Brasil concorre no Festival de Locarno, na Suíça

São 226 filmes, quase todos inéditos, exibidos nos sete cinemas da cidade

Por: Rui Martins, Especial para A Tribuna  -  03/08/22  -  08:44
Durante os 10 dias do festival, a praça principal de Locarno se transforma em um cinema a céu aberto, com capacidade para 8 mil pessoas
Durante os 10 dias do festival, a praça principal de Locarno se transforma em um cinema a céu aberto, com capacidade para 8 mil pessoas   Foto: Massimo Pedrazini/Divulgação

Depois de dois anos difíceis de pandemia, a cidade suíça de Locarno reacende seus projetores e recoloca as oito mil cadeiras do maior cinema ao ar livre do mundo, a Piazza Grande. É verão na Suíça, as noites são quentes e praticamente não chove nos dez dias dedicados, há 75 anos, à sétima arte.


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O Festival de Locarno é consagrado ao cinema de autor e são 226 filmes, a quase totalidade inéditos, repartidos em diversas seções e exibidos nos sete cinemas da cidade na parte suíça onde se fala italiano. Começa nesta quarta (3) e vai até dia 13. Nas mostras, sobressaem a Competição Internacional, a Competição Cineastas do Presente e os curtas e médias metragens concorrendo como Leopardos de Amanhã.


Criado em 1946, os prêmios do Festival têm o nome de Leopardos. Por ali já passaram grandes cineastas, como Claude Chabrol, Stanley Kubrick, Paul Verhoeven, Miloš Forman, Raoul Ruiz, Alain Tanner, Mike Leigh, Béla Tarr, Chen Kaige, Edward Yang, Alexandre Sokourov, Atom Egoyan, Jim Jarmusch, Spike Lee, Gregg Araki, Abbas Kiarostami, Pedro Costa, Fatih Akin, Claire Denis, Kim Ki-duk e Gus Van Sant. Confira os brasileiros que estão participando desta edição.


O novo filme da cineasta brasileira Julia Murat é esperado nos próximos dias
O novo filme da cineasta brasileira Julia Murat é esperado nos próximos dias   Foto: Divulgação

Júlia Murat
O novo filme da cineasta brasileira é esperado nos próximos dias. Me lembro de Júlia Murat quando mostrou, há cinco anos, seu filme Pendular na Berlinale, na mostra Panorama, e ganhou o prêmio da Federação Internacional de Críticos de Cinema (Fipresci). O júri definiu as razões do prêmio: “Pendular foi escolhido por sua excepcional qualidade visual e sua força narrativa, que resultam num retrato preciso de dois artistas contemporâneos. A expressão da coreografia moderna e arrojada das relações humanas na história se une perfeitamente à originalidade estética e dramatúrgica do filme”.


Há, por isso, boas expectativas diante do seu novo filme Regra 34, uma coprodução com a França. Até porque, sem coprodução, vem sendo inviável se fazer cinema no Brasil. É a Unifrance quem se encarrega da divulgação do filme em Locarno com a produtora Esquina. Vieram com Júlia Murat as atrizes Sol Miranda e Isabela Mariotto, mais o ator Lucas Andrade.


“Simone, 28 anos, é uma jovem advogada negra que passou anos fazendo performances on-line de sexo para pagar a faculdade de Direito. Ela acabou de passar em um concurso para a Defensoria Pública, abandonando as performances por não precisar mais do dinheiro. Sua nova rotina consiste em aulas em um curso preparatório para defensora, o acompanhamento de sessões de acolhimento às mulheres vítimas de violência doméstica e aulas de kung fu com Lucia, uma amiga branca da faculdade. Juntas, compartilham ideias feministas e a vontade de usar a prática do Direito para modificar a sociedade”. A exibição do filme está prevista para o próximo dia 10.


Ana Vaz Participa na competição Cineastas do Amanhã, com o filme É Noite na América
Ana Vaz Participa na competição Cineastas do Amanhã, com o filme É Noite na América   Foto: Divulgação

Ana Vaz
Participa na competição Cineastas do Amanhã, com o filme É Noite na América, em coprodução com a França e Itália. Embora jovem, aos 36 anos, Ana Vaz tem um importante percurso internacional, como mostra seu currículo.


Ela é uma artista e cineasta cujos filmes e trabalhos especulam sobre as relações entre o eu e o outro, o mito e a história, através de uma cosmologia de signos, referências e perspectivas. Montagens de material original, filmado, e imagens de arquivo, seus filmes combinam etnografia e especulação na exploração das ficções inscritas nos ambientes naturais.


Em 2015, recebeu o Kazuko Trust Award apresentado pela Film Society of Lincoln Center em reconhecimento à excelência artística e inovação de sua obra cinematográfica.


É a própria Ana Vaz quem descreve seu filme incluído no resumo das exibições, publicado pelo Festival: “Filmado inteiramente de dia para noite, o eco-horror da vida selvagem segue as trajetórias de espécies ameaçadas de extinção que fogem para escapar da extinção, em uma trama sombria em que os animais olham para nós”.


O filme evoca com imagens situações naturais, ou nem tanto: há um tamanduá encontrado morto à beira de uma estrada; uma jiboia que perambula pelos subúrbios de Taguatinga; um lobo-guará encontrado em uma fazenda em Sobradinho II; uma pequena coruja resgatada no Bairro Centro de Rádio; uma capivara nadando nas piscinas do Palácio do Itamaraty.


“A questão é: os animais estão invadindo nossas cidades ou estamos ocupando seu habitat?”, pergunta-se a cineasta.


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