O embrião dos sonhos

“Quanto mais eu sigo, mais planos nascem e fazem sentido"

Por: Beth Soares  -  30/01/22  -  12:12
Gato de Botas de Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas
Gato de Botas de Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas   Foto: Adobe Stock

A primeira vez que ouvi a frase que Lewis Carroll pôs na boca sorridente de seu Gato de Botas, célebre morador do “País das Maravilhas”, fiquei um bocado reflexiva. “Para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”. Isso me fez querer saber sempre para onde ir. E querer ir longe e para muitos lugares. Para tanto, precisava planejar, criar estratégias e só então realizar. O problema é que nunca fui muito dada à rotina e à disciplina. Isso é um problema quando se trata de planejamento, embora eu seja uma pessoa bem esforçada. Mas, de modo geral, as coisas acabam sempre entrando nos eixos, mesmo que nem sempre eu caminhe pelo trajeto mais fácil.


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De qualquer forma, acredito que, mesmo se seguisse à risca os planos que faço e atendesse a todas as imensas expectativas que ponho sobre meus ombros, não conseguiria ter o controle total do que vem. Dito isso, confesso que só agora me dou conta de que todo esse peso que carreguei até aqui foi desnecessário.


No meio de todo esse embaralhado caótico que é a vida, muitos dos meus planos e sonhos se realizaram. Enquanto eu sofria pelas preocupações com o amanhã, lamentava as relações desfeitas por mal-entendidos e praguejava pelos tiros que saíram pela culatra, pessoas, lugares e situações melhores do que eu jamais imaginei cruzavam o meu caminho, descansavam meus olhos num dia de sol através da janela numa viagem de trem ou aconteciam como uma doce surpresa na minha vida.


Talvez eu saiba, sim, para onde queira ir. Que só não seja um lugar muito comum... Talvez seja difícil de explicar para mim mesma que esse lugar não está na estratosfera imaginária da Beth de 25 anos, nem no “tanto faz” daquela Beth sem muita esperança, que viveu um momento obscuro já mais madura.


O fato é que, à medida que caminho, os horizontes se abrem. Parece clichê – talvez seja mesmo. Sempre que me perguntam como estou, a primeira coisa que respondo é:


— Continuo seguindo.


Porque, quanto mais eu sigo, mais planos nascem e fazem sentido. E em quanto mais planos eu me envolvo, mesmo sem muita disciplina, mais perto de realizar novos sonhos eu fico. Então, isso me basta: saber que é possível. Saber que, apesar dos tempos difíceis, dos desvios e dos mal-entendidos, os planos sempre serão o embrião dos sonhos – mesmo os despretensiosos.


Finalmente, hoje me dou conta: sou completamente viciada em realizar sonhos.


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