann Antuofermo, um novo ator que surge.


A importância desse filme é a de mostrar um quadro operário. Luc é filho de um carpinteiro que deseja se aperfeiçoar na marcenaria e vai a Paris para um curso de aperfeiçoamento. Mostra a vida do pessoal que trabalha sem as lantejoulas dos filmes americanos, nos quais amor vem geralmente misturado com personagens de classe média para cima.


Um filme romântico, no estilo anos 1950/1960, no estilo de filmes de Godard e Truffaut, incluindo mesmo o triângulo amoroso consentido. A época não está para o romantismo e muito menos para amores entre operários. Passou despercebido.


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