Aulas remotas de música e canto driblam a quarentena

Sem locais para shows, músicos da região investem nos cursos on-line, com sucesso

Por: Egle Cisterna & Da Redação &  -  06/09/20  -  22:23
Carla Mariani ensina canto para Enzo Ferrão
Carla Mariani ensina canto para Enzo Ferrão   Foto: Alexsander Ferraz

Com bares e casas noturnas de portas fechadas para shows devido à pandemia, músicos da Baixada Santista tiveram que se reinventar para continuar trabalhando. Um dos caminhos encontrados foram as aulas on-line, que ganharam adeptos não só entre os alunos presenciais, o que muitos dos profissionais já tinham. Com a quarentena, pessoas que tinham o sonho de estudar música aproveitaram o isolamento para colocar o plano em prática, virtualmente.


E esse não é um fenômeno regional. Músicos do mundo inteiro, de renome nos palcos, seguiram a opção do ensino musical a distância durante a pandemia. Apesar da falta do contato físico e interação entre aluno e professor – essencial para o artista aprendiz em muitos casos – a tecnologia, aliada a mais tempo disponível para treino, fez com que muitos alunos evoluíssem mais rápido no aprendizado neste período de rotinas fora do normal. Veja algumas dessas experiências a seguir e se inspire!


Pandemia ampliou curso de canto


A cantora Carla Mariani já dava aulas presenciais de canto desde 2016, mas, mesmo com o preconceito por parte de alguns alunos, aulas pela internet foram a única forma de continuar o trabalho. “Um mês antes da pandemia, tinha criado um canal com dicas de técnicas vocais.


E a procura começou a vir de todo o Brasil”, conta ela. A aposta no formato de curso deu tão certo que nesse período de pandemia ela abriu o Instituto da Voz Carla Mariani e, pela demanda, já tem mais uma professora e projeto ampliar o quadro com outro profissional de canto e um fonoaudiólogo. “Boa parte da minha renda vinha de shows. Ter a escola foi o que me salvou neste período”, avalia Carla.


Ela não pensa em voltar com o curso presencial tão cedo, uma vez que as atividades de canto exigem que os alunos não usem máscaras. Ela também percebe a evolução mais rápida de seus alunos com as aulas remotas. “Eles têm as aulas e todo o exercício gravado, o que possibilita que eles treinem depois”, detaha.


Formato digital veio para ficar


Luiz Oliveira, na aula de violão com Letícia Alcovér. (Foto: Arquivo pessoal)


O músico Luiz Oliveira já atuava no mercado de aulas, como um ganho mensal a mais, já que o forte de sua renda vinha de shows. Quando ele se viu obrigado a paralisar as atividades de sua escola, da Luiz Oliveira Guitar Team, viu a oportunidade de pensar em um novo modelo de negócios. “Já fazia algumas aulas por skype. Então, investimos no on-line, compramos bons equipamentos e aplicativos e divulgamos. E o resultado veio”, afirma ele, que contabiliza um crescimento de pelo menos 40% no número de alunos.


Ele avalia que as escolas que não se adaptarem vão ter um problema. “É preciso usar a criatividade, ser bom e prezar pela qualidade para se diferenciar.” Oliveira acredita que o formato digital veio para ficar e é o que deve seguir nos próximos meses.


“Temos alunos na Alemanha, no Chile, em Sorocaba, em São Paulo. Deixamos de ser uma escola de bairro. Tomamos a decisão de não reabrir neste período. Entregamos o ponto e quanto tiver uma vacina, abrimos novamente”, conta o músico.


Ausência de audições faz falta


Mauro Hector e Izana Prado, na aula de guitarra. (Foto: Arquivo pessoal)


Mauro Hector já dividia sua carreira entre tocar ao vivo e dar aulas. Ter alunos virtuais também não é uma novidade. Ele já fazia isso com alguns alunos que moravam longe de Santos. Então, passar as aulas presenciais para a modalidade remota não foi difícil. “Todos toparam as aulas on-line. É uma dinâmica que dificulta um pouco e houve uma adaptação para isso”, lembra ele, que neste período contou com a retomada dos estudos de ex-alunos e de gente que aproveitou o tempo em casa para aprender um instrumento.


Hector vê apenas um problema neste modelo de aula: a ausência de audições. “Todo ano, fazíamos uma jam session para fazer o pessoal sentir a energia de tocar ao vivo. Nisso a pandemia atrapalhou um pouco”.


A falta de contato com o público não afetou apenas os alunos. “Para quem é músico, isso é fundamental. Esse período não foi nada fácil. Tive que focar em produzir material. Os músicos tiveram que achar soluções para cuidar da mente. Dar aulas foi uma delas”, avalia.



Aulas virtuais atendem certos perfis


Anderson Botega com a aluna Thais Souza Santos. (Foto: Arquivo pessoal)


O músico Anderson Botega, da escola Blackbird, conta que a música ajudou muito seus alunos a suportar o peso da quarentena. “Manter as aulas on-line foi uma opção para que eles também ocupassem o tempo e se divertissem, pois a música também traz benefícios para a parte emocional”, acredita.


Ele não sentiu muita procura de novos alunos durante a pandemia e, em agosto, depois da autorização da Prefeitura de Santos, já voltou com as aulas presenciais. “Mas as aulas on-line são algo que veio para ficar. Metade dos alunos já voltou, mas tem gente que só vai retornar no ano que vem”, afirma ele, que antes de reabrir a escola fez uma pesquisa com seus clientes.


Ele avalia que o aprendizado com a tecnologia remota atende muito bem alguns perfis, mas não são todos os alunos que se enquadram nas aulas virtuais. “Depende muito do perfil, mas com crianças pequenas é bem complicado e pessoas de mais idade esbarram na tecnologia. Mas com adolescentes, por exemplo, foi fantástico”, comenta.


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