Uma viagem no tempo, de carona com o Rádio Táxi

Primeiro vocalista da icônica banda dos anos 80, Willie de Oliveira, relembra histórias da época

Por: Ronaldo Abreu Vaio  -  03/03/22  -  10:51
Os integrantes do Rádio Táxi eram da banda de apoio de Rita Lee
Os integrantes do Rádio Táxi eram da banda de apoio de Rita Lee   Foto: Arquivo pessoal

Ano: 2022. Uma banda formada às pressas precisa encontrar um nome. Lá pelas tantas, um dos envolvidos, que morava em outra cidade, desabafa: “não aguento mais: sair da minha casa, pegar Uber, aeroporto, Uber de novo, até chegar aqui”. Todos se entreolham, dão gritos e urras: ‘tá aí o nome, Uber’!


O Rádio Táxi chega ao Ilha Porchat para o lançamento do primeiro álbum
O Rádio Táxi chega ao Ilha Porchat para o lançamento do primeiro álbum   Foto: Arquivo pessoal

Caro leitor, essa história é verídica. Basta voltar 40 anos no tempo, a 1982, e substituir Uber por Rádio Táxi. Já o tal ‘envolvido’, no caso, era ninguém menos do que o jornalista e compositor Nelson Motta, de certa forma o ‘pai’ de uma das bandas mais emblemáticas dos anos 80.


Willie de Oliveira tem um projeto de resgate da memória musical dos anos 80
Willie de Oliveira tem um projeto de resgate da memória musical dos anos 80   Foto: Divulgação

Quem revela para A Tribuna esses detalhes de um capítulo do BRock (como ficou conhecido o rock da década de 80) é Willie de Oliveira, o vocalista original do Rádio Táxi.


Willie e Rita Lee: a rainha do rock presenteou o Rádio Táxi com uma canção
Willie e Rita Lee: a rainha do rock presenteou o Rádio Táxi com uma canção   Foto: Arquivo pessoal

O grupo, contudo, aconteceu quase por acidente. À exceção do baterista Gel Fernandes, Willie, assim como o baixista Lee Marcucci e o guitarrista Wander Taffo integravam a banda de apoio de Rita Lee.


Certa vez, Lee Marcucci chegou com uma fita K7 para Willie. “Ele disse, ‘vamos gravar semana que vem’. Na época eu gravava jingles, cantava de tudo, peguei pra ouvir. Não sabia pra que era”, relembra Willie.


Era, simplesmente, Garota Dourada, que viria a ser um dos maiores sucessos da banda. “Cheguei no dia pra gravar, mas achei estranha a letra, fala em ‘quero ser teu irmão/eu sou teu irmão/namorado’, disse ‘isso não vai dar certo”, recorda, aos risos. “Então me disseram que era do Nelson Motta, falei ‘legal’, mas não tinha pretensão”.


A gravação foi uma encomenda, para ser incluída na trilha sonora do filme Menino do Rio. “Saiu sem crédito de intérprete no filme, porque não havia banda formal ainda”, relembra Willie.


Enfim, um grupo!


Sem nome, sequer sem ser uma banda, o futuro Rádio Táxi já tinha música incluída até em trilha sonora. Essa história inusitada começaria a mudar ainda no lançamento de Menino do Rio, o filme, em janeiro de 1982.


“Na premiére, no cinema, o pessoal da gravadora chegou e falou, ‘bom, agora vocês têm que arrumar um nome e gravar um disco”. Uma sugestão de nome prontamente rechaçada por todos foi Sobrinhos da Rainha, uma alusão ao fato de integrarem a banda da ‘rainha’ Rita Lee. Estavam pendendo para batizar o grupo de Matriz, quando Nelson Motta chegou do Rio de Janeiro reclamando das agruras dos deslocamentos pelo País, mencionando os rádios táxis da vida.


Estreia por aqui


A Baixada Santista tem o seu quinhão na ‘quilometragem’ do Rádio Táxi. O álbum de estreia foi lançado em um show no Ilha Porchat Clube, conforme nota publicada em A Tribuna, em 30 de julho de 1982. A então toda poderosa gravadora CBS (atual Sony), montou uma jogada de marketing inusitada para a ocasião.


“Eles fretaram em São Paulo 10 rádios táxis, daqueles vermelhos e brancos, e viemos em comboio, com a imprensa e radialistas”, recorda Willie.


Nem precisaria tanto: além de Garota Dourada, um álbum com Coisas de Casal(presente de Rita Lee), Vai e Vem, Abelha Rainha e Põe Devagar nasceu para o sucesso.


“Pra gente era tudo muito novo, embora tivéssemos uma carreira na música, mas ao lado da Rita Lee... de repente, deixei de ser backing vocal pra ser o cantor principal – e com músicas inéditas. Pegar um clube e tocar cover é uma coisa, o público aceita diferente, porque canta junto”.


Mais um


Sucesso pede replay. Um ano depois, saía Com o Rádio Ligado, que trazia, além da canção-título do álbum, Sanduíche de Coração (tema da novela Pão Pão, Beijo Beijo) e o megahit Eva. O estrelato também foi o início do desembarque de Willie do Rádio Táxi.


“Começa a entrar dinheiro... é complicado... mas já estava envolvido em outros projetos, gravei Sinal de Paixão, do Cláudio Rabello e do Piska, que entrou na trilha da novela Livre para Voar”, explica.


Anos 80


Após outra passagem pelo Rádio Táxi, em 1997, o cantor tem se dedicado à carreira solo. Antes da pandemia, ele estava envolvido em um projeto de resgate da música dos anos 80, viajando o Brasil com a banda Yahoo. Hoje, mantém o mesmo projeto, em versão acústica, com o guitarrista santista Milton Medusa.


Para ele, os anos 80 são musicalmente especiais. “Vejo saudosismo do rock dos anos 60, 70 e 80, mas não vejo ainda de épocas posteriores”. Saudades? Sim, sobretudo dos grandes palcos, mesmo – ou, talvez, por isso mesmo – das dificuldades técnicas.


“Hoje é fácil, o led deixa o palco bonito. Na nossa época era na raça. a luz eram aqueles refletores, uma sauna; pra mudar a cor, era com papel celofane na lâmpada. O iluminador tinha que subir na escada colocar o papel na cor tal, pulava pra cor tal, tinha que marcar tudo... hoje, o mesmo refletor faz o amarelo, o verde, o azul...”.


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