Cantora brasiliense fala sobre rock, carreira, e seus 15 anos na música

Daniela Firme concilia seus múltiplos projetos enquanto se mantém focada no incentivo à música independente

Por: Bia Viana  -  26/09/21  -  08:34
 Daniela Firme iniciou sua carreira na música independente ainda adolescente
Daniela Firme iniciou sua carreira na música independente ainda adolescente   Foto: Henrique François

Em destaque na rota do rock nacional, Brasília foi berço de grandes bandas. No auge da ditadura militar, nos anos 1970, a cena política da Capital servia de incubadora para movimentos artísticos variados. No rock, surgia a Turma da Colina, cena formada por bandas como Aborto Elétrico, Plebe Rude e Paralamas do Sucesso, que questionavam o status quo e criticavam a censura e violência do regime da época. Com essa herança revolucionária na bagagem, a compositora, produtora e cantora Daniela Firme, de 38 anos, começou a trabalhar com música cedo, aos 17, e em pouco tempo fundou a Rock Beats, banda de sucesso explosivo na internet.


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Finalista do Prêmio Profissionais da Música (PPM) em 2019 e 2020, Daniela concilia seus múltiplos projetos enquanto permanece focada no incentivo à música independente. Com três álbum que somam mais de 100 mil streams no Spotify e mais de 15 anos na música, conheça as inspirações e projetos da Roqueira de Brasília.


Como começou sua paixão pela música?


Minha família é muito eclética. Cresci ouvindo o que meus irmãos gostavam, que era o pop rock dos anos 1980 e o que tocava na rádio. Sempre gostei de escutar tudo com atenção e viajar na letra das músicas. Em determinado momento, na infância aqui em Brasília, um amigo que estava aprendendo a tocar violão e me chamou pra gente formar uma “dupla”, onde eu era uma espécie de percussionista, mas com uma bacia. A gente ficou muito feliz ensaiando as músicas que gostava na época.


Pela minha empolgação, minha mãe acabou me dando meu primeiro instrumento musical, que foi um tantam. Mais pra frente, conheci uma amiga que tocava violão bem demais e ela me inspirou a me matricular numa escolinha e aprender a tocar. Daí em diante, não parei mais.


Quais foram suas principais referências?


Na hora de compor, fui muito influenciada pelos compositores do rock nacional dos anos 1980 e da MPB. No rock, Herbert Vianna, Cazuza, Humberto Gessinger e Renato Russo. Na MPB, Caetano, Gil, Chico Buarque e Adriana Calcanhoto.


Como começou a banda Rock Beats?


A Rock Beats começou a partir do convite de amigos, que já haviam tocado juntos em uma banda que teve uma repercussão bacana em Brasília no final dos anos 1990, a Scraxo. Eles buscavam dessa vez uma vocalista que também cantasse em inglês — eu nunca tinha cantado até então, mas acabou dando certo. O segredo da banda, na minha opinião, é sua versatilidade: temos mais de mil músicas no repertório, opção de formato elétrico ou acústico, e foi justamente essa versatilidade que acabou nos beneficiando no período da pandemia.


E o movimento Made In Brasília?


O Made In Brasília surgiu quando eu lancei o primeiro EP autoral e percebi a dificuldade de formação de público, de circulação de shows da cena autoral. É impressionante como existe música boa sendo feita atualmente em Brasília, mas pouca música boa sendo consumida proporcionalmente. As pessoas não possuem o hábito de sair para assistir música nova, ouvir música nova. Então, eu fiz uma live na época pedindo sugestões de artistas de Brasília e com isso fiz uma playlist. Fiquei ainda mais impressionada com a qualidade do que ouvi e ainda não conhecia.


Com as respostas, criei um grupo de WhatsApp e começamos a nos articular, partindo da data do lançamento do meu EP. Passei a divulgar a playlist, sempre chamar um artista para dividir as noites dos meus shows e incentivar que os demais artistas fizessem o mesmo.


Como o Made in Brasília se manteve ativo e atualizado na cena autoral diante de tantas mudanças?


Acredito que o segredo esteja em buscar o engajamento de todos e buscar estar antenado com as novas ferramentas e tecnologias disponíveis, porque o mercado está sempre se transformando e é necessário nos adaptarmos a ele.


O que sente sobre o protagonismo feminino no rock atual?


Acho que as mulheres estão ocupando um espaço maior em tudo e no rock não é diferente. Fico feliz quando vejo mulheres no vocal, mulheres empresariando artistas, mulheres tomando as rédeas de suas carreiras, mulheres operando uma mesa de som, mulheres se especializando na parte técnica. Acho cada vez mais necessário e bem-vindo o olhar feminino no mundo artístico, assim como nos showbusiness, no universo do áudio, da iluminação, de todos os assuntos correlatos.


A mulher tem um olhar mais abrangente e mais sensível, que é imprescindível e tem muito a agregar. Além disso, historicamente é importante que possamos nos colocar em pé de igualdade mostrando que somos tão capazes de fazer um bom trabalho quanto qualquer homem. Eu trabalho desde sempre com essa mentalidade, nosso núcleo de produção e logística é todo feminino.


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