Cientista de São Paulo cria 'RPG President Evil' com base na pandemia de Covid-19

Com passagem por Santos, Paola Giometti divide a carreira científica com a literatura fantástica e o universo dos games

Por: Bia Viana  -  09/06/21  -  07:31
Atualizado em 09/06/21 - 14:04
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Aos 37 anos, a professora e pesquisadora paulista Paola Giometti buscou novos ares para reinventar-se profissionalmente. A partir da mudança para a Noruega, onde já reside há dois anos e meio, ela seguiu novas oportunidades profissionais: passou a desenvolver uma carreira literária internacional com livros de fantasia e ficção científica young adult, além de desenvolver games. O destaque vai para o RPG President Evil, que viralizou nas redes sociais por simular a vida na pandemia e os percalços enfrentados pelos brasileiros, como problemas com medicamentos "duvidosos" e falta de vacinas.


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Paola começou sua carreira como professora de ciências e biologia em Diadema, além da carreira como escritora profissional, que iniciou em 2014. Ela possui PhD em Ciências com ênfase em farmacologia e câncer, exercendo na Noruega o cargo de pesquisadora na área translacional do câncer. O desenvolvimento da carreira foi um dos motivos para imigrar. "Você faz doutorado no Brasil mas o país não tem emprego para você. A falta de emprego na minha área foi um dos motivos para me mudar".


A cientista também enfrentou problemas com machismo, na vida pessoal e profissional. "Tive um pai muito machista e me relacionei com muita gente abusiva, um reflexo do que vivi dentro de casa. Na Noruega esse tipo de comportamento não é tolerado, as mulheres se defendem e são independentes. Eu precisava saber como era viver sem abusos, com chefes que não gritam, não te assediam moralmente e que elogiam sua eficiência junto ao time. Experimentei e não quero trocar por nada".


O crescimento profissional deu base e segurança para investir na carreira literária e de games, que contam com várias oportunidades internacionais. "A minha vida sempre foi uma caixa de inspiração. Em meus livros coloco muito sobre as fases que vivi, principalmente as mais difíceis. O video game também é uma fonte de pesquisa e inspiração para criar personagens e cenários. Adoro natureza e games".


Carreira literária


Seu primeiro livro foi Noite ao Amanhecer, escrito aos 11 anos. De lá para cá, escreveu vários livros de fantasia, mas várias novidades estão por vir. "Estou com uma produção de livros para uma série sci-fi young adult, que será publicada nos Estados Unidos junto com uma série de televisão. Em breve, trarei mais novidades", revelou. Paola começou essa jornada em Santos. "Um dos meus primeiros eventos geeks foi na Gibiteca de Santos, onde apresentei o meu projeto de livro e RPG, uma extensão do universo do meu livro Senhora da Tundra, que publicarei este ano".


    Paola escreve desde os 11 anos e sempre se interessou por aventura e fantasia
Paola escreve desde os 11 anos e sempre se interessou por aventura e fantasia   Foto: Reprodução/Instagram

A cientista também foi convidada a apresentar o livro The Destiny of the Wolves, o primeiro adaptado para a língua inglesa, na Bologna Children's Book Fair. Também foi finalista do Prêmio Reconhecimento Internacional de Literatura Brasileira, promovido pela Academia Internacional de Literatura Brasileira, em 2020. "Todos esses resultados só me fazem querer seguir escrevendo", afirmou a autora.


Boa parte dos livros foram escritos no Brasil, com pesquisas relacionadas ao Ártico, local que ambienta suas produções. "No fim das contas, eu nem imaginava que iria viver no Ártico. O Symbiosa e a Ameaça no Ártico foi escrito em Tromsø, na Noruega, e meus próximos livros como o Senhora da Tundra, também".


Paixão pelos games


"Estudei design de jogos na Massachusetts Institute of Technology durante a pandemia e também na Universidade de Cambridge. Minha ideia com essa bagagem era fazer jogos de RPG e tabuleiro, além de criar mecânicas e balanceamento de jogos, pois também tenho escrito roteiros para games", revelou Paola. A paixão por esse universo começou de pequena, como uma forma de descobrir o mundo e desviar da realidade difícil em que vivia.


Na infância, Paola passou pelo Atari e Mega Drive, e entre os jogos mais marcantes, relaciona Ecco the Dolphin, desenvolvido por Ed Annunziata e publicado pela Sega. "Fiquei tão maravilhada com as músicas e gráficos que queria escrever sobre golfinhos. Foi assim que escrevi Noite ao Amanhecer aos 11 anos, que hoje é publicado pela Elo Editora. Depois disso, vieram os livros; descobri que gostava de escrever aventura e fantasia, pois pensava que seria um modo de por ler esse universo enquanto não podia jogar".


Foi graças aos games que Paola encontrou sua paixão pela ciência. "Depois que joguei Resident Evil me interessei ainda mais pelo assunto, e por influência desse game eu quis me tornar cientista. Mas ao contrário de fazer um vírus, estou buscando métodos de tratamento para o câncer", explicou.


    O sucesso de President Evil, RPG sobre a pandemia, disparou nas redes sociais, com milhares de downloads
O sucesso de President Evil, RPG sobre a pandemia, disparou nas redes sociais, com milhares de downloads   Foto: Reprodução/Instagram

President Evil


Inspirado na pandemia de coronavírus no Brasil, o jogo de RPG President Evil, disponível gratuitamente em PDF, é um sucesso. Ao todo, já soma mais de 30 mil downloads. Para Paola, o game surgiu como uma forma de conscientizar sobre as formas de prevenção contra a covid-19. "Ele simula a vida real de um modo lúdico", explica.


Com enredo crítico do governo brasileiro e a metodologia adotada para combater a pandemia, Paola disse que a inspiração para o game veio, sobretudo, da repercussão das falas do presidente Jair Bolsonaro sobre a covid-19 na mídia internacional. "No início da pandemia aqui na Europa, eu publicava alertas aos amigos do Facebook falando de ciência. Ouvia as frases horrorosas que o presidente dizia enquanto o bicho estava pegando". O nome do jogo faz uma referência clássica ao seu game favorito, Resident Evil, transformando-o em President ('Presidente Maligno', em tradução livre).


O RPG busca uma conscientização indireta por meio do entretenimento, com um game baseado em escolhas que podem afastar o personagem dos perigos da covid. "Você tem que ficar de quarentena, caso necessário. Tem que manter a imunidade se alimentando bem, escolher ajudar o próximo ou não, pode comprar comida ou máscaras de quallidade, álcool gel, até mesmo tomar o 'tal' medicamento duvidoso, que pode, na sorte, te salvar ou não". Se infectado, o personagem passa por etapas: de "é só um resfriadinho" até "é só uma pneumonia". Conforme suas ações, ele poderá falecer.


President Evil pode ser jogado de dois a seis participantes, reunidos virtualmente, e é indicado para maiores de 14 anos. O objetivo é manter a imunidade e evitar a contaminação pelo coronavírus, a partir do rolar de dados. Para jogar, é necessário baixar o PDF do jogo e arranjar caneta, papel e dados (dois de seis lados).https://paolagiometti.com.br/frescurento-mimimi-a-capitao-cloroquina-a-nova-edicao-de-president-evil/


O jogador pode escolher sua classe de personagem, que vai desde o Capitão Cloroquina (incapaz de assumir que o remédio é ineficaz contra a doença), o Terraplanista (não acredita na quarentena), o Enfermeiro das Trevas (preso por fingir aplicar a vacina), entre outros. Paola se identifica com duas classes. "O Frescurento Mimimi, já que tomei os cuidados necessários para evitar ser infectada. E acho que também carrego um pouco do Policial Tocador de Gado, já que ficava monitorando minha mãe e minha família sobre uso de máscara, se saíam demais de suas casas e para quê".


A mãe e os irmãos já estão vacinados, mas Paola ainda não. Ninguém na família contraiu o vírus, e a cientista espera se vacinar até julho. "A cidade em que moro não teve uma grande crise de covid, por isso estamos até mesmo enviando vacinas para Oslo. Espero receber a minha logo", concluiu.


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