Caymmi, de filho para pai: Danilo visita a obra de Dorival em Show

Espetáculo deste sábado, no Sesc Santos, é uma dupla homenagem: ao compositor e aos 130 anos do Porto

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  05/02/22  -  11:54
Danilo toca flauta e canta, acompanhado por Flávio Mendes ao violão.
Danilo toca flauta e canta, acompanhado por Flávio Mendes ao violão.   Foto: William Aguiar/divulgação

Na alma, um elo com o passado da MPB; na arte que professa, uma luz que aponta o futuro. O sobrenome não nega a estirpe: Caymmi, Danilo, filho de Dorival, é um depositário da obra do pai e não se furta ao serviço de honrá-la – pelo contrário. “Gravamos dois discos com músicas dele. É um movimento de memória, uma estratégia de manter a obra viva”.


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Um deles, de 2013, na companhia dos irmãos Nana e Dori, foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB. A história dessa saga musical chega a Santos neste sábado (5), em um show especial: O Porto de Santos e o Mar, pelas Canções de Caymmi. Danilo toca flauta e canta, acompanhado por Flávio Mendes ao violão.


“É muito divertido o show. Também conto as histórias, dele e das canções, contextualizo, no tempo e no espaço”, diz Danilo. Uma dessas histórias é a da canção Maracangalha, cujos versos famosos dizem, “eu vou pra Maracangalha, eu vou, eu vou só...”.


Ela se referia a um amigo de infância de Dorival, que vivia uma situação complicada: casado em Salvador, tinha outra família em Maracangalha. “Meu pai contou essa história em um programa de tevê. Deu uma confusão...”, ri Danilo.


Vagabundagem

A história de Dorival Caymmi na música é emblemática. Mistura de sorte, vocação e destino. Em 1938, aos 23 anos, sai da Bahia para o Rio de Janeiro, com um “violão embrulhado em jornal”, para disfarçar o instrumento, como conta Danilo. “Era considerado vagabundagem... podia ser parado pela polícia e ser detido. Se hoje ainda é assim, imagine naquela época”.


Na então capital, perambulava pelas rádios da época, enquanto ganhava a vida trabalhando na imprensa, nos Diários Associados. Até que um problema com uma canção de Ary Barroso, que Carmem Miranda iria gravar no filme Banana da Terra, abriu as portas do estrelato para Dorival.


“Amigos em comum que conheciam ele, falaram ‘tem esse rapaz que veio da Bahia, compõem’. Dorival foi ao estúdio e apresentou a canção que seria viraria um clássico mundial na voz de Carmem: O que é que a Baiana Tem?


Raiz baiana

Descendente de italianos por parte de pai – o bisavô chegou a Salvador para trabalhar na reforma do Elevador Lacerda – e de portugueses e africanos por parte de mãe, Dorival Caymmi está para a música baiana quanto Jorge Amado está para as letras. Na música de Caymmi está o mar, o pescador, o peixe, as divindades africanas, o sincretismo.


“Eles se conheceram, eram como irmãos. Você se refere à Bahia, suas tradições, histórias, mergulha nos livros de Jorge Amado e nas canções de meu pai”.


Em um Brasil tão desigual, que em especial se revela em solo baiano, compositor e escritor também comungavam das mesmas inquietações sociais. Embora nunca tenha sido militante comunista, como Jorge Amado, Dorival se preocupava com as condições precárias de boa parte da população brasileira.


“As inquietações de ambos continuam de pé, no Brasil. Quem não gostaria de ver as pessoas com direito à educação e com uma saúde bacana?”.


Fama fortuita

Filho de peixe, peixinho é, como se diz. Como se espera, Danilo ultrapassou o pai e tem uma carreira sólida – assim como os irmãos Nana e Dori. É cantor, compositor, músico e arranjador – além de artista visual.


O início de tudo foi ainda em 1968, com Andança, composta em parceria com Paulinho Tapajós, que ficou em terceiro lugar no III Festival Internacional da Canção, na Globo, e se transformou em um clássico na voz de Beth Carvalho. Danilo tinha 20 anos. Foi o suficiente para, aos 20 anos, abandonar a faculdade de Arquitetura e mergulhar de vez na música.


Assim como ao pai, veio o reconhecimento. Mas assim como no tempo do pai, a fama era algo sólido, real, e não diáfano, como hoje em dia, ele avalia. “Veja o BBB. Naquele contexto, sai-se uma celebridade. Mas, daqui a pouco, acaba tudo. Antes se falava, ‘conta 10 anos’, É um contexto mutante, dinâmico, da mídia social”.


Danilo crê, contudo, que essa gangorra frenética tende a se acomodar, à medida que o tempo passar – ou se a tecnologia reinventar antigos ícones. “Houve um tempo em que o rádio foi condenado. Mas veja os podcasts: é o mesmo princípio do rádio, que aguça a imaginação”.


Santos

Danilo recorda que um tio, irmão da mãe, tinha uma casa em Santos. No final dos anos 50, quando Dorival estava em São Paulo par algum compromisso, a família descia a Serra. Muitos anos depois, Danilo faria um show na praia. Como se sabe, o eco reverbera nos prédios da orla. Ao final da passagem de som, uma surpresa: uma amiga que não via há muitos anos o estava esperando. “Ela morava por ali, ouviu a minha voz e foi lá, na saída do palco”.


O show

O show é gratuito, às 20 horas deste sábado (5), no Teatro do Sesc Santos; é a principal atração cultural do 3º Festival Porto Cidade, em comemoração aos 130 anos do Porto de Santos, celebrados dia 2 de fevereiro. Os ingressos devem ser retirados neste sábado, a partir das 14 horas, na bilheteria do Sesc Santos (Rua Conselheiro Ribas, 136).

Será exigida a apresentação de comprovante (físico ou digital) de vacinação contra a covid-19, com duas doses ou dose única, para maiores de 12 anos, e apresentação de documento. O uso da máscara é obrigatório durante toda a apresentação.


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