Mostra Internacional de SP mescla inovação e tradição com filmes premiados

Conheça três filmes que se destacam na Mostra SP, todos disponíveis na plataforma Mostra Play

Por: Bia Viana  -  27/10/21  -  08:58
Atualizado em 27/10/21 - 14:28
 A Garota e a Aranha tem enfoque no olhar artístico, com dedicação ao estímulo visual e sensorial
A Garota e a Aranha tem enfoque no olhar artístico, com dedicação ao estímulo visual e sensorial   Foto: Divulgação

Entre diretores estreantes e filmes que prometem nas principais premiações do cinema, a 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo navega entre o inovador e a vanguarda com histórias que viajam o mundo. Várias realidades entram em perspectiva, expondo tanto na programação virtual como nas salas de cinema de São Paulo um pouco da diversidade na sétima arte contemporânea e seus múltiplos espaços de diálogo. Seguindo nosso especial de cobertura do Festival, confira alguns destaques disponíveis na plataforma Mostra Play.


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A Garota e a Aranha (2021), de Ramon Zürcher e Silvan Zürcher

Por meio de uma breve linha do tempo, acompanhamos a história de Lisa (Liliane Amuat) e Mara (Henriette Confurius), colegas de quarto que aparentam ter algum tipo de relacionamento íntimo, mas que estão sendo separadas pela mudança de Lisa. Várias personagens surgem esporadicamente ao longo da trama, que se estende pelas relações entre um pequeno grupo de moradores e visitantes de um prédio. Há uma tensão sexual constante no ar, que permeia toda a obra sem uma história definida.


Contemplativo, o filme tem enfoque no olhar artístico, tirando a ênfase da narrativa e aplicando sua dedicação ao estímulo visual e sensorial provocado em suas experimentações. A mística do filme está nos diálogos literários, que contribuem com sua estética surreal e pouco linear. O foco está nos conflitos nutridos entre as personagens, que vivem mascarando seus desejos sob falsas pretensões. A teia de encontros e desencontros se forma entre frivolidades, sem grandes desfechos, mas deixando no ar a banalidade das relações sociais.


 'Pedregulhos' faz um retrato social em uma comunidade indiana
'Pedregulhos' faz um retrato social em uma comunidade indiana   Foto: Divulgação

Pedregulhos (2021), de P.S. Vinothraj

Escolhido pela Índia para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional, o filme do estreante P.S. Vinothraj evidencia uma direção talentosa e inovadora. O longa acompanha dois protagonistas, pai e filho, em uma caminhada turbulenta até sua casa. Além da exposição de uma dura realidade, Pedregulhos explora várias camadas existencialistas, desde a inocência da infância até as evidências do patriarcado em várias sociedades.


O distanciamento literal e figurativo entre os dois é ilustrado por sequências no deserto árido, desafiador, que exige o máximo de seus personagens. O homem tem um temperamento violento, enquanto o menino é doce e paciente; os dois seguem um atrás do outro nesse caminho árduo, uma parceria que não supre suas necessidades, mas os desafia tanto quanto o ambiente em que vivem.


A observação da dupla vai além do eixo familiar, explorando também percepções sobre relações de opressão. A força feminina é colocada em evidência em diferentes contextos, mesmo que paralelos aos personagens principais. Em todas as cenas protagonizadas por mulheres — seja a esposa do protagonista, um grupo feminino caçando ratos no deserto ou uma mãe segurando seu bebê no ônibus —, percebemos a força, perseverança e confiança transmitida por elas. Seja em um ambiente inóspito ou em nosso círculo social, a mulher é uma força vital e necessária para a sobrevivência, cujo peso dos deveres é subjulgado pelos homens a todo momento — e no longa, é discutida em meio aos papéis sociais e exigências do cotidiano.


 'O Cão Que Não Se Cala' traça paralelos entre a indiferença do homem e teorias do absurdo
'O Cão Que Não Se Cala' traça paralelos entre a indiferença do homem e teorias do absurdo   Foto: Divulgação

O Cão Que Não se Cala (2021), de Ana Katz

A indiferença do homem em relação ao mundo que o cerca é o fio condutor de O Cão Que Não Se Cala, uma jornada de crônicas feita pelo protagonista Sebastian (Daniel Katz). Apático, Sebas atravessa várias intempéries: o filme começa com seus vizinhos reclamando do choro de sua cachorra, que fica sozinha por muito tempo. Quando resolve levá-la para o trabalho, ele perde o emprego, e assim inicia um ciclo de bicos temporários. Os conflitos que se desencadeiam vão saltando no tempo, progressivamente, até um desfecho inesperado.


A montagem é conduzida por elipses invisíveis — longas passagens de tempo que são realizadas sem qualquer indício de mudança, simplesmente se desenrolando na tela como memórias desconexas. Ao todo, o longa produz a sensação de reproduzir lembranças específicas do personagem, porém, sem qualquer ênfase sentimental ou conflito.


Os acontecimentos simplesmente passam pelo protagonista, fluindo livremente sem provocar reações, como se o tempo não o afetasse ou provocasse quaisquer transformações. De repente, o longa migra do eixo dramático para a ficção científica. Usando a pandemia como breve apêndice temático, o filme explora, em seu terceiro ato, uma epidemia misteriosa que atinge o ar. Para manterem-se seguros, as pessoas precisam andar abaixo de 1,2 metros do chão ou com capacetes de oxigênio. As fragilidades nas relações, mesmo pouco aprofundadas, são o gancho da trama, e quando exploradas frente à doença, evidenciam ainda mais a indiferença nas relações sociais.


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