Autora angolana traça paralelo com Brasil em livro que fala sobre violência doméstica e superação

Lançado neste mês no Brasil, "O Fardo de Amar" se inspira em relatos reais

Por: Beatriz Araujo  -  24/08/21  -  08:43
Atualizado em 24/08/21 - 13:17
 A obra é feita com base em relatos verídicos
A obra é feita com base em relatos verídicos   Foto: Divulgação

Na esperança de relembrar às mulheres vítimas de violência doméstica que elas não estão sozinhas, nasce o livro O Fardo de Amar, da romancista angolana Ercídia Correia – com o pseudônimo Lady Book. A obra, feita com base em relatos verídicos, estabelece uma conexão entre Angola e Brasil, locais em que a autora nota similaridade na forma como a violência se estabelece.


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“Foi difícil escrever esse livro. Fiquei muito sensibilizada com os relatos”, diz a autora, que adianta também ser uma história “difícil” de se ler, por possuir muitos gatilhos. Apesar disso, considera sua obra mais importante até então.


A protagonista é Helena, uma adolescente vendida aos 16 anos pela própria mãe a um homem 20 anos mais velho. É uma história imersa em dor e submissão, até que Helena conhece alguém que a ajuda a fugir, deixando tudo para trás–mesmo o filho recém-nascido. Anos depois, ela recebe ajuda para enfrentar este passado e resgatar seu filho – superando a dor, com amor.


Nessa recuperação, Helena passa por consultas psiquiátricas e faz terapia para lidar com os traumas de violência. A autora diz que esta parte psicológica é bem trabalhada na obra, enriquecendo-a. “Sempre tem um toque de medicina nos meus livros”, afirma a autora, estudante de Medicina em Cuba.


O livro está emsua 2ª edição, lançada no Brasil neste mês por conta do Agosto Lilás, em que há a campanha de enfrentamento à violência doméstica contra a mulher. Em Angola, os exemplares devem chegar apenas no ano que vem.


Brasil x Angola


Apesar de ainda não ter visitado o Brasil, Ercídia conta que o país sempre esteve presente em sua rotina. “Culturalmente, nós bebemos muito do Brasil na Angola. Principalmente da TV brasileira, que é muito presente”. Em meio à vontade de estabelecer, cada vez mais, pontes com o Brasil e com os leitores brasileiros, a angolana se surpreendeu com os dados de violência doméstica que encontrou durante as pesquisas de elaboração do O Fardo de Amar.


Além dos altos índices de feminicídio e violência sexual, Ercídia ressalta a similaridade dos autores e das causas da violência doméstica nos países. “No Brasil, os maiores precursores dessa violência são os parceiros românticos das mulheres, assim como em Angola. É algo muito cultural. Pude fazer ligações queme ajudaram muito a escrever o livro”, conta.


A partir disso, Ercídia diz que escreveu o romance na intenção de chamar a atenção das mulheres, “para que elas não se permitam chegar onde Helena precisou chegar, estando à mercê de alguém”. Ela também encara ser um livro para que os homens leitores se atentem às relações de abuso de poder, que inferiorizam mulheres. “A mensagem que Helena quer passar é de que a culpa não é da mulher que foi vítima de violência doméstica. Elas não provocaram isso. Elas são as vítimas da situação e não são culpadas de estarem ali.


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