Autor João Emanuel Carneiro comenta sobre vilões sempre atuais em novelas

Em entrevista, ele fala sobre adaptações, personagens marcantes e o poder das tramas

Por: Estadão Conteúdo  -  17/05/22  -  08:22
João Emanuel Carneiro: “História continua atual hoje em dia, com heróis suspeitos e dúbios”
João Emanuel Carneiro: “História continua atual hoje em dia, com heróis suspeitos e dúbios”   Foto: João Cotta/Globo/Divulgação

Quando estreou em 2008, A Favorita provocou reações variadas no público, que se mantinha fiel aos folhetins, com personagens bem delineados. Afinal, como o autor, João Emanuel Carneiro, se atrevia a criar uma trama que não deixava claro quem seria a vilã e quem seria a mocinha? Em uma sacada audaz, a trama foi com o tempo conquistando fãs, que se dividiriam na torcida pelas protagonistas Donatela (Claudia Raia) e Flora (Patrícia Pillar).


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Após tantos anos, a produção será reprisada no Vale a Pena Ver de Novo. Em sua estreia no horário das nove com A Favorita, João Emanuel chegou com uma proposta que levaria a dividir opiniões, o que mexeria com a audiência do horário, o ponto forte da emissora. Mas ele estava convicto que sua ideia era plausível, manteve o foco e conseguiu fazer com que a novela se transformasse em marco, com personagens icônicos. Algo que ele também garantiu com Avenida Brasil e sua inesquecível vilã Carminha (Adriana Esteves).


Inovar no formato de contar uma história em um gênero tão importante e popular na TV brasileira foi algo que precisou de aval?


Na época, contei com o aval do Manoel Martins, do Mário Lúcio Vaz, do Ary Grandinetti e do Érico Magalhães, que eram diretores da Globo. Eles tiveram coragem de apostar numa história ousada e inovadora, quebrando vários paradigmas do folhetim.


De onde veio a ideia de iniciar uma trama sem deixar claro quem era a vilã e a mocinha?


A história nasceu dessa ideia: duas versões de uma mesma história, quem está dizendo a verdade? Me parece que a história continua bem atual hoje em dia, uma época de heróis suspeitos e dúbios, num mundo polarizado em que cada um quer acreditar na história que nos cabe melhor.


Em que momento você decidiu quem seria a vilã da novela?


Sempre soube que a Flora era a assassina.


Foi tudo de caso pensado, digo, pensou toda a trama antes, desde esse começo dúbio até o desfecho?


Não mudei nada para elevar a audiência.


Você se divertiu com as reações do público?


Fiquei pasmo quando muitas telespectadoras me escreveram relatando que entraram em crise existencial, não conseguiam mais dormir quando descobriram que a mocinha pobre por quem elas torciam era a vilã da história.


Se surpreendeu ao ver que o público se identificou mais com a vilã, por ela ser pobre? É algo que caracteriza a sociedade brasileira?


Pois é, esse detalhe da identificação do público com a moça pobre era mais radical ainda do que eu imaginava. Fazer dela uma assassina foi a coisa mais disruptiva na novela.


Você gosta de vilões, afinal, criou duas das maiores, Flora e Caminha. Eles são mais densos, mais interessantes mesmo?


Eu espero que o público vibre com a novela como foi na exibição original. Acho que agora vai ter um lado interessante porque o espectador irá assistir à novela já sabendo quem é a vilã da história desde o início, vai poder observar as personagens de uma outra forma, e vamos poder acompanhar essa repercussão imediatamente pelas redes sociais.


Existe uma fórmula ideal para desenvolver uma novela de sucesso?


Meus professores foram os filmes a que assisti, sete por semana no mínimo desde a adolescência. Acho que o cinema me salvou de um certo lugar comum de acreditar que existe uma espécie de manual de folhetim.


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