Bem-humorada, autobiografia de Roberto Bolaños chega ao Brasil

No livro, Roberto Gómez Bolaños conta como surgiram o Chaves e o Chapolin Colorado

Por: Estadão Conteúdo  -  16/08/21  -  08:32
 Chaves, um menino órfão que mora em um barril, conquistou o México e foi fenômeno Brasil, entre os anos 70 e 80
Chaves, um menino órfão que mora em um barril, conquistou o México e foi fenômeno Brasil, entre os anos 70 e 80   Foto: Reprodução

Uma mulher grávida se desesperou ao descobrir que tomou um antigripal sem saber que continha ingrediente abortivo. Diante da dor aguda, o médico recomendou que ela aceitasse perder o bebê, mas a moça insistiu em manter a gravidez, mesmo sob o grave risco de vida, o que tornou a gestação um período de grande sofrimento. “Por causa disso, eu nasci em 21 de fevereiro de 1929”, afirma o mexicano Roberto Gómez Bolaños que, anos depois, alcançou grande sucesso nas séries de TV Chaves e Chapolin.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


A frase consta logo no início de Sem Querer Querendo, autobiografia lançada em 2006 e que só agora ganha versão em português, lançada pela editora Estética Torta.


Com um texto bem-humorado, mas temperado por algumas alfinetadas em certas personalidades, o livro, cujo título repete um de seus mais conhecidos bordões, detalha a evolução do jovem boxeador frustrado (a baixa estatura o convenceu a abandonar o esporte), que abandonou o curso de engenharia para se tornar um ícone da comédia infantil latino-americana.


Fila define o futuro


Ao longo da vida, Bolaños, que morreu em 2014, revelou uma enorme capacidade de se reinventar quando necessário – resistência herdada da mãe. Segundo de três filhos de um pintor e ilustrador e de uma secretária bilíngue, ele sonhava jogar futebol e lutar boxe, mas acabou entrando em uma faculdade de Engenharia Mecânica, logo abandonada por considerar entediante.


A grande virada de sua vida começou quando se interessou pelo anúncio de emprego como aprendiz de produtor em uma empresa de publicidade. Ao chegar lá, viu que havia cerca de 60 candidatos à vaga que ambicionava, mas, ao lado, havia outra fila, com apenas cinco pessoas, aspirantes ao cargo de redator aprendiz. “Meu futuro profissional foi definido pela diferença de tempo que eu deveria passar em uma fila”, diverte-se ele, no livro.


Aos 22 anos, portanto, Bolaños começou a escrever freneticamente roteiros para programas de rádio, televisão e cinema – até ensaiou uma primeira carreira como ator no final dos anos 1950.


Foi nessa época que ganhou o apelido de Chespirito, forma elogiosa nascida da admiração do cineasta Agustín Porfirio Delgado, que o chamava de “pequeno Shakespeare”, brincadeira por escrever muito apesar da pequena estatura.


A gênese de Chaves


Na autobiografia, Roberto Gómez Bolaños conta como, em 1968, assinou contrato com uma emissora de TV em ascensão, a Televisión Independiente de México, para inicialmente fazer um programa de meia hora nas tardes de sábado. A atração se chamava Chespirito e dois personagens se destacavam El Chavo del Ocho e El Chapulín Colorado. Os esquetes curtos e bem-humorados fizeram tanto sucesso que ele logo ganhou o horário noturno da segunda-feira – e em uma atração de uma hora de duração.


O êxito novamente foi tão estrondoso, especialmente entre as crianças, que cada personagem ganhou uma série semanal própria. El Chavo (cuja tradução seria O Menino, mas se tornou Chaves, no Brasil) era um menino órfão de 8 anos que vivia em um barril de madeira, enquanto El Chapulín (Chapolin) era um herói atrapalhado que sempre aparece quando alguém precisa de ajuda.


Identificação


A conexão imediata com os pequenos era motivada, segundo Bolaños, pela imediata identificação – no livro, ele revela suas suspeitas em relação ao sucesso dos personagens.


“Chaves foi o melhor exemplo de inocência e ingenuidade das crianças. E é bem provável que tenha sido esta característica que gerou o grande carinho que o público passou a sentir por ele”, comenta, acrescentando: “Nunca pretendi que o público pensasse que eu era uma criança. Tudo o que eu procurava era que aceitasse que eu era um adulto fazendo o papel de uma criança”.


Roberto Gómez Bolaños morreu em 28 de novembro de 2014, aos 85 anos, vítima de uma parada cardíaca, em sua casa, em Cancún.


Logo A Tribuna