Kiss se despede em altíssimo estilo durante show em São Paulo

Banda faz turnê de adeus e se apresenta com mesmo vigor do início da carreira

Por: Carlos Eduardo Oliveira, especial para A Tribuna  -  03/05/22  -  09:39
Grupo mostrou na Capital praticamente tudo o que se sabe sobre os shows do lendário quarteto de hard rock
Grupo mostrou na Capital praticamente tudo o que se sabe sobre os shows do lendário quarteto de hard rock   Foto: Ricardo Matsukawa/Mercury Concerts/Divulgação

Quando a nuvem de papel picado “choveu” sobre o público, já no bis, durante a execução do hino Rock and Roll All Nite, foi como – para exercitar mais um clichê da noite – sentir-se de alma lavada. Afinal, só o fato de estar ali era um privilégio, como coadjuvante de uma cena que, sinceramente, não achei que se repetiria tão cedo (ou que talvez nem se repetisse): um concerto de rock em estádio.


Próximo às 60 mil pessoas nas arquibancadas e na pista montada no gramado do Allianz Parque, em São Paulo, no último sábado (30), o número de usuários de máscaras de proteção sanitária era abissalmente desproporcional ao de maquiagens do grupo nas faces de crianças e adultos de todas as idades, no provável maior cosplay roqueiro do planeta.


E, em cena, o Kiss mostrou praticamente tudo o que se sabe sobre os shows do lendário quarteto norte-americano de hard rock, com quase cinco décadas de estrada: as máscaras e fantasias, as labaredas, tiros e explosões, as plataformas que sobem e descem, a tirolesa sobre o público, as coreografias ensaiadas, os truques de cuspir fogo e verter sangue pela boca, o inglês “the book is on the table” para se comunicar etc. E muito rock’n’roll.


Praticamente nada na apresentação é improvisado. A relação das músicas a serem executadas raramente sofre mudanças, por vezes ao longo de toda a turnê. Há, no entanto, um dado essencial que faz toda a diferença: a entrega dos músicos. Comandado com rédea curta por seu duo fundador, o baixista Gene Simmons, de 72 anos, e o guitarrista/vocalista Paul Stanley, 70, o Kiss lembra equipes de futebol que apostam na garra e correm os 90 minutos sem parar.


Notórios desde sempre por não serem virtuoses, é divertidíssimo, por exemplo, observar Simmons ainda “catando milho”, nas quatro cordas de seu instrumento. Mesmo sendo uma máquina bem azeitada de fazer dinheiro, a verdade roqueira, por assim dizer, do Kiss, de certa maneira ainda está lá. Musicalmente, o grupo ainda entrega o que promete, mesmo após todos os altos e baixos da carreira. E de todas as novas vertentes do rock enfrentadas no longo percurso até aqui.


Não faltam tributos a ídolos da banda, da vinheta de abertura com a execução completa de Rock’n’Roll, clássico do Led Zeppelin, à menção explícita ao The Who na versão quase “progressiva” de Lick It Up, um dos grandes momentos do show. Em duas horas de espetáculo, o repertório da End of The Road Tour (“turnê fim da estada”) mapeia praticamente hits de todas as muitas fases e álbuns seminais. Está tudo lá: Black Diamond, Love Gun, Do You Love Me, Beth, God of Thunder, Psycho Circus, Cold Gin, I Love It Loud, Heaven’s On Fire...


Integrantes de longa data do quarteto, o baterista Eric Singer e o guitarrista Tommy Thayer têm seus respectivos momentos de brilho, além de integrarem outro ingrediente positivo no som da banda: as boas harmonias vocais. Se o atirar da toalha prometido pelo Kiss com a atual turnê é verdadeiro ou não, só o tempo dirá. A dignidade musical, porém, segue intacta.


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