Um dia especial: Neste domingo acontece o equinócio de outono

Às 12h33 tem início a nova estação, um momento com muita história e ciência

Por: Redação  -  20/03/22  -  10:32
Às 12h33 deste domingo tem início o outono
Às 12h33 deste domingo tem início o outono   Foto: AdobeStock

Este domingo (20) é um dia especial. Um dia de festas, exageros, louvores e uma profunda imersão em deidades, mistérios e segredos. Hoje é o equinócio de outono, o dia em que o sol vai se pôr exatamente no Oeste.


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Para nós, cada vez mais dissociados da natureza, essa representação do final do verão e início do outono (início da primavera no Hemisfério Norte) não passa, porém, de uma marca no calendário (digital, óbvio) ou um prenúncio de alívio do calor.


Há no mínimo 5 mil anos, entretanto, nossos horizontes eram outros. Era o início da astronomia, a mãe de todas as ciências, e o céu era simplesmente impossível de ser ignorado.


Espanto
Pelo mundo, inclusive onde agora chamamos de Brasil, a sociedade criou vários monumentos para marcar exatamente esse dia. Seja uma pintura rupestre ou uma pirâmide, começamos a prever nosso futuro.


E tudo isso foi feito com observação, questionamento e dedução. Milhares de anos. Imagine o espanto dos que observavam o exato momento em que o sol era ‘capturado’ em um buraco na rocha, exatamente como previra o xamã ou o líder tribal?


Espíritos
Sim, o equinócio também proporcionou um grande exercício espiritual para a humanidade, de constelações a deidades. E, novamente, o ser humano construiu uma infinidade de templos para representar suas crenças.


As linhas de Nazca e a cidade de Machu Picchu (Peru); Stonehenge (Reino Unido), Chichén Itzá (México) e até mesmo o templo do faraó Ramsés (Abu Simbel), no Egito, são apenas alguns poucos exemplos de sofisticados calendários para solstícios e equinócios.


A cada ano, década ou século, nos sentimos mais e mais compelidos a traduzir todo esse universo. Pintamos cavernas, do Piauí à China, criamos arte, música e começamos a dominar o tempo.


Humildade
Era fundamental. Questão de sobrevivência, expansão. O momento certo da semeadura, o surgimento do arado, do quadrado, da posse. Em palavras, números e símbolos, o alfabeto e a matemática criaram legados.


Os antigos polinésios navegaram milhares de quilômetros pelo Pacífico utilizando as estrelas e os egípcios rastrearam a ascensão da brilhante estrela Sirius, cujo ciclo anual correspondia à inundação do Rio Nilo, do qual dependiam para as colheitas.


Hoje, é difícil para nós compreender as necessidades por trás desse tremendo esforço. A maioria, por exemplo, não saberá dizer sequer qual a espécie de árvore plantada em frente à sua moradia, nem de onde vem seu alimento. Muito menos os rios de sua cidade, onde nascem, para onde correm, que recursos possuem.


O equinócio, como qualquer fascínio por desvendar o que nos cerca, é uma alavanca poderosa rumo ao conhecimento. E hoje, nesse sentido, é um dia especial, que nos recorda heranças e conquistas, ao mesmo tempo em que nos coloca humildes diante de tanto ainda por saber.


Percepção do entorno
Aprender a encontrar padrões na natureza permitiu um grande avanço à sociedade humana. A migração de uma espécie de ave, por exemplo, indicava mudanças nas estações. Algumas aves de rapina viajam do Norte da América e passam pelo Litoral Paulista rumo ao Sul. Aliás, a região é rica em avifauna. Santos e Bertioga já catalogaram mais de 250 espécies. Mais aparente é a floração. Em breve, até mesmo nas áreas urbanas será perceptível a flor da quaresmeira (foto) – cujo nome, por si só, já indica o período de maior ‘destaque’ da planta.


Conectar essas repetições gerou e ainda gera uma infinidade de outras conexões, um jogo infinito, que só termina com o fim da curiosidade humana.


Faça em casa
Equinócio, do latim aequus (igual) e nox (noite), significa que, nesta data, a duração das horas claras (sob luz solar) e escuras (à noite) quase se igualam, não importa onde você esteja. Mas mesmo na cidade, é possível conferir o equinócio. Basta ter visão do pôr do sol. Utilizando algum elemento fixo como referência (uma janela, por exemplo), faça uma marca onde o sol se pôs. A marca feita este ano só se repetirá no mesmo dia e horário dos anos seguintes. Quem quiser, pode marcar os solstícios, momento em que um dos polos (Norte ou Sul) encontra-se o máximo possível inclinado em direção ao Sol, marcando o início do verão ou do inverno. Para saber mais, acesse este site www.zenite.nu


Ostras, crocodilos e vacas
As primeiras civilizações antigas concebiam o universo das mais diferentes formas. No México e na América Central, a Terra era vista como um crocodilo flutuando sobre um submundo aquático, cuja respiração, entrando e saindo das bocas das cavernas, trazia chuva.


Os babilônios, por exemplo, viam o céu como uma ostra cercada de água, uma cúpula sólida através da qual a umidade às vezes se infiltrava como chuva.


Já os egípcios enxergavam seu céu como uma vaca, com um pé plantado em cada canto da Terra. Os deuses do sol e da lua navegavam ao longo de um rio que corria em uma galeria elevada ao redor das paredes internas de uma caixa.


Pitágoras
Na cosmologia grega de Homero (928 a.C. a 898 a.C.), por sua vez, o universo se assemelhava a um disco flutuante cercado pelo Oceano — o grande rio mítico que circundava o mundo.


Aristarco de Samos (310 a.C. a 230 a.C.) foi o primeiro a teorizar que a Terra girava em torno do Sol, tese rejeitada na época, entre outros, por Aristóteles, pensamento que perdurou por 1.400 anos, até Nicolau Copérnico.


Aristarco utilizou o teorema desenvolvidos séculos antes por outro grego, Pitágoras – o primeiro proponente da ideia então radical de que a Terra era redonda – para calcular (erradamente) a distância da Terra ao Sol.


Anticítera
Os gregos chegaram perto de calcular corretamente a circunferência da Terra, graças a Eratóstenes (276 a.C. a 195 a.C.), chefe da Grande Biblioteca de Alexandria, no Egito.


Esse profundo fascínio pelos cálculos astronômicos se manifesta no mecanismo de Anticítera. Descoberta em 1901, essa calculadora astronômica, com mais de 2 mil anos, era capaz de prever as posições do Sol, da Lua e dos planetas e eclipses lunares e solares.


Por falar em calendário, os maias desenvolveram um dos mais sofisticados, baseado em suas observações astronômicas, por meio do qual definiram o mundo em três reinos distintos, com um submundo e, acima dele, 13 níveis superiores.


Brasil
Assim, o ciclo dos tempos se transformou em calendários, considerados sagrados. A evidência mais notável disso é o Códice de Dresden, do século 11 ou 12, com tabelas astronômicas maias precisas, baseadas em milhares de anos de conhecimento observacional.


No Brasil, há diversos vestígios da representação do tempo e do universo. Em Monte Alto, no interior da Bahia, existem 260 blocos rochosos no formato de um semicírculo, com cerca de 1 km de extensão, descoberto há exatos 100 anos.


Em 1996, a arqueóloga Maria Beltrão, do Museu Nacional, revelou que o alinhamento tem cerca de 4 mil anos e que marca a superação de mais um ano, com cada bloco de pedra sinalizando a passagem de um dia.


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