Sem ranço! Gírias cada vez mais mudam a língua

Expressões do dia a dia refletem transformação cultural constante

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  30/06/19  -  15:03
Com a colaboração da internet, gíria tem sido encarada como um elemento cultural
Com a colaboração da internet, gíria tem sido encarada como um elemento cultural   Foto: Mônica Sobral/ AT

Ela é constituída por uma linguagem informal, criada a partir de vínculos de um grupo, possui vocabulário repleto de metáforas e expressões jocosas e é mais efêmera que a linguagem tradicional. Trocando em miúdos: é gíria.


Antes, ela era vista como exclusividade de grupos marginalizados e causava rançonas elites. Hoje, com a colaboração da internet, ela tem sido encarada como um papo retoque surge dos vínculos de um grupo. Um elemento cultural.


“Antigamente, as gírias eram vistas de maneira pejorativa. Hoje, as pessoas estão mais abertas e o preconceito linguístico vem diminuindo”, avalia a professora de Literatura e Língua Portuguesa da Unimes, Giselle Agazzi.


Estudos dão mais seriedade à questão e, atualmente, até mesmo a própria Base Nacional Comum Curricular (BNCC) lacrouao valorizar a linguagem juvenil e pedindo atenção à língua que corre pelas ruas.


“É claro que a escola não ficará restrita a isso. Mas é preciso um olhar atento. Com a influência da internet, o processo de disseminação das gírias para outros grupos ficou mais dinâmico”, afirma Giselle.


A doutora em Filologia e Língua Portuguesa e professora da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP, Elis de Almeida Cardoso, fechacom Giselle e entende que o mundo contemporâneo tem dado mais brechaàs gírias.


“Elas não são mais restritas a adolescentes e, por isso, deixam de ser associadas à ignorância, à falta de escolaridade e de leituras, ao desconhecimento da gramática e de vocabulário”.


O fisioterapeuta Júlio Pereira tem 39 anos e fala gírias “Mano, flopar, partiu... Falo bastante. Mas acho que isso não me causa problemas, porque sei a hora, onde e com quem falar. As gírias têm a ver com a nossa cultura. É legal ficar por dentro, mas é importante saber quando usar”.


Aproximação


Na linguagem falada espontânea e nas mídias sociais, a gíria é um recurso para aproximar interlocutores, quebrar a formalidade e forçar uma interação próxima dos interesses das pessoas que dialogam.


E não adianta fingir demência, porque as gírias estão ganhando prestígio social e cada vez mais fazem parte de aulas, conferências e discursos políticos.


“Sem falar da presença massiva nos blogs, e-mails, fóruns e redes sociais. Não se pode mais pensar que a gíria é determinada pela faixa etária, mesmo porque comportamentos jovens se estenderam a outras faixas etárias”, detalha Elis. Então, pode pá,as gírias estão ganhando mais espaço.


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