Em entrevista, diretor de 'Parasita' diz que personagens não querem ser ricos

Em entrevista para A Tribuna, Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita', fala sobre índole de personagens

Por: Paoula Abou-Jaoude & De Los Angeles, Especial para A Tribuna &  -  09/02/20  -  13:26
Em entrevista para A Tribuna, Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita', fala sobre índole de personagens
Em entrevista para A Tribuna, Bong Joon-Ho, diretor de 'Parasita', fala sobre índole de personagens   Foto: Divulgação

Tal como Sam Mendes, o coreano Bong Joon-ho tem pouco mais de 20 anos de carreira como diretor de cinema. São sete longas na direção nesse período. Diferentemente de Mendes, no entanto, ele demorou a chegar em Hollywood, sempre muito cheia de barreiras para outros idiomas. Seu debute na festa da Academia, entretanto, vem com quatro indicações, incluindo Diretor e Filme. Nesta entrevista, ele fala sobre a origem do roteiro de Parasita e as questões sociais envolvidas na história. 


De onde surgiu a ideia para o roteiro de Parasita?


Quando eu estava na universidade, trabalhei como tutor para uma família rica, que morava numa casa enorme. Eu ensinava um garoto e um dia ele me levou até o segundo andar da casa, onde tinha uma sauna enorme, bem extravagante. Lembro de me pegar com essa estranha sensação de que eu estava espiando a vida particular de estranhos, e que estava me infiltrando na casa de gente rica. Foi daí que surgiu a inspiração para o filme. Comecei a imaginar como seria se eu reunisse os meus amigos e infiltrasse a casa deles, um de cada vez (risos). 


Quando a segunda família muda completamente para a casa dos milionários, eles ficam facilmente seduzidos pela riqueza deles. Por que o senhor quis fazer esse exame da estrutura de classes sociais? 


Quando a família Kim se muda para a casa, eles não têm a intenção de ficar ricos. É só que eles não têm trabalho. Tudo o que eles querem é trabalhar. Se você olhar para a família Kim, eles são completamente normais, competentes e inteligentes. Eles não são perdedores preguiçosos. Mas a triste realidade é que eles não têm emprego. Acho que esse problema do desemprego não acontece só na Coreia, mas em muitos outros países ao redor do mundo. Em determinado momento do filme, o filho jovem diz ao pai que ele vai comprar aquela casa para eles. É um momento triste porque sabemos que é impossível.  


Então o plano era uma ideia secundária... 


Não é que a família tinha criado esse plano perfeito de infiltrar a casa dos ricos. O amigo do jovem, Ki-woo, dá a dica do trabalho. Ele vai na casa da família rica e enxerga a confortável oportunidade que vislumbra-se a sua frente. Não é que eles são criminosos ou gângsteres. Eles só tiram proveito de uma situação. Não existem vilões na minha história. Acho que quando as pessoas caminham para a beira de um precipício, fica muito mais fácil para elas tirarem proveito de oportunidades assim. Até os ricos da história são normais e são gente boa. Mas, apesar de não ter vilões, meu filme termina com uma tragédia horrível. Eu acho que essa é a questão que me pergunto: como pessoas que não são ruins, acabam se envolvendo em trágicos incidentes? 


Parasita é um filme que cria um perfeito balanço entre drama e comédia. É um trabalho difícil conciliar os dois elementos? 


As pessoas geralmente me perguntam o porquê de eu misturar gêneros em minhas histórias e conseguir criar reviravoltas de um modo bastante natural. Mas eu nunca estou ciente de que estou fazendo isso. Para mim, todo o processo é natural. 


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