Diretoras exploram diversidade e identidade em novos curtas no Disney+

Mulheres investem na visão feminina nos cinemas e tomam a frente de projetos representativos no Launchpad

Por: Bia Viana  -  17/06/21  -  09:44
   Seja Um Tigre mostra uma babá que vai cuidar de um menino enquanto sofre pela morte de sua mãe
Seja Um Tigre mostra uma babá que vai cuidar de um menino enquanto sofre pela morte de sua mãe   Foto: Divulgação

Seguindo com a apresentação dos filmes exibidos em Launchpad: Uma Coleção de Curtas, projeto da Disney que produz curta-metragens de diretores estreantes, o tema em alta na seleção de hoje é a percepção de identidade e cultura sob o tema principal da temporada, a Descoberta. Com recursos de fantasia, as narrativas sublimes passeiam por temas densos da natureza humana, como luto, esperança e ancestralidade. Confira três filmes do projeto, disponíveis no streaming Disney+, e conheça as três diretoras responsáveis por eles.


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Encarando meus Segredos


Usando o humor para argumentar sobre preconceito, diversidade e conflitos de identidade, o curta mostra a vida dupla de Val Garcia (Keyla Monterroso Mejia), uma adolescente que vive perdida em “metades”: além de mexicana-americana, ela também é vampira e humana. Val só compreende a si mesma quando precisa encarar seus colegas de classe, que odeiam humanos sem saber de sua natureza mestiça.


“Ter essas pessoas reunidas contando uma história pela qual todas se preocupavam foi algo realmente poderoso”, comenta a diretora Ann Marie Pace em sua reflexão sobre o curta. Apaixonada por suas personagens, ela explica como a diversidade é um ponto relevante em todo seu trabalho. “Queríamos contratar um elenco diverso, e no primeiro dia de filmagens, nós juntamos uma comunidade segura. Lembro-me de olhar ao redor e pensar que eu nunca tinha visto um set com tanta diversidade antes. Foi muito profundo. Também me tocou profundamente o fato de que todos experimentamos como é se sentir deslocado”.


A diretora celebra a contação de histórias neste formato de curta-metragem. “Quando temos pessoas contando suas próprias histórias, não apenas diretores ou atores mas qualquer um em qualquer lugar, algo de verdade acontece. Nós sentimos esse poder e é uma experiência única poder presenciá-lo”, conclui.


O último dos chupacabras


Em um mundo onde sua cultura foi quase extinta, Chepa (Melba Martinez), uma mulher mexicana-americana solitária, é vista como atração turística exótica no subúrbio onde vive. Lutando para manter suas tradições e celebrar sua identidade, ela invoca, sem querer, uma criatura lendária para protegê-la: um pequeno chupacabra, parecido com suas marionetes.


Inspirada em sua bisavó, que viveu até os 105 anos, a diretora Jessica Mendez Siqueiros sentiu que precisava honrar sua cultura neste filme. “Minha família tem muito orgulho de ser mexicana-americana e eu me senti um fracasso em minha própria cultura por não saber muito. Percebi que é nossa a responsabilidade de manter nossa cultura viva. Tentei pensar o que essa identidade significava em um nível mítico e usei o chupacabra para construir a fábula”.


Entusiasta dos curta-metragens, a jovem cineasta vê no formato o recorte perfeito para a expressão de sua multiculturalidade. “O formato possui esse belo equilíbrio onde você não precisa necessariamente trabalhar com respostas, entregar tudo sobre as personagens. Os curtas são aberturas de conversas”, explica. Por meio do filme, entende melhor a sua própria ancestralidade. “Aprendi que fazer parte de uma identidade mista não te faz menos de uma ou outra, isso te torna inteiramente quem você é. Eu levo isso em consideração nas minhas histórias, para fazê-las mais completas”.


Seja um tigre


O delicado curta Seja Um Tigre mostra uma tarde na vida de Avalon (Otmara Marrero), uma babá que precisa cuidar de um menino enquanto sofre pela morte de sua mãe. Após um incidente assustador, ela encontra uma forma de conforto inesperada no garotinho, que com toda sua inocência, desperta uma grande reflexão sobre perda.


Stefanie Abel Horowitz indagava sobre o trato do luto no diálogo com crianças enquanto ela mesma atuava como babá. “Aos 20, enquanto era babysitter, cuidava de uma criança amável e inteligente, que me ensinou sobre amor. Mas um dia, ele brincou que estava atirando em mim com o dedo. Eu disse ‘você sabe o que isso significa?’, e ele não sabia. Então, eu respondi: ‘bem, se eu estivesse morta, eu não estaria mais aqui, não poderíamos mais brincar’. Ele ficou muito triste, como todos nós ficaríamos. E eu fiquei pensando sobre essa tragédia cotidiana de que todos morreremos, que todos passaremos pela experiência da perda várias vezes. Então, como falamos sobre isso em nossa cultura? Como falamos com crianças sobre coisas difíceis?”.


Filha de terapeutas, ela argumenta sobre a dificuldade em se abrir sobre as coisas, e no filme, reflete sobre como compartilhar nossas dores pode criar laços entre nós. “O ato de compartilhar sua tristeza, sentimentos e dores é algo que cria comunidade, união e nos lembra de que não estamos sozinhos em momentos difíceis”, conclui a realizadora.


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