Talento múltiplo, Sophia Abraão analisa a sua trajetória para A Tribuna

Cheia de projetos para 2022, a atriz, cantora e apresentadora faz um balanço da sua carreira

Por: Stevens Standke  -  12/06/22  -  08:24
“Eu reproduzia várias falas e pensamentos machistas. Hoje, não paro de estudar o feminismo”
“Eu reproduzia várias falas e pensamentos machistas. Hoje, não paro de estudar o feminismo”   Foto: Galdino/ Divulgação

Sophia Abrahão começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, como modelo e de lá para cá se experimentou como atriz, cantora, escritora, apresentadora e influenciadora digital. Ou seja, tornou-se uma artista múltipla. “As coisas foram acontecendo meio que por um acaso do universo, mas sinto que a minha determinação também pesou”, diz a paulistana de 31 anos, que, apesar de ser uma figura pública, consegue preservar sua intimidade muito bem, em especial o relacionamento de oito anos com o ator Sergio Malheiros. “Tem gente que acha que a nossa relação é perfeita, mas, como qualquer casal, temos as nossas brigas e discordâncias. Moramos juntos no Rio de Janeiro há uns seis anos e construímos o nosso universo familiar, com uma gata e duas cachorras, e prezamos pela nossa privacidade”. No bate-papo com o domingo+, Sophia analisou sua trajetória e falou de feminismo e trabalho filantrópico. “Gosto de usar a minha voz para chamar atenção para causas importantes. Sou embaixadora da ONG Água para Irmãos com Sede e apoio a Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), a campanha Salvo Vidas, para doação de sangue, e entidades de auxílio a pets”.


A sua carreira foi ganhando facetas bem variadas ao longo do tempo. Planejava se tornar tão múltipla?
Tudo aconteceu meio que na surpresa, no susto. Aos 13 anos, comecei a trabalhar como modelo em São Paulo. Aí, a agência me indicou para um teste em Malhação e passei. Precisei correr atrás, pois não tinha experiência como atriz. Mas eu não sou de me acomodar, me agarro a cada oportunidade e vou atrás de formação. Por causa disso, me mudei para o Rio de Janeiro aos 16 anos; além da coach de Malhação me ajudar bastante, frequentei cursos e workshops. E quando estava com 19, fiz Rebelde. Como se tratava de uma novela musical, me deparei com outra nova faceta: a de cantora. Também houve o seguinte: apesar de ter iniciado como modelo, fui me interessar para valer por moda, postando conteúdos sobre esse universo nas redes sociais, só por volta dos 19, 20 anos.


Você ainda escreveu três livros. Como despertou para a literatura?
Sempre gostei de escrever e tive blog. Mas estava acostumada apenas a fazer textos sobre o meu dia a dia. O que aconteceu foi que a (escritora) Carolina Munhóz se interessou pela interação que mantenho com os meus fãs, porque nós meio que construímos um mundo paralelo, com códigos e simbolismos que só a gente entende. A Carolina, então, me propôs tentar transportar esse “universo fantástico” para um livro de ficção. Assim escrevemos juntas, por volta dos meus 21, 22 anos, O Reino das Vozes que Não se Calam. Acabamos entrando para os best-sellers nacionais, lotamos bienais. Foi uma experiência surpreendente. Na sequência, fiz mais uma obra de ficção com a Carolina e escrevi uma espécie de autobiografia com a Camila Fremder, mais voltada para os fãs, com curiosidades e histórias pouco compartilhadas da minha vida. Agora, estou dando continuidade à ligação com a literatura por meio do meu clube do livro. Sem contar que tenho muita vontade de escrever uma nova obra.


Que passagem da sua vida fez questão de compartilhar na autobiografia?
Pouca gente conhecia detalhes dos cinco meses que morei na China, aos 15 anos, para trabalhar como modelo. Também quis falar mais sobre a relação com meus pais, que, apesar de terem idealizado uma vida diferente para mim, foram grandes incentivadores da minha carreira. Como meu pai é médico, por um período achei que ia seguir os passos dele. Tanto que, com 10 anos, fui matriculada num colégio de São Paulo com tradição de preparar as pessoas para boas universidades. Só que, aos 13 anos, um olheiro me viu passeando na rua com minha mãe e me chamou para ser modelo. A carreira artística é bastante instável e feita de muitos nãos; nos períodos mais difíceis, contei demais com o respaldo dos meus pais, da minha família.


Quer voltar a atuar como apresentadora?
Os dois anos em que fiquei à frente do Vídeo Show acabaram sendo muito importantes para a minha carreira. Foi uma oportunidade que surgiu do dia para a noite, na qual entrei com a cara e a coragem e que exigiu bastante estudo, mas que, junto com a participação no Dança dos Famosos, fez com que um número maior de pessoas deixasse de me enxergar como a atriz que interpreta personagem tal e passasse a me conhecer como Sophia Abrahão. O trabalho de atriz, que é o meu foco neste ano, talvez não me supra 100%. Preciso do contato com as pessoas, proporcionado pela minha faceta de apresentadora. Estou com um projeto de entrevistas no meu Instagram. Além disso, no segundo semestre, serão lançados o filme Letícia, que protagonizo, e a série mexicana Amores Que Enganam, que acabei de gravar.


De um tempo para cá, você vem falando publicamente sobre feminismo. Sempre teve esse tipo de postura no dia a dia?
Foi algo que aconteceu tarde na minha vida. Inclusive, eu era uma pessoa que reproduzia várias falas e pensamentos machistas. Como trabalho desde os 13, de certa forma sempre tive o meu dinheiro e as minhas coisas. Porém, carregava a ideia preconcebida de que o homem tinha que pagar o jantar e ganhar mais do que a mulher para ser o provedor da casa. Como todo mundo que não possui conhecimento, eu não dava a devida importância para o movimento feminista. Só que uma amiga me deu um livro do coletivo Não Me Calo que transformou minha vida. Desde então, não parei de estudar e de debater o assunto.


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