Com expectativa de vencer o Oscar, Renée Zellweger conta como foi viver Judy Garland

Atriz é a grande favorita para vencer a categoria de melhor atriz principal

Por: Paoula Abou-Jaoude & De Los Angeles, Especial para A Tribuna &  -  05/02/20  -  00:23
Atriz durante cena do filme 'Judy: Muito Além do Arco-Íris'
Atriz durante cena do filme 'Judy: Muito Além do Arco-Íris'   Foto: Divulgação

O Oscar tem poucas certezas até aqui. Uma delas é que Renée Zellweger vencerá na categoria Atriz, por seu papel em 'Judy: Muito Além do Arco-Íris'. Caso se confirme, será a segunda estatueta na carreira. Anteriormente, venceu por Cold Mountain, de 2003, como Coadjuvante.


Como foi seu processo de pesquisa para interpretar Judy Garland?


Utilizei-me de vários componentes, que acabaram se unindo. Assisti vídeos dela no YouTube, vasculhei websites de fãs para saber que tipo de anedotas as pessoas estavam compartilhando, assisti imagens de arquivos sempre que encontrava uma. Gravações em áudios, de arquivos particulares de algumas pessoas, foram um achado valioso para mim. Biografias contando como ela lidava com a vida. E aí tinha a linguagem de palco dela. Certos movimentos, gestos que você sempre via até eles se tornarem familiares. A maneira que ela segurava o microfone e o movia atrás de suas costas. O estalar dos dedos. 


Recriar a figura de Judy Garland foi uma transformação física difícil para você?


Foi algo totalmente diferente de todos os outros filmes que já fiz. Foi também uma experiência coletiva feita ao lado de pessoas de diferentes departamentos como figurino, maquiagem, música. E todos nós estávamos à procura de atingir esse mesmo objetivo, tentando encontrar pequenos detalhes que faziam uma grande diferença, e subtrair outros que não nos ajudavam. Nós passamos por diversas fases de como o look dela deveria ser. Fiquei bastante satisfeita quando tinha meu rosto coberto de prótese e maciças bochechas. Quanto mais consigo distanciar-me de mim mesma, mais autêntica a coisa parece para mim. Mas, naturalmente, esse processo de sentir a personagem era complicado, e exigia muitas horas para ser atingido. Rupert Goold, o diretor, achava que esse aspecto era muito mais necessário do que a semelhança física. A emoção era essencial e o que ele queria não era uma imitação, mas sim uma exploração na direção do entendimento. Para atingirmos isso, ele queria ver meu rosto, minhas rugas, minhas expressões.


Como foi cantar as músicas de Judy Garland no filme?


Foi algo assustador, mas também que me trouxe bastante alegria. Sou grata ao fato de que tivemos bastante tempo para ensaiar e preparar, pois aquelas canções eram bem grandes para mim. Eu sempre me vi como uma espécie de cantora marginal, com uma voz pequena, e aquilo tudo era um grande empreendimento para mim. Tive bastante ajuda e me senti gratificada por isso. Eu entendo por que cantar no palco era uma experiência extasiante para Judy Garland.


Como descreve seu processo de aprendizado para cantar?


Não sabia que a voz é como qualquer outro músculo de nosso corpo, e que você pode exercitá-lo e manipulá-lo para fazê-lo mais forte. Eu achava que você podia nascer com esse dom de cantar ou não. E eu nunca fiz a conexão entre voz e emoção. Então teve todo um trabalho secundário que eu não era muito familiarizada a respeito, e que tive de acrescentar. Essa experiência, para mim, foi um grande presente em diversos níveis. Não só de mergulhar no legado do trabalho de Judy Garland e no fato de como ela era como pessoa, mas também de participar de uma inesperada viagem de autoconhecimento.


Como você fazia para manter sua voz?


Não fazia nada. (risos) Aprendi muito sobre as coisas que você não podia fazer com a voz, fazendo-as, e lidando com as repercussões de você ter feito a coisa de maneira incorreta. Agora eu sei (risos). Eu sei sobre criar variações, sobre dormir bem, sobre o fato de que você não pode fazer 28 variações da mesma canção durante o ensaio num estúdio com o ar condicionado ligado e, no dia seguinte, entrar em estúdio para gravar.


Como você descreve essa experiência de autoconhecimento?


Existiam pequenas coisas em minha experiência pessoal, como viver essa persona pública, diante do olhar do público. Eu acho que me fez ter mais empatia com a experiência dela. É claro que foi uma experiência bem diferente para Judy, pois as mulheres de hoje têm mais autonomia, participam mais da trajetória de suas carreiras. Judy e outras mulheres da geração dela tinham menos chances de contestar algumas decisões de carreira que outras pessoas tinham tomado por elas. Traçar esse paralelo é algo injusto, pois as circunstâncias no showbusiness durante a era de Judy Garland eram muito diferentes. Mas eu vim a entender e simpatizar-me muito com o fato de como era viver como ela. Fazer esse filme foi uma experiência incrível, pois pude mergulhar nesse mundo de problemas e contradições que me permitiram dar valor ao fato de como extraordinária Judy era.


Foi uma perda bem trágica...


Foi. Mas também foi um triunfo, pois ela nunca desistiu. Ela só queria continuar a dividir seu amor com o público. E continuou fazendo isso até morrer. E, para mim, isso foi o que a fez ser uma heroína.


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