Morre Lizzie Bravo, a brasileira que gravou com os Beatles

Escritora e fotógrafa sofria de um problema cardíaco congênito

Por: Julinho Bittencourt  -  06/10/21  -  08:57
 Lizzie Bravo gravou a música Across The Universe, com os Beatles, no Abbey Road Studios.
Lizzie Bravo gravou a música Across The Universe, com os Beatles, no Abbey Road Studios.   Foto: Reprodução/Facebook

No dia 4 de fevereiro de 1968, a brasileira Lizzie Bravo estava, como de costume, na porta dos estúdios Abbey Road, em Londres, esperando dar a sorte de ver um dos Beatles. O que ocorreu foi ainda melhor e mais inesperado. O próprio Paul McCartney abriu a porta e perguntou: “algumas de vocês são capazes de alcançar notas altas?”. Ela e uma amiga se prontificaram.


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Alguns minutos depois, a magia se confirmava. Ela e a amiga Gayleen gravavam com os Beatles a canção Across The Universe, de Lennon. A gravação com a voz das duas foi lançada na época em um álbum beneficente pro World Wildlife Fund (WWF), depois em um álbum chamado Rarities, e mais tarde na coletânea Past Masters.


Lizzie Bravo, a protagonista desta fábula que a perseguiu durante toda a vida, morreu na última segunda-feira, aos 70 anos, em decorrência de um problema congênito no coração. Sua morte comoveu artistas e amigos. Lizzie, além de beatlemaníaca, autora do livro Do Rio a Abbey Road, em que conta esta e muitas outras histórias envolvendo os Beatles, foi fotógrafa e cantora de apoio de várias bandas e artistas brasileiros.


Certa vez, em 2010, tentei entrevistar a Lizzie sobre suas histórias tão conhecidas. Ela me respondeu: “Oi, Julinho. Sinto te informar que, no momento, tá humanamente impossível dar entrevistas. Tenho recebido vários pedidos, não só daqui, como de fora, mas se eu não me concentrar no meu livro, ele não vai ficar pronto nunca. Estou fazendo outro livro ao mesmo tempo, com fotos de músicos da MPB. Além disso, trabalho numa produtora musical, sou dona de casa, mãe, avó de adolescente, filha de mãe idosa, enfim, não tenho tempo pra nada neste momento. Assim que meu livro for pra gráfica, mais pro final do ano, eu entro em contato. Desculpe! Bjs”.


Voltamos a nos falar diversas vezes pelas redes, mas nunca fizemos a prometida entrevista que, vez ou outra, aparecia como uma dessas pendências da vida. Tudo bem. Tudo o que precisávamos saber a respeito da curiosa trajetória de Lizzie ela nunca se furtou a contar.


De acordo com o portal Beatles Brasil,“nas semanas seguintes ao seu aniversário de 70 anos, em 29 de maio, Lizzie passou a sentir dificuldades físicas, devido a um problema cardíaco congênito. Há duas semanas, passou 4 dias no CTI e havia, aparentemente, se recuperado”. De acordo com depoimento dela, “o médico me disse que vou ficar ótima novamente… claro, com um monte de remédios”, disse. “Porém”, prossegue o portal, “há uma semana, Lizzie teve que voltar ao hospital e, segundo a própria (que nos mantinhainformados via WhatsApp), tudo ia bem.Hoje (segunda-feira), infelizmente, veio a notícia inesperada: o coração da nossaquerida Lizzie parou”.


Em um lindo obituário, a cantora JoyceMoreno fez um resumo de sua vida: “Minhaamiga Lizzie Bravo foi muitas coisas: agarota fã dos Beatles, que foi para Londres aos 15 anos viver seu sonho – e acabou fazendo vocais de apoio em uma gravação deles; a “esperança de óculos” na canção Casa no Campo, quando foi casada com Zé Rodrix; amiga e assistente de artistas brasileiros como Milton Nascimento e Egberto Gismonti; fotógrafa maravilhosa, que registrou quase tudo da MPB nos anos 1970, 80 e 90; escritora, com o belo livro Do Rio a Abbey Road, baseado em seus diários de adolescente beatlemaníaca na ‘swinging London’ do final dos anos 1960, com fotos raríssimas feitas por ela… e muito mais. E foi também minha comadre, amiga querida, irmã de alma. RIP, querida Lizzie, qualquer dia a gente se vê”, encerrou.


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