Natiruts lança disco colaborativo com filho de Bob Marley e vários artistas
Em entrevista para A Tribuna, a banda comentou sobre suas raízes no reggae e a mescla de influências
Em 25 anos de estrada, o Natiruts nunca duvidou do poder de um sorriso. Por isso, com o lançamento de Good Vibration Vol.1, não faria diferente. Em um disco colaborativo, que reúne oito grandes nomes do reggae e pop do Brasil e do mundo, a banda brasiliense revitaliza o gênero que os consagrou com novos elementos e um ar de inovação.
Enquanto uma das bandas pioneiras do gênero no Brasil, segue navegando pelas raízes do reggae e encontra ancestralidade no gênero com a participação de Ziggy Marley, filho de Bob Marley, na faixa América Vibra. Para o vocalista Alexandre Carlo, o toque de Ziggy trouxe novos horizontes. “Essa canção foi gravada em 2019 para um projeto ao vivo que sairia em 2020, mas não foi possível devido à pandemia. Decidimos fazer um disco de inéditas e chamar gente que curtimos, e através da Sony Latin, sugeri tentarmos o Ziggy. Foi muito legal, não só pela presença dele e o legado do Bob Marley, mas também pelo seu trabalho, que é muito interessante. Para nós, como banda de reggae, serve como uma legitimação do trabalho, com o filho do Bob Marley reconhecendo essa mescla que fizemos com a música brasileira”, diz.
Na mesma faixa, também participa a atriz mexicana de origem indígena Yalitza Aparício, que fez sua estreia nos cinemas em Roma, no premiado longa de Alfonso Cuarón.
Uma nova geração de artistas pop completa o álbum. Entre os brasileiros, a banda Melim e a cantora Iza, que cruzaram seus caminhos com o Natiruts muito antes do disco. “A gente coloca no nosso radar de composição esses artistas que, em algum momento, tornaram pública a admiração ou influência do Natiruts na música deles. Quando surgiu a oportunidade de ter canções boas para eles, fizemos questão de convidá-los”, afirma o músico.
Este é o álbum mais participativo do grupo, o que exalta sua multiplicidade musical e relembra a importância da coletividade em tempos de isolamento. Entre os destaques está Reggae Amor, a única gravação feita presencialmente, pouco antes da pandemia. “Tivemos o prazer de ter o Carlinhos Brown, que veio até Brasília e passou um dia inteiro com a gente no estúdio. Ele é uma pessoa ímpar”, conta o baixista Luís Maurício.
Outra faixa em destaque é Ela, composta pelo artista baiano Djaluz. O “cartão de visitas” do disco ganhou até clipe, incorporando a atriz Débora Nascimento à musa com pele cor de canela entoada nos versos. “Senti um pouco de Natiruts na canção de Djaluz na harmonia e na melodia”, comenta Carlo, que se encantou com a música desde o começo.
Pandemia
Mantendo o otimismo vital da banda, o vocalista revela como o Natiruts sentiu a necessidade de lançar seu disco atualmente. “Por mais que seja um momento delicado, os fãs não esperavam um disco falando das mazelas do governo. Eles queriam justamente uma mensagem de acalento, que muitos chamam de saúde mental, apesar de estarmos longe de nos considerarmos psicólogos (risos). A música tem esse poder. A gente pensou em segurar o disco para quando todos estivessem vacinados, mas foi justamente na intenção de lançar agora e tentar fazer nossa parte como cidadãos, porque é o melhor que podemos fazer enquanto Natiruts”.
Para Luís Maurício, a falta de público é uma lacuna enorme, mas isso não desmotivou o lançamento. “Estamos morrendo de saudade do palco, dos artistas, daquela aglomeração boa. A luta é difícil. Temos um desgoverno que faz tudo para atrapalhar, mas temos esperança de dias melhores. Estamos torcendo para a vacina chegar para todos”. Por enquanto, o saxofonista foi o único membro da banda a ser vacinado, mas todos os demais têm cumprido o isolamento e respeitado as medidas de prevenção.
Futuro e novos projetos
Nesses 25 anos, a banda nunca parou. Enquanto foram obrigados a “dar um tempo” do presencial, o Natiruts aproveitou para revisitar sua história e seguir pensando nos novos capítulos. Com mudanças de elenco durante sua existência, o grupo foi se reinventando e adaptando em suas novas formações. “Existe uma evolução natural da banda. Sempre fomos do ao vivo, da estrada, e isso nos deu uma bagagem muito grande, conhecendo novas culturas e ritmos. Foi um processo que colaborou bastante”, conta Maurício.
As múltiplas referências musicais, segundo o baixista, “estão no DNA do Natiruts”. Em suas celebrações multiculturais, a banda segue se redescobrindo em novos sons, melodias e grooves. “Sempre procuramos lançar um disco diferente do outro, incorporar outros estilos e, com nossas viagens, ir conhecendo novas culturas e novos ritmos. Para nós sempre foi um diferencial. O Natiruts sempre se posicionou bem aberto para novas vertentes e estilos, e isso criou nossa identidade. Hoje você identifica nosso som com poucos acordes, e isso veio naturalmente”.
O próximo passo é o volume dois de Good Vibration, que já está encaminhado com metade das canções prontas. Segundo Carlo, o disco também será bastante colaborativo e deve ser lançado em maio de 2022, exatamente um ano após o primeiro. Também lançarão um documentário para mostrar a origem do Natiruts, com “novas histórias, novos acontecimentos e a idealização de formar uma banda de reggae com influências brasileiras”.
Sempre presentes na Baixada Santista, o Natiruts tinha show marcado em 13 de março de 2020 em Santos, o primeiro a ser cancelado com o início da pandemia. Segundo o vocalista, a cidade também marcou a história da banda e pode ter presença no filme. “A gente tocava muito em Santos e Guarujá no nosso início de carreira, e no início dos anos 2000 tocamos em muitas festinhas por aí. Fez parte da nossa construção enquanto músicos, e é um lugar que sempre nos recebeu muito bem”. Luís ainda agradeceu o público do litoral paulista deixando uma pista do que está por vir: “a expectativa é estarmos por aí em breve”. Good Vibration Vol. 1 está disponível em todas as plataformas digitais.
