Guilherme Arantes molda uma alma espanhola em novo álbum

A Desordem dos Templários é fruto da estadia de um ano e meio do cantor e compositor no país ibérico

Por: Estadão Conteúdo  -  01/08/21  -  08:03
 Guilherme Arantes fala de uma certa ‘desilusão da alma’ sobre os rumos da música brasileira
Guilherme Arantes fala de uma certa ‘desilusão da alma’ sobre os rumos da música brasileira   Foto: Marcia Gonçalez/Divulgação

Foi circulando de carro pelas ruas da pequena Ávila, ao norte de Madri, que Guilherme Arantes, ao sintonizar a Rádio e Televisão Espanhola, ouviu a programação que tocava músicas barrocas e renascentistas.


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No fim de 2019, Guilherme partiu para esse município espanhol cercado de muralhas para estudar justamente os compositores de sonatas e tocatas. Aproveitou para fazer um giro pelo país. Foi a lugares como Pontevedra, na Galícia, terra dos antepassados de sua mulher, a baiana Márcia Gonzalez, e ficou encantado, segundo ele, pela riqueza espiritual e histórica da região.


Passou pela Andaluzia para visitar Algeciras, terra do guitarrista de flamenco Paco de Lucía (1947-2014), antigo companheiro de camarim em noites de sessão dupla na casa de espetáculos Canecão, no Rio.


“Pirei com a Espanha, com sua coisa sanguínea e as histórias que envolvem a fé cristã, o judaísmo e o islamismo. Aqui em Ávila as cruzadas passaram. Há a história de que Santiago de Compostela esteve por aqui. Eu fui me envolvendo com um sentimento. Não é apenas saber, fazer turismo ou ter fé. Não é nada ligado à Igreja. É uma forte conexão que se deu com esse lugar”, diz.


Esses temas estão no álbum de inéditas que Guilherme acabou de lançar – no dia em que completou 68 anos, 28 de julho –, batizado de A Desordem dos Templários. O álbum foi gravado por ele em um pequeno estúdio que montou em sua residência espanhola.


Depressão musical


A temporada no país – que era para ser de apenas quatro meses, mas já dura mais de um ano – também está ligada a um sentimento que Guilherme descreve como “desilusão da alma”. Uma espécie de estopim foi a canção Nossa Imensidão a Dois, que está no álbum. Feita sob encomenda para a cantora Wanderléa, que não a gravou, foi lançada em uma versão de voz e piano pelo próprio Guilherme, em 2018.


“Era para ser um hit. Tinha uma estrutura para tocar no rádio. Uma introdução de 15 segundos, a primeira parte de 1 minuto e entrava em um refrão de amor matador. Nada aconteceu”, conta. “Caí na real que a nossa geração não apita mais. Nossa referência de beleza musical não vale mais nada. O mundo virou um grande megafone, cheio de lugar de fala. Bob Dylan lança disco, ganha prêmio, mas não tem aquela força igual a Hurricane (canção de 1975) tocando no rádio direto. Pensei: ‘será que alguém se interessa por um cantor e seu piano com canções angustiadas?’. Foi uma depressão de carreira”.


Afetos


Guilherme diz que A Desordem dos Templários é um disco de afetos e o coloca em algo que diz perseguir ser: compositores como Francis Hime e Taiguara.


“Sucesso é para quem quer mais dinheiro e notoriedade. Eu já tive isso. O mundo foi generoso comigo. Aproveitei minha mocidade, minha aparência física para ser paixão das meninas pobres do Brasil (Guilherme se emociona). É fácil enganar as elaborações intelectuais, mas o povo você não engana”.


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