O ano era 1991 e a greve dos trabalhadores do Porto de Santos estampava a primeira página dos jornais. Durante 21 dias, o cais ficou parado. Trabalhadores acamparam dentro da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), bloquearam a entrada da Cidade e tomaram a Praça Mauá. A partir dessa história tão marcante, a jornalista e escritora Luciana Almeida idealizou o romance Resista!.
A inspiração, de certa forma, veio de dentro de casa: aos 12 anos, ela observava toda a movimentação porque seu pai, o portuário aposentado José Valdeci de Jesus, foi um dos grevistas. “Eu via o meu pai preocupado, os amigos dele preocupados, mas nunca tinha entendido a razão daquilo”.
Quando foi cursar Jornalismo sempre pensava nessa história, mas nunca conseguiu encaixá-la durante a faculdade. “O tempo foi passando e me deparei com um mundo de informações e detalhes sobre o ocorrido. Decidi escrever o livro porque pensei que, assim como eu, as pessoas que eram mais novas naquela época provavelmente não sabem o que aconteceu”, explica Luciana.
Demissão em massa
Tudo começou quando o maior porto da América Latina entrou em greve por 18 dias. Havia uma lista com o nome de 800 trabalhadores que seriam demitidos e isso causou revolta. A categoria queria a garantia de que essas 800 pessoas não seriam mandadas embora e também aproveitou para reivindicar melhorias de salário e plano de saúde.
Passaram-se 18 longos dias quando a Codesp prometeu melhorias e a greve se encerrou. Foi quando um balde de água fria surpreendeu os grevistas: o ex-presidente da República Fernando Collor de Melo lançou o chamado Plano Collor II, que desobrigava as empresas a reajustarem salários. Dessa forma. a promessa que os portuários tinham recebido na greve ficou só na palavra. “Eles se sentiram traídos”, explica a jornalista e escritora.
Os trabalhadores não tiveram outra alternativa senão declarar greve novamente. Dessa vez, ela durou 21 dias. Os detalhes a respeito das negociações e impasses que resultaram, há 31 anos, na demissão de 5.372 funcionários são relatados em Resista!, romance inspirado na mais longa greve do Porto de Santos que sublinha quem faz a engrenagem do cais santista acontecer: o trabalhador portuário.
Enredo
A história traz a personagem Juliana, uma fotógrafa recém-contratada em um jornal de Santos que foi deslocada, coincidentemente, para cobrir a greve. “Coincidentemente, porque dentro de casa ela sabia exatamente o que estava acontecendo, pois o pai dela era um dos grevistas”, afirma Luciana.
Enquanto é escalada para cobrir aquela que seria a paralisação mais longa da história do Porto, ela precisa ainda lidar com as consequências que a greve traz para dentro de sua própria casa e tenta equilibrar suas emoções, procurando não deixar que a situação da família afete seu trabalho.
“Várias histórias permeavam aquela greve. Caberiam vários romances porque eram 5.372 homens, 5.372 histórias. A minha eu criei para contar da melhor forma, mas existem vários romances reais que aconteceram e famílias que ficaram desesperadas”, explica a autora.
Luciana afirma que, em Resista!, as pessoas poderão encontrar muita informação e diversão. “A personagem é uma menina de 20 e poucos anos que está começando um namoro, iniciando em um trabalho, e acabou caindo no meio desse turbilhão de emoções e informações. Acredito que as pessoas vão se surpreender”.
Cenário nacional
Em 362 páginas, a obra também apresenta o retrato do Brasil de 1991, que sofre com a hiperinflação, o declínio da economia, o congelamento de salários e grevistas e familiares tentando resistir às adversidades impostas pelo Plano Collor II.
Lançamento
O livro será lançado neste sábado (6),às 14h30, na Santos Best Coffee Cafeteria (5º andar do prédio da Prefeitura de Santos, Praça Mauá s/nº). A obra, no valor de R$ 48,90, estará à venda durante o lançamento.