Jorge Amado tem vida pessoal contada por meio de livro de memórias escrito por sobrinho
Roberto Amado lança 'Jorge Amado, meu tio' a partir de convivência de mais de 40 anos com o escritor baiano e pesquisas
Com mais de 300 páginas e quase 90 fotografias inéditas – recolhidas de álbuns e caixas de familiares –, Roberto expõe a generosidade, diversão e genialidade de seu tio. As palavras são carinhosas e por hora críticas, descrevendo um perfil sincero com nuances que vão além do que uma biografia poderia revelar.
A forma com que Jorge tratava as crianças também era especial. Jorge ouvia as crianças e deixava que elas escolhessem os presentes que quisessem – os mais caros e legais, pontua Roberto.
Na juventude, Jorge Amado ainda era o melhor tio, em meio à forte conexão entre as famílias Amado e Ramos. Isso porque James, um dos irmãos de Jorge Amado, casou-se com Luiza Ramos, filha do renomado autor Graciliano Ramos. “Vivemos uma adolescência intensa com o tio Jorge, no meio da farra”.
Vida adulta
Dentre tantas histórias e lembranças, as mais especiais foram na vida adulta de Roberto. Foi uma situação que se prolongou até o fim da vida: ele ser tratado, pelo tio, como autor e confrade – palavra que os Amados costumavam usar.
Roberto começou a escrever cedo, aos 18 anos, e buscava ter autonomia literária. “Era importante pra mim me revelar sem estar vinculado ao meu tio”.
Além disso, tinha medo de que as coisas ficassem estranhas entre eles, por reconhecer ser uma pessoa crítica na época. “Fiquei um escritor chato. Lia muito e, jovem, era um pouco metido porque comecei a publicar muito cedo”.
Mas a situação foi outra. “Passamos a ter conversas que me fizeram, realmente, entender a dimensão dele”. Sem alarde, seguiram sendo parceiros ao longo dos anos – nunca deixando de responder uma carta ou telefonema do outro.
Jorge Amado morreu há 20 anos. Roberto explica que foi um processo lento, que ele e sua família acompanharam de perto. Próximo aos 80 anos, ‘tio Jorge’ passou a ter um problema de degeneração na retina – o mesmo problema visual que seu irmão, pai de Roberto, desenvolveu antes dos 40 anos, até ter que largar a Medicina aos 50, por não conseguir enxergar bem.
“O tio Jorge, felizmente, teve isso com mais de 80 anos, porque esse problema o impedia de ler e escrever, que era o que ele mais amava fazer”.
Jorge Amado já tinha mais de 60 anos de profissão e, como Roberto explica, acredita-se que ele entrou em uma espécie de depressão. “Temos muitos médicos na família, mas foi algo mal diagnosticado”. A situação se estendeu por uns cinco anos.
“Ele seguia ‘ordens’, como sentar à mesa quando era chamado. Mas ele não tinha mais aquela... sabe, ele sempre foi um cara brilhante, eufórico, que modificava o ambiente em que estava. E passou a ser ausente”, conta Roberto, com certa saudade na voz.
Mais declarações de Roberto Amado
“Embora ele seja uma figura extremamente polêmica, fuzilada dos dois lados, sempre soube administrar muito bem a fama”
“Ele e meu pai
“A família Amado é muito caracterizada por ser engajada socialmente. Sempre fomos de esquerda e sempre fomos todos socialistas. Meu pai, mãe e o tio Jorge eram do Partido Comunista. Não sei de onde isso veio, mas somos, e até hoje somos, oposição. É algo quase que inato. Hoje, me sinto razoavelmente seguro, mas passei