Especialista em terror, escritora de Santos ressalta empoderamento em thrillers

Em uma área composta majoritariamente por homens, Cláudia Lemes desbrava novos horizontes na literatura

Por: Nicole Zadorestki  -  15/11/21  -  08:26
Atualizado em 15/11/21 - 08:39
 Claudia Lemes escreve terror há mais de 20 anos
Claudia Lemes escreve terror há mais de 20 anos   Foto: Reprodução/Instagram

O que separa a pessoa talentosa da bem-sucedida é muito trabalho duro. A frase dita por Stephen King, rei da ficção científica e fantasia, reflete diretamente na carreira de Cláudia Lemes, escritora santista especializada em terror há 23 anos. As palavras que ambos escrevem no papel trazem para a realidade um mundo sobrenatural que, em muitos casos, pode confundir aqueles que os leem. Nesta entrevista, a escritora destaca o lançamento de suas últimas obras; Quando os Mortos Falam e A Segunda Morte de Suellen Rocha. Em uma área composta exclusivamente por homens, a escritora revela empoderamento de mulheres apaixonadas por thriller.


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Qual foi seu primeiro contato com a Literatura?

Minha mãe é professora de Literatura e lia muito. Minha avó também tinha o hábito. Na minha casa, havia diversos livros. A leitura era algo natural. Mas não era uma obrigação, ‘Olha, você tem que ler!’. Era como comer, tomar banho e dormir. Quando terminava uma obra, minha mãe me dava outra. Algo normal. Apenas adulta percebi que a leitura não era tão comum quanto eu imaginava. Meu pai e meu irmão não compartilhavam do mesmo hábito.


Quando publicou seu primeiro livro? Sobre o que ele abordava?

Publiquei meu primeiro livro em 2014. Se chama Eu vejo Kate, um thriller de assassinos em série. Estudei 15 anos sobre o assunto, porque sempre fui muito curiosa. Quando minha mãe morreu, fiquei deprimida, muito mal. Na época, lecionava em uma escola e pedi 7 dias de afastamento. Essa história saiu de mim de uma maneira intensa, sem planejamento. A terminei nesses dias. Nos seguintes, revisei o material. Resumindo: em menos de 10 dias o livro estava pronto e publicado de maneira independente, sem nenhuma pretensão. Quando meu marido leu, disse: ‘Nossa, você precisa colocar essa obra no mundo. As pessoas vão adorar ler’. Poucos meses depois, fui chamada pela Editora Empíreo para publicar. Foi minha entrada no mercado. É um livro bem diferente porque, embora fale de um assunto que está na moda, a escolha de voz narrativa é diversa. Conto através de três pontos de vista diferentes; uma escritora, um assassino, e o detetive que prendeu o criminoso. Em certos momentos, acaba sendo pesado, porque entra na psique dos personagens. A nossa mente é livre, sem limites. Os sentimentos deles são intensos. Até hoje, é um dos livros preferidos dos meus leitores.


Quando, ao longo da sua carreira, se interessou pelo terror?

Desde sempre. As minhas primeiras lembranças de vida são de pesadelos que tinha na infância, além do quanto gostava de filmes de terror na televisão. Minha mãe me dava ‘livrinhos’ com histórias horripilantes. Eu gostava mais dos temas de fantasmas e bruxas do que Turma da Mônica.


Algum escritor te inspira? Quais características vocês têm semelhantes?

Muitos autores me inspiram, mas eu tenho cuidado quando falo ‘inspiram’ porque as pessoas pensam que os nossos estilos são parecidos… mas não são! Eu tentei algo diferente ao longo da minha carreira. A minha escrita faz meu próprio estilo, mas, obviamente, inspirada nos meus autores. Porque as histórias que eles contam me fizeram replicar sensações aos meus leitores. Emoções parecidas. Ainda assim, não tenho pretensão de replicar. Stephen King, por exemplo, tem uma pegada policial bem forte. Em Gelo Seco, inspiro o estilo mais brutal e violento.


Além de escrever suas produções autorais, concilia algum trabalho diário?

Sim! Sou tradutora há 23 anos. No começo do ano passado, abri uma editora. Queria dar um intervalo na minha carreira de autora e me dedicar a publicar outros livros de romance para a literatura nacional. Além disso, eu sou uma terrorista, né? O primeiro longa que escrevi vai estrear em breve. É um longa dirigido por Caco Souza. Um elenco legal, com Dandara Mariana e Simone Soares. Estou nessa carreira há muito tempo. Atualmente, estou com dois projetos de leitura crítica. Este foi meu ganha pão ao longo do ano. Sou autora de alguns cursos, o mais conhecido na plataforma Hotmart. Ah, e sou mãe de três filhos. Conciliar tudo isso é bem puxado.


Como vem sendo a produção na pandemia?

A pandemia foi bem estressante porque estava presa em casa. Fiquei dois anos, praticamente, com três filhos (adolescente, pré-adolescente e criança) trabalhando em casa. A escrita é fazer uso da criatividade. Não gosto de interrupções… então dá para ter uma ideia de como foi complicado todo mundo em casa. Mas isso não diminui meu ritmo. Não podia me dar ao luxo. Eu tenho prazos a cumprir, contratos. Então tive que me adaptar a trabalhar sem silêncio, sendo interrompida a cada 5 minutos. Ainda assim, escrevi quatro livros do zero. Agora, vou publicá-los, mas com pseudônimo. Escrevo antologias com contos, roteiros, coisas do tipo. Não foi uma produção fluida, foi bem caótica.


Do que trata o livro Quando os Mortos Falam?

É um livro em que pude juntar a parte policial com o horror. Fala sobre a solução de um crime, de uma maneira brasileira. Aí está um ponto crucial. Em produções gringas, você tem uma corrida para descobrir quem fez. Mas, no Brasil, é diferente. Eu quis abordar as dificuldades que a polícia enfrenta no País, algo que não vejo acontecer na maioria das obras. Os personagens são realistas. Essa característica foi, recentemente, elogiada por um instrutor da academia de polícia.


Como foi o lançamento na pandemia?

Eu tive dois lançamentos na pandemia e ambos foram diferentes. A Segunda Morte de Suellen Rocha, meu thriller anterior, não foi escrito na pandemia, mas lancei logo no começo dela. Tive, junto com a editora AVEC, que encontrar estratégias, já que a distribuição para livrarias sofreu muito nesse período. Focamos nas vendas on-line – fizemos uma pré-venda de sucesso usando o Catarse e passamos muito tempo nas redes sociais falando do livro. Não sentimos que as vendas sofreram com a pandemia – o livro vendeu e continua vendendo muito bem. Já o Quando os Mortos Falam foi lançado há alguns meses, bem no ‘final’ da pandemia. Sentimos que as mesmas estratégias usadas no lançamento do Suellen deram certo.


Recebeu alguma proposta ou pensa em transformar essa obra em audiovisual?

Eu já tenho alguns contatos com o audiovisual. Em A Segunda Morte de Suellen Rocha, alguns direitos autorais já foram vendidos. O pessoal da área se interessou muito. Agora, em Quando os Mortos Falam acho difícil porque o livro faz uma homenagem ao cinema. Isso pode ser um problema para licenciamento, direitos autorais, essas coisas. Apesar disso, há, sim, gente interessada. Mas vamos com cautela porque tudo no Brasil em relação ao cinema, à cultura, sempre é difícil. O processo é lento. Então temos que colocar o pé no chão quando negociamos este tipo de coisa.


Quais serão suas próximas produções?

Estou dando um intervalo. Eu já publiquei nove romances e não sei quan
tos contos. Fiz muita coisa como editora e tradutora. Desde o ano passado estou participando de cursos. Eu trabalho, em média, 15 horas por dia. Não paro no final de semana. Já estava difícil conciliar tudo. Ainda tenho abertura com a editora para publicar meus livros. Estou lançando livros com estilos parecidos aos meus, mas sem a minha assinatura. As obras de Cláudia vão entrar num hiato. Pretendo focar em todos os outros trabalhos que faço paralelamente, para não ficar sobrecarregada e, às vezes, entregar algo fora do meu padrão de qualidade. O público vai conferir alguns contos, mas, no momento, a minha produção solo vai entrar em um descanso sabático.


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