Neguinho da Beija-Flor tem nome e sobrenome no samba

Em conversa com A Tribuna, cantor e compositor relembra a carreira e a vida, além dos pontos altos na avenida

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  31/03/22  -  09:39
De riso fácil, Neguinho da Beija-Flor vai desfiando suas histórias de mais de 50 anos de Carnavais
De riso fácil, Neguinho da Beija-Flor vai desfiando suas histórias de mais de 50 anos de Carnavais   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A quem começou a carreira de cantor ganhando um concurso aos 10 anos, que lhe rendeu como prêmio uma lata de goiabada, até que o então Luiz Antônio Feliciano Marcondes se saiu (muito) bem. Com 28 álbuns, incontáveis prêmios e honrarias, dentro e fora do samba, quem pede passagem ao Luiz da infância humilde, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro, é Neguinho da Beija-Flor.


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O cantor, compositor e maior puxador de samba da passarela do samba carioca esteve em Santos – ele é o embaixador do nosso Carnaval – e visitou A Tribuna. Aliás, os desfiles em tempos de pandemia são uma preocupação do músico. Ao contrário de Rio e São Paulo, que marcaram o show das escolas de samba para abril, Santos cancelou os desfiles. “É terrível para a gente, que vive de Carnaval, mas temos que obedecer às determinações: saúde em primeiro lugar”, resume.


Aliás, viver de Carnaval é possível – Neguinho garante e dá provas. “Eu vivo do samba. Em abril, embarco para os Estados Unidos, vou fazer uma turnês de 40 dias. Depois, vou para a Europa, fico até meados de julho”. Não é para menos: já são 47 anos de carnavais, só na Beija-Flor.


Música na família
Filho de peixe, peixinho é – ou quase isso. O pai de Neguinho era músico, tocava trompete. Chegou a trabalhar na famosa Orquestra Tabajara, fundada em 1934 e até hoje em atividade. Um pouco distante do samba da avenida a que o filho viria se consagrar, talvez mesmo por causa do pai ser um trompetista.


“Comecei a tocar pistão (trompete) quando era criança, mas minha mãe brigava com meu pai pra não me deixar tocar, pois quem toca instrumento de sopro fica com uma marca feia nos lábios, um calo”, recorda.


Caiu no samba, literalmente. Primeiro, apenas como compositor, apesar de não tocar nenhum instrumento. Nesse aspecto, a tecnologia veio ajudar a inspiração. “Vai nascendo, a gente vai gravando no celular; antigamente, tinha que decorar mesmo”, sorri.


Aos 20 anos, por acaso, ocorreu a estreia como puxador de samba, mas no bloco carnavalesco Leão de Iguaçu. No dia da apresentação, o cantor oficial chegou “com umas e outras na ideia”, sem condição de cantar nada, como recorda Neguinho, aos risos.


Uma diretora do bloco olhou para um e outro até se decidir pelo autor do samba: “’Vai lá você’, ela me disse. Eu não gostava da minha voz, quis sair pela tangente: ‘Mas minha voz é rouca’. E ela: ‘Louis Armstrong também tem voz rouca’”.


Beija-flor
Não é à toa que se incorpora o nome de uma escola de samba no próprio nome que consta na certidão de nascimento: hoje, ele se chama oficialmente Luiz Antônio Feliciano Neguinho da Beija-Flor Marcondes.


Essa saga na escola com nome de pássaro começou em 1975, quando Abraão David, patrono da agremiação, pediu ao compositor histórico da escola, Cabana, que chamasse Neguinho para substituir Bira Quininho, até então puxador de samba oficial, que havia morrido pouco tempo antes. Neguinho foi e chegou com tudo: competiu, ganhou o samba (Sonhar com Rei Dá Leão), puxou a escola na avenida e a Beija-Flor foi campeã do Carnaval de 1976.


“Quebrou a hegemonia das quatro então consideradas grandes, Mangueira, Portela, Salgueiro e Império Serrano”. Esse foi, aliás, um dos momentos mais marcantes nesses 51 anos de Carnaval. O outro foi em 2009, quando cantou na avenida acompanhado dos médicos que o haviam operado meses antes.


“Estava em quimioterapia, curando um câncer gravíssimo, quase em metástase. E eu casei na avenida”, relembra. Era 23 de fevereiro de 2009, pouco antes de entrar no sambódromo. A mulher de Neguinho é Elaine Reis.


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