Chorão: Marginal Alado chega às telas nesta quinta-feira

Filme com a história da vida e obra do vocalista do Charlie Brown Jr., morto em 2013 estará no cinema e plataformas de streaming

Por: Bia Viana  -  06/04/21  -  14:23
Chorão: Marginal Alado, estreia quinta-feira
Chorão: Marginal Alado, estreia quinta-feira   Foto: Clauditor Vaz/Divulgação

Mesmo com atraso de um ano para seu lançamento, o documentário Chorão: Marginal Alado chega aos cinemas nesta semana cheio de energia. Acompanhando a trajetória do artista ‘do lixo ao luxo’, o longa atravessa a geração do rock nacional dos anos 1990 e a cultura santista de skate e praia, muito bem delineada pela trilha sonora do Charlie Brown Jr.


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A história é amarrada por várias entrevistas de pessoas conectadas ao músico. Entre eles, quase todos os membros da banda, sua esposa Graziela Gonçalves, o filho Alexandre Abrão, amigos íntimos e funcionários, como Glauco Veloso, Victor Mehl e Kleber Attala, até personalidades brasileiras que compartilham seus encontros com o cantor, como João Gordo, Digão Campos, Marcelo Nova, Rick Bonadio e Serginho Groisman.


A grande quantidade de depoimentos, segundo o diretor Felipe Novaes, foi um desafio. “Cortamos muita gente. Todo dia cada um da equipe assistia cinco horas de material, tínhamos uma estrutura de decupagem. No final, a gente assistia juntos ao material de todo mundo, selecionava os highlights e ia norteando. O que a gente usa corresponde a 0,01% do acervo pessoal dele (risos), mas fomos lapidando o diamante”. Segundo a equipe, a decupagem chegou a 1.200 horas antes dos cortes.


Chacoalhar a cultura


Hugo Prata, produtor da Bravura Cinematográfica e também um dos roteiristas do filme, já tinha um projeto encaminhado de um DVD com Chorão meses antes de sua morte. Para o produtor, o adiamento de um ano no lançamento criou uma atmosfera diferente para o filme.


“O mundo todo está transformado, mudou completamente o momento do País. Acho muito importante (lançarmos agora), o Chorão sempre foi um farol atento e combativo com a hipocrisia da sociedade. Isso é e sempre será muito importante. Ele chegar agora é um momento necessário, de chacoalhar a cultura, a perseguição, os valores, enfim. Foi muito oportuno”, revela.


Dificuldade, motivação


Victor Stockler, que também atuou na produção e é fã do Charlie Brown Jr, engrandece o valor de “autenticidade” que Chorão sempre carregou consigo. “Ele dizia ‘eu faço da dificuldade a minha motivação’, e foi assim que encaramos o árduo processo de viabilizar, com ajuda de muita gente bacana, um projeto que fizesse jus ao tamanho do Chorão”.


Logo no início do projeto, em 2013, centenas de fãs apoiaram um crowdfunding (coleta pública de recursos) que serviu de alicerce à pré-produção, viabilizando o filme. Agora, após encarar premiações em 2019 e recalcular sua estreia, o longa está pronto para o público e cheio de expectativas em sua história.


Depoimento


Eu não esperava que o dia 6 de março de 2013 fosse ser um dia tão marcante na minha vida. A grande sacada é que as maiores coisas que nos acontecem sempre pegam de surpresa, e esse dia foi um desses. Assim como vivemos um momento histórico que será estudado nos livros do futuro, eu era acordada pelo meu pai de manhã cedo no que seria um dia de aula qualquer com a notícia de que o Chorão tinha morrido. E aquele 6 de março também ficou para a história.


Para quem cresceu em Santos, a cidade abraçada pelo músico com toda sua energia e personalidade incansáveis, o Charlie Brown Jr. foi trilha sonora de vários momentos felizes. Vícios e Virtudes era a música favorita da minha irmã, que sempre cantava de olhos fechados quando via o clipe do acústico na MTV. Toda vez que eu escuto Zóio de Lula lembro da primeira vez que peguei no contrabaixo, ou das poucas vezes em que toquei bateria, junto com um professor que inclusive deu aulas ao próprio Champignon quando ele era só um moleque prodígio (o que me fazia acreditar, na realidade, que eu também podia ser).


O Coro Vai Comê abria um dos primeiros sets da minha banda de garagem, que era basicamente fundamentada na fórmula hardcore-punk-ska que o Chorão fomentou na sua própria Califórnia. Eu era fruto de tudo isso, assim como milhares de outros adolescentes nos seus universos próprios que, por conta daquele som, acreditavam não estar sozinhos.


Mesmo emanando esse sentimento de união, Chorão era o retrato da solidão. Um skatista, compositor, cantor, cineasta, empresário, produtor, um faz-tudo que, no fim das contas, não sabia se estava no caminho certo, mas que estava sempre na estrada buscando um destino final. E quando aquele 6 de março chegou, a gente também se perguntou se estava no caminho certo, se o sonho idealizado, que teve um fim tão trágico, não passava de um conto de fadas com final infeliz.

Só agora, assistindo ao documentário, entendo a ponta de esperança de que mesmo com as mudanças de caminho, as controvérsias, polêmicas e todas as dúvidas, todos nós, de certa forma, encontramos bons caminhos incluindo o Chorão, como fica ilustrado nas entrevistas e depoimentos que discorrem pelo filme. É o tipo de documentário em que você se sente parte da jornada, como uma experiência coletiva simultaneamente cativante e nostálgica, mas que traz, acima de tudo, um pouco de paz.


Mesmo tocando em assuntos pesados, como suicídio e dependência química, o filme é otimista. Acende o questionamento sobre a pressão da vida pública, o peso da fama e as dores ocultas por trás de um sorriso enorme no palco, que cantava as verdades em que queria acreditar. Chorão convenceu a todos nós de que devíamos sonhar sempre mais alto, mas ele mesmo não se convenceu.


O filme nos lembra, no fim da jornada, que nossos ‘astros’ são gente como a gente: pessoas complexas, com dores e amores, que merecem atenção e acolhimento. (Bia Viana)


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