Baixada Santista tem só 'meio' livro por habitante somando acervos de bibliotecas municipais

Levantamento de A Tribuna junto às prefeituras mostra que há 0,36 livro por pessoa; confira proporção de cada cidade

Por: Beatriz Araujo  -  05/09/21  -  10:12
Atualizado em 05/09/21 - 17:56
 Baixada Santista soma acervo de 701.469 itens - entre livros, quadrinhos, revistas e jornais, distribuídos em 25 pontos na região
Baixada Santista soma acervo de 701.469 itens - entre livros, quadrinhos, revistas e jornais, distribuídos em 25 pontos na região   Foto: Vanessa Rodrigues

Se, ao mesmo tempo, cada cidadão da Baixada Santista resolvesse pegar um livro em alguma biblioteca municipal da região, mais da metade da população ficaria de mãos vazias. Isso porque, unindo os acervos públicos das nove cidades, há menos de “meio livro” (0,36) disponível por pessoa nas bibliotecas municipais. Os dados foram levantados por A Tribuna junto às prefeituras.


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De acordo com a Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias (Ifla), a “regra geral” é que coleções de bibliotecas públicas possuam entre 2 e 3 itens per capita. No caso de populações acima de 100 mil habitantes, este número poderia diminuir. De qualquer modo, é uma realidade muito diferente da vivida na região.


Com 1.897.551 habitantes, de acordo com dados do IBGE deste ano, a Baixada Santista soma um acervo de 701.469 itens - entre livros, quadrinhos, revistas e jornais. Todo este material está distribuído em 25 pontos de leitura em oito das nove cidades da região. Atualmente, Bertioga não possui nenhuma biblioteca municipal. Os dados não incluem bibliotecas escolares.


Com relação à proporção de livros por pessoa, apenas três cidades estão acima da média regional: Guarujá, Itanhaém e Santos (veja o quadro). Guarujá se destaca com 300 mil itens, divididos em duas bibliotecas. Logo atrás, Santos possui 228 mil títulos, compartilhados em oito pontos de leitura - sendo seis bibliotecas, uma gibiteca e uma hemeroteca. Já Itanhaém contabiliza um acervo de 56.900 livros, com uma biblioteca, dois pontos de leitura e uma “geladeiroteca”.


A “geladeiroteca” é uma geladeira estilizada transformada em mini biblioteca. Essa opção criativa também está presente em São Vicente com o nome de “gelateca”. Apesar da cidade vicentina ser a que registra menos livros por habitante, dentre os municípios com bibliotecas municipais, por conta das “gelatecas” ela se diferencia na quantidade de pontos de leitura públicos disponíveis: duas bibliotecas e três ‘gelatecas’.


 Confira a proporção de livros por pessoa nas nove cidades da Baixada Santista
Confira a proporção de livros por pessoa nas nove cidades da Baixada Santista   Foto: Redação

Metade segue fechada

Por conta da pandemia, porém, não são todas as bibliotecas, gibitecas e pontos de leituras que estão recebendo leitores. Dos 25 equipamentos distribuídos nas cidades da região, 13 estão abertos e 12 seguem fechados. Santos e Itanhaém mantém todas as unidades fechadas - nas demais há ao menos uma biblioteca aberta.

CONFIRA LISTA COMPLETA DAS BIBLIOTECAS MUNICIPAIS DA REGIÃO


Como retirar

Respeitando o horário de funcionamento das instituições, cada cidade possui uma dinâmica de empréstimo de títulos.


Em Santos, Cubatão, Praia Grande e Itanhaém, para retirar um livro e realizar uma ficha de cadastro basta apresentar o RG ou outro documento de identidade original e um comprovante de residência.


Além dos documentos citados, em Mongaguá é preciso entregar uma foto 3x4. Em São Vicente e Guarujá, duas fotos do tipo.


Apenas em Peruíbe também é acrescido uma taxa de R$ 5 reais para a emissão da carteirinha e o interessado deve informar seu e-mail e número de WhatsApp.


Doações

Itanhaém aceita doações nas bibliotecas, apenas assinando um termo. O mesmo procedimento é feito em Praia Grande, com a ressalva de que apenas livros técnicos e literários são aceitos. Em Cubatão, livros didáticos não são recebidos. Guarujá, por sua vez, aceita livros de gêneros literários e gibis na sede da biblioteca central Geraldo Ferraz.


Já em Peruíbe, a biblioteca aceita apenas livros de literatura. Para doar, o interessado deve entrar em contato com a bibliotecária Elisangela Cantarin pelo telefone da sede. Em São Vicente, as doações podem ser feitas na unidade da Casa do Barão e Praça Vitória da Conquista.


Quando as bibliotecas de Santos forem reabertas, elas também voltarão a receber doações. Mas, para doar mais de 20 unidades, é possível agendar a retirada dos itens pelos telefones 3226-8021 e 3223-8908. Não são aceitas enciclopédias e livros didáticos.


Somente Mongaguá não está aceitando publicações por conta da pandemia.


 Ana ensinou a filha, Valentina, a ler em casa durante a pandemia
Ana ensinou a filha, Valentina, a ler em casa durante a pandemia   Foto: Vanessa Rodrigues

Frequentadores não abrem mão do papel

A Porto do Saber Boqueirão, situada dentro do Complexo Cultural no Palácio das Artes, em Praia Grande, é uma das que não estão ociosas, conforme apurado pela Reportagem em visita na última quarta-feira (1º).


Entre 14h e 15h, houve um fluxo de cerca de 15 pessoas no local, alguns conhecendo o espaço pela primeira vez e outros retirando livros como algo já de costume.


“Frequento a biblioteca por causa da minha filha. Ela aprendeu a ler agora e tudo para ela está sendo mágico. Ela está descobrindo um mundo através dos livros”, conta Ana Pacheco, de 26 anos, que visitava a biblioteca com sua filha Valentina, de 7 anos.


Enquanto a filha seguia indecisa entre tantos títulos no espaço infantil, a mãe contava sobre seu orgulho de ter conseguido ensinar a filha a ler em casa, por conta dos desafios da pandemia.


Nesse processo, ela frequenta a biblioteca há cerca de três anos - antes, na sede antiga do local, que era na Av. São Paulo. Quando ela não tem tempo, a saída são os vídeos de contações de histórias. Mas, Ana adianta: “ela prefere o livro físico. A coisa dela é folhear. Ela se encanta com as cores”.


Renato Souza Morais, autônomo de 40 anos, é um dos que também ama frequentar a biblioteca. Leitor ávido que considera as leituras físicas melhores, ele visita o espaço duas vezes por semana. “Gosto dessas coisas mais antigas, parecem ser mais originais”, comenta ele, que sempre se debruça em livros sobre artesanato, história e geografia.


Jane Pire, aposentada de 54 anos, em contrapartida, estava visitando o espaço pela primeira vez e o considerou amplo e tranquilo, com os livros de fácil acesso. O acervo já é familiar, pois ela e sua família tinham o costume de retirar obras na sede antiga. Agora, a visita ao Palácio das Artes será mais frequente, na busca por livros espíritas - seu gênero favorito. “Ainda não tenho o hábito de ler pelo celular, prefiro o bom e velho livro. Aquele cheirinho...”.


Sem espaço

Em Bertioga, a antiga Biblioteca Municipal, que funcionava na Casa da Cultura, tornou-se a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura em 2018. O acervo do equipamento transferido para o Polo da Univesp, no bairro Indaiá. Agora os livros estão disponíveis apenas aos alunos da universidade. Sem previsão para sair do papel, a Diretoria de Cultura planeja instalar minibibliotecas na cidade, com novos livros e ações de contações de histórias.


 Jane visitou o espaço pela primeira vez; na família, todos locam livros; Livro físico atrai Renato, que vai ao local duas vezes por semana
Jane visitou o espaço pela primeira vez; na família, todos locam livros; Livro físico atrai Renato, que vai ao local duas vezes por semana   Foto: Vanessa Rodrigues

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