Fotógrafo de São Vicente retrata e resgata a pessoa negra na Baixada Santista

Em imagens registradas na rua, o vicentino Lucas Moura busca fortalecer a autoestima e ressaltar a beleza

Por: Beatriz Araujo  -  20/11/21  -  10:39
“Reconheci meu lugar de fala, por ser preto, gay, afeminado
“Reconheci meu lugar de fala, por ser preto, gay, afeminado   Foto: Reprodução/Instagram

A potência negra como protagonista. Esse princípio tem guiado o fotógrafo vicentino Lucas de Oliveira Araujo, conhecido como Moura, de 19 anos, em um projeto especial em alusão ao Dia da Consciência Negra. Buscando fortalecer a autoestima e ressaltar a beleza de pessoas negras, ele sai pelas ruas com uma câmera nas mãos e boas intenções, realizando mini-ensaios fotográficos com pessoas que encontra pelo caminho.


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Desde o início do mês, já foram mais de 30 pessoas abordadas. Todo seu trabalho é transposto nas redes sociais. No Instagram, ele está com mais de 46 mil seguidores e, no TikTok, mais de 400 mil (@mouramesmo). Além disso, registra vídeos com mais de um milhão de visualizações.


Surpresa
Sua paixão pela fotografia floresceu aos 15 anos de idade e, desde então, busca se consolidar na área. Ao longo desses quatro anos, ele conta que se deu conta de que precisava, por meio de seu trabalho, dar voz ao povo preto, que passa muitas vezes despercebido pela sociedade. Em meio a isso, com o projeto deste mês, ele segue surpreendendo pessoas nas ruas e as motivando a reconhecerem seu poder e beleza.


Uma das fotografadas em Santos foi Lua, de 1 ano e meio, filha de Serena Dantas Ferrandes, estudante de 17 anos. Ela já acompanhava o trabalho de Moura e, um dia, decidiu enviar uma mensagem pedindo apoio. Serena reconhece talento em sua filha e quer iniciá-la na carreira de modelo.


Lua, de apenas um ano, foi retratada por Lucas a pedido da mãe, que quer iniciá-la na carreira de modelo
Lua, de apenas um ano, foi retratada por Lucas a pedido da mãe, que quer iniciá-la na carreira de modelo   Foto: Lucas Moura

“A gente perde muitas oportunidades só por sermos negras, em muitas áreas da nossa vida”, ressalta, vendo no trabalho de Moura uma oportunidade de valorizar pessoas que muitas vezes não têm condição de pagar pelo serviço.


Marco
O trabalho de Moura não se limita à Baixada Santista. Nisso, uma das experiências do projeto que mais o marcou foi em São Paulo, ao retratar uma pessoa em situação de rua. “Ele tinha um olhar expressivo, que carregava muita sabedoria e dor ao mesmo tempo”, conta.


Após as fotos, Moura seguiu inquieto com a situação do homem, foi procurá-lo e o reencontrou, para ajudá-lo – intermediando corte de cabelos e doação de roupas. No reencontro, o senhor disse se chamar Edelson, de seus 50 anos, e ex-morador de Praia Grande. Fortalecendo sua dignidade, novas fotos foram feitas. “Deus me motiva a chegar nas pessoas certas pela fotografia”, sente Moura.


Racismo
Em meio a tantas ações positivas e um intenso reconhecimento nas redes, paradoxalmente, Moura foi alvo de ataques racistas e homofóbicos nas próprias redes sociais. Ao invés de se calar, o jovem publicou um vídeo expondo a situação e esse ódio foi sobreposto por amor e apoio. “Nunca vai ser fácil sofrer preconceito. Mas, com o tempo, desenvolvi uma resistência”.


Ele acredita que seu sucesso é um dos motivos que atraem esse discurso de ódio. “Por eu ser preto e ter visibilidade, pessoas sentem raiva disso. Mas a arte tem um peso enorme contra o preconceito. Quanto mais artistas pretos estiverem no topo, sendo valorizados, isso vai sendo subvertido”.


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