Filme (Des)embarque conta história da Rodoviária de Santos em narrativa poética

Codirigido por Wagner de Alcântara Aragão e Nicole Zadoretski Caroti, o filme homenageia os 50 anos da rodoviária

Por: Bia Viana  -  19/07/21  -  06:35
    Filme '(Des)embarque' resgata causos pessoais e memória histórica da Rodoviária de Santos
Filme '(Des)embarque' resgata causos pessoais e memória histórica da Rodoviária de Santos   Foto: Divulgação

A partir da contação de histórias, o documentário (Des)embarque entrelaça memórias de encontros e desencontros vividos na Rodoviária de Santos em seus mais de 50 anos de existência. Uma das mais antigas rodoviárias em operação no país, a história do local cruza com acontecimentos históricos e é protagonista do filme, concebido de forma criativa em meio à pandemia.


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Com codireção de Wagner de Alcântara Aragão e Nicole Zadoretski Caroti, o filme foca na trajetória de Jayme Rodrigues Estrella Júnior, o Cebola, que nomeia a Rodoviária de Santos desde 1996. Segundo Wagner, a ideia surgiu em meados de 2018, quando percebeu o meio século de vida da Rodoviária. "Eu estava na rodoviária, fazendo hora pra embarcar pra algum lugar, quando vi a placa de inauguração, de 1969, e aí calculei: 'eita, ano que vem (2019) serão 50 anos da Rodoviária'. E então sabendo mais ou menos do quanto a história de uma rodoviária ora se cruza, ora é reflexo da história de um lugar, veio a ideia de resgatar um pouco isso: as relações entre a história da rodoviária, a história da cidade e a história das pessoas da cidade".


‘Um filme pandêmico’


O argumento foi embasado especialmente por meio de pesquisas na hemeroteca digital da Biblioteca Nacional, que além da história da Rodoviária de Santos, também permitiu contextualizar acontecimentos históricos que se cruzam com sua memória. As entrevistas, que antes da pandemia foram pensadas presencialmente por meio de inscrição no Facult, acabaram sendo feitas com auxílio de ferramentais digitais.


"Todo o processo foi feito remotamente. Algumas fontes nos enviaram vídeos e áudios. Nosso material, basicamente, é remoto. Quando houve uma flexibilização na Baixada Santista, seguindo o Plano São Paulo, fizemos filmagens dentro da Rodoviária de Santos. Um filme pandêmico", explica Nicole.


Ao todo, pelo menos 50 histórias foram coletadas — entre os relatos pessoais e as memórias coletivas da cidade. Mesmo as que não entraram no filme foram aproveitadas no perfil do projeto no Instagram (@rodoviaria_historias). Segundo Nicole, diante da adaptação necessária, eles optaram por investir nas imagens de arquivo e na construção das histórias individuais. “Este é um filme cuja linha narrativa é conduzida por meio das vozes das pessoas. São raros os momentos em que aparece o rosto dos entrevistados. Resolvemos aproveitar essa diferença e destacar o material obtido na pesquisa de campo histórica”.


Além das histórias de Cebola e a de Cláudio e Lupércio Mussi, sobre o nascimento da TV Litoral, Wagner relembra dois causos marcantes para ele no filme. "O desenho da rodoviária sendo representado em carro alegórico do desfile da Brasil, no Carnaval de 1968, em referência a grandes obras em curso na cidade; e no passado, no terreno da rodoviária, [a história da] vila de chácaras, onde viveu o poeta Martins Fontes".


Para Nicole, o charme do documentário está nos relatos cotidianos. "A empolgação na espera do ônibus, nas conversas, no cheiro do café e dos salgados vindo da comedoria e, principalmente, na vontade de cair na estrada. A Rodoviária de Santos é a porta de entrada das viagens e, consequentemente, das melhores memórias afetivas! Cada fonte traz um relato emocionante e verdadeiro. Essas histórias são preciosas e únicas, como aquelas contadas de geração para geração".


Memórias pessoais na Rodoviária de Santos


Todos temos memórias dispersas nas idas e vindas da Rodoviária. Para Wagner, que gosta muito de viajar, só o ambiente já traz uma lembrança marcante. “A espera pelo desembarque de outras pessoas também é muito boa, prazerosa. Me lembro de a gente criança (eu, minhas irmãs, com minha mãe) esperando a chegada de minha tia Dedê, quando vinha de Guarulhos passar algum feriado em Santos”.


Nicole é apaixonada por viagens coletivas, e por isso, mesmo os passeios locais reservam importantes memórias. “Gosto de embarcar em algum ônibus para dar uma volta e acompanhar o ‘humor’ da praia de Santos. Algumas cenas me tocam bastante e, portanto, fotografo e produzo conteúdo em cima dos flagrantes. Sou uma fã assídua de conversar com os passageiros. Já cheguei, até mesmo, a criar uma amizade com pessoas que conheci dentro do transporte público! Este sentimento não é diferente na Rodoviária. Afinal, vejo poesia em todos por lá”, ilustra a diretora.


O filme ainda deve passar por mostras e festivais após sua semana de lançamento, para levar as memórias santistas para grandes viagens. (Des)embarque está disponível até 22 de julho na página do Cine Arte Posto 4 no Facebook e no canal Cultura Santos no Youtube. Uma cópia do filme ficará disponível no Museu da Imagem e do Som de Santos, e após a pandemia, pode reservar uma sessão presencial bem especial.


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