O que uma crise econômica nos EUA tem a ver com a Dança de Rua em Santos?

Grande Depressão impulsionou a modalidade que viria a ser um marco do hip hop

Por: Giovanna Corerato  -  23/02/22  -  12:18
Há 30 anos na estrada, o Dança de Rua do Brasil é um grupo pioneiro em Santos
Há 30 anos na estrada, o Dança de Rua do Brasil é um grupo pioneiro em Santos   Foto: Fausto Franco

Em 1929, a Grande Depressão tomou conta dos Estados Unidos levando ao desemprego e, consequentemente, à fome. As ruas se tornaram palcos de muitos dançarinos que buscavam um trocado para sobreviver. Assim nasceu a concepção da Dança de Rua, que hoje faz parte da cultura hip-hop, como o graffiti, a discotecagem, o rap e a breakdance.


Com mais de 30 anos de atividade, o grupo Dança de Rua do Brasil foi responsável por criar o primeiro curso de dança de rua do País, idealizado e introduzido por Marcelo Cirino, com apoio da Secretaria de Cultura de Santos (Secult).


De acordo com o coreógrafo, até 1991, ano de fundação do grupo, não existiam cursos ou festivais que tratavam a dança de rua com o respeito que merecia.


Cirino é fundador e coreógrafo do grupo e acredita na liberdade única que o estilo possui. “Você pode usar qualquer elemento de outras danças na coreografia. Você pode misturar o frevo com a capoeira, o break com contemporâneo. A dança de rua não se prende a uma técnica, como o balé, por exemplo”, explica.


Por se tratar de um gênero de dança que surgiu nas periferias e guetos, a Dança de Rua já sofreu bastante preconceito e discriminação. “Nós já precisamos enfrentar diversas barreiras. Mas, hoje, isso diminuiu muito por conta de sua popularização”, celebra Cirino.


Miami Latin Freestyle


“O Brasil sempre foi um celeiro de grandes dançarinos, porém, a cultura hip-hop é de fora: a gente adapta para a nossa realidade. Aqui na Baixada Santista se desenvolveu o Miami Latin Freestyle, que é apenas dançado na região, de forma exclusiva”, explica o coreógrafo e diretor artístico do Dança de Rua do Brasil Nei Jackson.


Ele explica que o Miami Latin Freestyle, técnica desenvolvida na cidade de Santos, é uma junção do sapateado, jazz, street jazz, hip-hop dance freestyle, dançado na perspectiva das músicas eletrônicas típicas dos anos 80 e 90.


De acordo com o coreógrafo, o panorama brasileiro de dança de rua está muito sintetizado no que as pessoas assistem nas redes sociais, por isso elas acabam ficando parecidas. “Acredito que isso difira de Santos. Aqui, nós fazemos um trabalho original para emocionar o público; tem uma certa personalidade”.


Música


Nei Jackson explica que a dança de rua possui diversas vertentes e uma liberdade que nenhum outro estilo de dança tem. “Cada estilo possui suas músicas características, que faz com que os movimentos se sobressaiam. O popping, por exemplo, é dançado numa batida constante; o locking já é dançado num soul disco”.


Roupas


Como o estilo de dança nasceu nas ruas, as roupas são urbanas. Mas existem companhias profissionais que se aprofundam mais na questão glamorosa do figurino.


“Tem grupos que se apresentam com roupas que têm do armário e outros já preferem uma coisa mais profissional”, explica o coreógrafo.


Logo A Tribuna