Escritora de Santos aborda a angústia no livro Três Línguas

Publicação será lançada neste sábado (27), em São Paulo

Por: Redação  -  27/05/22  -  09:27
Autora diz que sua inspiração se deve à poesia experimental portuguesa; obra é dividida em três partes, com narrativas e títulos distintos
Autora diz que sua inspiração se deve à poesia experimental portuguesa; obra é dividida em três partes, com narrativas e títulos distintos   Foto: Dilvulgação

A escritora santista Verônica Ramalho apresenta seu segundo livro, Três Línguas (Editora Córrego), amanhã, em São Paulo. A publicação usa a linguagem e suas possibilidades estruturais para explorar e enfrentar o sentimento de angústia.


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Para isso, ela brinca com o absurdo e o surreal por meio de experimentos linguísticos, como jogos de sons, palavras e significados, além de desafios sobre narração e leitura.


“A angústia é um material que tenho à mão e exige que eu a manipule. Seu padrão de manifestação sensorial em alguma medida determinou minhas particularidades de escrita: a pausa, o fluxo, a descontinuidade, de forma que a tratar narrativamente é um modo de aprofundar minha investigação”, afirma a escritora.


O evento de lançamento, amanhã, será realizado das 11h às 14h, na Casa das Rosas, na Avenida Paulista.


Deos, Antígona e Jardim
A obra é dividida em três partes, em que os poemas constroem narrativas distintas, com títulos próprios. A primeira, intitulada Deos, apresenta um ser disforme, que está sozinho em um espaço vasto e vazio. A criatura vivencia a angústia pela ausência em meio à vastidão, pois não há destino para onde ir ou permanecer.


A segunda parte, Antígona, é uma adaptação livre da obra de Sófocles. No entanto, ao invés de uma heroína que enfrenta diretamente leis e tradições, nessa jornada há um corpo que encontra, como companhia e obstáculo, a paisagem urbana. “Em Três Línguas, Antígona não possui irmão ou missão. Pelo contrário, a sua angústia é uma busca sem alvo e o título da tragédia grega evoca o chamado de responsabilidade. No caso, perante a vida na cidade contemporânea de caos e doença, para finalizar um processo, cumprir um rito”, explica a autora.


Já a divisão final da obra, Jardim, retoma a realidade sensorial e “lingo-linguística” traçada na primeira parte. Duas pessoas habitam um jardim absurdo com línguas arbustivas. Há alguns caminhos para sair do jardim, mas todos eles fazem retornar a ele, transformando esse espaço a céu aberto em um local de confinamento.


Origem
Influenciada pela prosa de Hilda Hilst, de quem a citação “os sentimentos vastos não têm boca” abre o livro, e por Samuel Beckett, cuja mecânica reverbera nas operações da linguagem, Verônica deve à poesia experimental portuguesa, sobretudo a Ana Hatherly, a liberdade para caminhar à borda da separação entre prosa e poesia.


“Hatherly tem um poema muito especial em que o texto é repetido omitindo palavras. Isso despertou a pesquisa para o que se tornou Antígona (título da segunda parte de Três Línguas). O uso da repetição em sua obra também me deu segurança para marcar os ciclos presentes nesse livro”, diz Verônica. “Outra grande referência, e essa muito anterior, basilar, foi Marcel Duchamp e algumas premissas Dadá. Em comum, todos esses nomes guardam um pensamento matemático ou estrutura numérica levados ao extremo da abstração como ferramenta criativa”.


A autora também cita como referências Hieronymus Bosch, Haroldo de Campos, além do movimento de poesia experimental portuguesa PO-EX.


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