Arte do restauro, a serviço do presente

Livros e relíquias históricas ganham nova vida com o trabalho

Por: Bruna Faro & Da Redação &  -  02/06/19  -  20:03
  Foto: Rogério Soares / AT

Todos os dias, a historiadora da Fundação Arquivo e Memória de Santos, Karime Moussalli Antigo, checa três vezes a temperatura no acervo de documentos e livros da casa, situada no Centro de Santos. A jovem, de 24 anos, atua no local como pesquisadora e arquivista, e ainda cuida das exposições, da educação patrimonial, entre outras funções.


Como conta, ela é responsável por manter cerca de 60 mil documentos (90% deles manuscritos), fora livros, testamentos, escrituras, mapas e registros da história de Santos, todos bem conservados.


Caso algum deles tenha um sinal de deterioração, lá vai ela com sua máscara, óculos e luvas para restaurá-los. “Passei a me interessar quando percebi que o trabalho arquivístico e histórico está diretamente relacionado com esse setor (restauração), já que a conservação e o restauro cuidam para que a integridade física do documento permaneça”.


A temperatura é um ponto importante na questão da preservação das obras. O ambiente não pode estar muito úmido, nem muito seco. Mas o importante é ficar de olho na porcentagem do termômetro.


“Por conta do nosso clima quente e úmido, para que os livros permaneçam preservados é preciso um controle diário, cuidando sempre para que não sofra variações bruscas desses números”, explica ela, ao acrescentar: “Os livros devem ser acondicionados em ambientes adequados, sofrendo pouca exposição à luz e, se possível, ter um desumidificador de ambiente. É preciso também ter manuseio e higienização constantes”.


Enquanto Karime cuida dos arquivos da memória santista por aqui, do outro lado do mundo, a paulistana criada em Santos, Eliane Kristina Gomes, trabalha no restauro de livros no seu ateliê em Haarlem, cidade próxima de Amsterdã, na Holanda. Desde cedo, Eliane nutria paixão por história, arte e diferentes culturas. Por isso, saiu do Brasil para conhecer novos lugares. Se formou em Hotelaria na Suíça, mas o destino a levou para o país dos moinhos. Casada com um holandês, ela trabalha desde 2014 com restauro. Ano em que abriu a empresa Nautilus Boekbinderij, em português, Nautilus Encadernação. Segundo ela, o processo de restauro é demorado e minucioso. “Não tem fórmula geral. Primeiro passo é avaliar, entender o que está causando a deterioração. Dali você começa a formular o tratamento. Cada objeto, tipo de material e combinação exige esta ou aquela ação. Geralmente você começa pelo interior, daí passa para a capa. Mas sempre dá um friozinho na barriga ao começar”.


Explica a restauradora que ela cuida de todo tipo de arquivo, desde livros e pergaminhos a quadrinhos. Ela sempre respeita o legado histórico, material e emocional do objeto. “Os tratamentos devem ser reversíveis. Como é uma área que está sempre se atualizando, se uma técnica nova aparece, você pode reverter e aplicá-la”.


Além da responsabilidade de manter a peça conservada, ambas as profissionais têm a missão de cuidar da história que vive nas páginas de cada livro. “Essa profissão é importante para preservar um legado, seja emocional, histórico ou cultural”, diz Eliane. “Se não preservarmos a cultura material e imaterial ela se perde, se distorce. A conscientização está nas nossas mãos. Como vamos falar do presente, sem conhecer o passado?”


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