O verbo atual de Carolina Maria de Jesus
Primeira escritora negra do Brasil ganha mostra na Capital
A exposição
Não obstante o sucesso estrondoso de Carolina nos anos 1960, agora renovado, o que a exposição faz é construir sobre essa obra um olhar contemporâneo ao redor das ausências que ainda cercam a história de Carolina. A mostra tem entrada gratuita com agendamento prévio pelo site do IMS.
Para um dos curadores da exposição, Hélio Menezes, a mostra não olha para Carolina com um olhar fetichista, especialmente em relação aos manuscritos e itens de sua trajetória – que são de fundamental importância –, mas que não dão conta da diversidade e da magnitude de Carolina justamente pelo conteúdo plural de sua produção e do seu impacto na cultura popular brasileira.
O processo de pesquisa para a mostra começou com o contato com as cerca de 6 mil páginas escritas por Carolina, hoje armazenadas no acervo de Sacramento, Minas Gerais, sua cidade natal.
Logo no início, Menezes e a cocuradora Raquel Barreto se viram diante de um impasse: fazer uma exposição sobre o livro Quarto de Despejo – que em 2020, para quando a exposição era prevista antes da pandemia, completou 60 anos de publicação – ou sobre a autora do livro, que publicou outros volumes em vida, outros póstumos, e que tem cerca de 80% de sua produção ainda inédita.
No primeiro caso, as pessoas esperariam uma exposição sobre os “manuscritos, por uma estética de favela e pobreza”, explica Hélio. O segundo caso, porém, enriqueceria a mostra abrindo campos para pesquisas ulteriores a partir de uma visão mais complexa e mais plural sobre as visões da artista.
“Ficou claro que seria importante entendê-la não apenas como escritora, mas também como multiartista, sendo ela cantora, compositora, dramaturga, tendo incursionado em produções têxteis, ter realizado apresentações performáticas, sobretudo em espaços circenses em que ela se apresentava em trajes elaborados por ela mesma”, diz o curador. “Nos vimos diante de uma figura muito mais complexa do que uma autora de um best-seller superimportante”.
Inteligência excepcional
As obras então começam a dialogar com questões que Carolina levantava desde a primeira metade do século, mas que encontram ecos contemporâneos, como direito à cidade, à educação, relações paritárias e mais complexas de gênero.
Quem foi
Nascida em Sacramento, Minas Gerais, em 1914, Carolina Maria