Autor João Emanuel Carneiro comenta sobre vilões sempre atuais em novelas
Em entrevista, ele fala sobre adaptações, personagens marcantes e o poder das tramas
![João Emanuel Carneiro: “História continua atual hoje em dia, com heróis suspeitos e dúbios”](http://atribuna.inf.br/storage/Variedades/Pop_&_Art/img3171679113916.webp)
Quando estreou em 2008, A Favorita provocou reações variadas no público, que se mantinha fiel aos folhetins, com personagens bem delineados. Afinal, como o autor, João Emanuel Carneiro, se atrevia a criar uma trama que não deixava claro quem seria a vilã e quem seria a mocinha? Em uma sacada audaz, a trama foi com o tempo conquistando fãs, que se dividiriam na torcida pelas protagonistas Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar).
Após tantos anos, a produção será reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. Em sua estreia no horário das nove com A Favorita, João Emanuel chegou com uma proposta que levaria a dividir opiniões, o que mexeria com a audiência do horário, o ponto forte da emissora. Mas ele estava convicto que sua ideia era plausível, manteve o foco e conseguiu fazer com que a novela se transformasse em marco, com personagens icônicos. Algo que ele também garantiu com Avenida Brasil e sua inesquecível vilã Carminha (Adriana Esteves).
Inovar no formato de contar uma história em um gênero tão importante e popular na TV brasileira foi algo que precisou de aval?
Na época, contei com o aval do Manoel Martins, do Mário Lúcio Vaz, do Ary Grandinetti e do Érico Magalhães, que eram diretores da Globo. Eles tiveram coragem de apostar numa história ousada e inovadora, quebrando vários paradigmas do folhetim.
De onde veio a ideia de iniciar uma trama sem deixar claro quem era a vilã e a mocinha?
A história nasceu dessa ideia: duas versões de uma mesma história, quem está dizendo a verdade? Me parece que a história continua bem atual hoje em dia, uma época de heróis suspeitos e dúbios, num mundo polarizado em que cada um quer acreditar na história que nos cabe melhor.
Em que momento você decidiu quem seria a vilã da novela?
Sempre soube que a Flora era a assassina.
Foi tudo de caso pensado, digo, pensou toda a trama antes, desde esse começo dúbio até o desfecho?
Não mudei nada para elevar a audiência.
Você se divertiu com as reações do público?
Fiquei pasmo quando muitas telespectadoras me escreveram relatando que entraram em crise existencial, não conseguiam mais dormir quando descobriram que a mocinha pobre por quem elas torciam era a vilã da história.
Se surpreendeu ao ver que o público se identificou mais com a vilã, por ela ser pobre? É algo que caracteriza a sociedade brasileira?
Pois é, esse detalhe da identificação do público com a moça pobre era mais radical ainda do que eu imaginava. Fazer dela uma assassina foi a coisa mais disruptiva na novela.
Você gosta de vilões, afinal, criou duas das maiores, Flora e Caminha. Eles são mais densos, mais interessantes mesmo?
Eu espero que o público vibre com a novela como foi na exibição original. Acho que agora vai ter um lado interessante porque o espectador irá assistir à novela já sabendo quem é a vilã da história desde o início, vai poder observar as personagens de uma outra forma, e vamos poder acompanhar essa repercussão imediatamente pelas redes sociais.
Existe uma fórmula ideal para desenvolver uma novela de sucesso?
Meus professores foram os filmes a que assisti, sete por semana no mínimo desde a adolescência. Acho que o cinema me salvou de um certo lugar comum de acreditar que existe uma espécie de manual de folhetim.