Desligue-se: celular nos momentos de descanso é golpe contra o cérebro
Médico Fernando Gomes, neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas, ensina algumas estratégias
Atualizado em 05/06/22 - 17:23
![Estimular o ócio cerebral não diminui só o estresse. Também melhora o humor e a memória](http://atribuna.inf.br/storage/Variedades/Domingo_Mais/img3947758610594.webp)
Pensar demais é um problema comum, que a maioria das pessoas sofre por não conseguir se desligar daquilo em que não quer pensar ou fazer. Para cultivar o ócio e o descanso — atitude necessária para manter a saúde mental e física –, é preciso adotar algumas táticas.
O médico Fernando Gomes, neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de São Paulo, ensina algumas estratégias. “É comum lermos em livros de autoajuda orientações para eliminar os pensamentos negativos e aumentar os positivos. Esse é um ótimo conselho, mas na prática, quando se usa demais o cérebro, positiva ou negativamente, ele pode ficar esgotado e, então, dá-se o cenário perfeito para o fracasso mental, para o pensamento desordenado e desesperado”.
O neurocientista explica que pensar em tudo, ao mesmo tempo, continuamente, é sinônimo de não viver no presente. A única maneira de parar de se identificar com todos os pensamentos é interrompê-los, descansando o cérebro para conseguir realizar a reprogra-mação essencial para o bom desempenho das nossas funções vitais.
Na prática, o primeiro passo é se desligar da tecnologia. O médico reforça que, mesmo que pareça bem difícil, é necessário se forçar a fazer isso.
O sociólogo italiano Domênico De Masi, já antes da tecnologia dominar nossas vidas, defendia o ócio como fundamental para sermos criativos, sabendo equilibrar lazer, descanso e trabalho. Com o uso constante de computadores e celulares, a necessidade dessa pausa se tornou fundamental.
Segundo Gomes, a alta demanda da tecnologia consegue inibir o funcionamento de regiões específicas do cérebro. Assim, o córtex pré-frontal determina no que você vai prestar atenção e transmite essa informação para regiões mais profundas do órgão, como os gânglios da base e o tálamo, que fecham as barreiras para os estímulos concorrentes — essa é uma porta aberta para a distração e o pensamento inoportuno.
“Quando o desligamento acontece, o cérebro baixa a guarda e, então, diminui a barreira para estímulos concorrentes, permitindo o monitoramento do ambiente, o olhar para dentro de si mesmo e os tão importantes descanso e cultivo do ócio”.
A neurociência já mostrou que o ócio cerebral provocado pelo contato com ambientes naturais pode melhorar o humor e a memória, além de diminuir o estresse.
Como pausar?
- Desative os alertas do celular;
- Deixe de acompanhar as redes sociais, de checar e-mails e mensagens e coloque o telefone no modo avião;
- Busque atividades que ajudem a distrair o pensamento, como regar uma planta, cozinhar ou ler um livro;
- Obrigue-se a experimentar a calma, a tranquilidade e o silêncio. Respire ar puro.