Biografia do mentiroso mais famoso do Brasil ganha nova edição

Mentir para conseguir um emprego. Mentir para conquistar um amor. Mentir para entrar num evento. Foi o que fez o brasileiro que chegou a se passar por herdeiro de empresa aérea, policial e até guitarrista da banda Engenheiros do Hawaii. O livro que conta a sua história (VIP - Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano) acaba de ganhar uma nova versão (leia abaixo).

Marcelo Nascimento da Rocha, também conhecido como Marcelo Vip, nasceu em uma família humilde, em Maringá. Desde pequeno não escondia a compulsão pelas mentiras. “Logo na infância eu já mentia para ganhar doce”, admite. “Mas eu comecei a aperfeiçoar e descobri que eu tinha o poder da persuasão com 16 anos”.

Foi então, a partir da adolescência, que Vip passou a dar golpes e assumir outras identidades. Pouco antes da Copa do Mundo de 1994, antes mesmo de completar 18 anos, fingiu ser olheiro da comissão do técnico Carlos Alberto Parreira; ganhando influência e notoriedade.

Em 2001, aplicou o golpe que lhe daria fama nacional. Vip passou-se por Henrique Constantino, herdeiro da Gol Linhas Aéreas. Durante a Recifolia (festa de Carnaval fora de época em Recife), onde estavam famosos como Carolina Dickmann, Joana Prado e Marcos Frota, o vigarista foi entrevistado pelo apresentador Amaury Jr., conversando sobre a companhia aérea e suas finanças.

“As pessoas nem olhavam para mim antes de saber que eu era dono da Gol. Assim que souberam, passaram a me tratar super bem. Alguns grudavam”, lembra Marcelo.

Deixar o passado para trás

Marcelo Vip já foi preso 12 vezes e acredita que sua dívida com a justiça foi paga. “Meu passado ficou para trás. Hoje, levo uma vida tranquila, dou palestras, faço produção de eventos e trabalho no setor de consultoria de vendas”.

Depois de todos aqueles momentos de luxo que as identidades falsas lhe proporcionaram, vieram as dificuldades. “O maior desafio nesses anos todos foi doutrinar a minha cabeça para ter a vida que eu tenho hoje. Cumpri minha pena num sistema falido, que é o sistema carcerário brasileiro, mas sofri também ao ficar longe da minha família”, admite.

A arte imita a vida

As mentiras e golpes de Marcelo Nascimento da Rocha viraram o livro VIPs – Histórias Reais de um Mentiroso, escrito pela publicitária e escritora Mariana Caltabiano, que chega a nova edição agora, pela Matrix Editora. Ela relembra, para compor a obra, precisou fazer diversas entrevistas com Marcelo dentro da cadeia, com sua família, com pessoas enganadas por ele e até com um neurolinguista.

Em 2010, o livro virou filme estrelado pelo ator Wagner Moura, que vive Marcelo e suas aventuras. O longa chegou a concorrer à vaga no Oscar de melhor filme estrangeiro de 2012.

O livro

“O primeiro contato para escrever esse livro foi feito em uma penitenciária em Curitiba, junto com uma advogada. Marcelo me olhava com desconfiança e fazia muitas perguntas. Ficamos perto de uma cela lotada e minhas pernas estavam bambas. Mas, depois desse estranhamento inicial, ele se mostrou simpático e interessado na proposta”, afirma Mariana.

A autora conta que conheceu Marcelo Vip através do programa Amaury Jr. e ali descobriu que ele havia enganado a todos no evento Recifolia.

“O que mais me interessou na história, foi a oportunidade de mostrar a hipocrisia da nossa sociedade que muda o tratamento de acordo com quem eles pensam que você é.

Algumas pessoas passavam pelo Marcelo sem nem olhar na cara, depois que descobriam que ele era o dono da Gol, voltavam para abraçá-lo”, diz.

Mariana, que nunca havia passado nem perto de um presídio, admite que, sem dúvida, entrevistar um criminoso foi o seu maior desafio.

A nova edição do de Vips – Histórias Reais de um Mentiroso, traz o capítulo O que Aconteceu Depois que Este Livro foi Publicado, em que a autora, Mariana Caltabiano, conta como a obra se transformou em um filme estrelado por Wagner Moura e em um documentário da Netflix. E também revela como o biografado conseguiu cursar logística, em Curitiba, e tornar-se o principal vendedor de um esterilizador que, segundo ele, elimina do ar até 99% do coronavírus.