Criador ou criatura? A inteligência artificial já está no nosso cotidiano

O desafio é controlar as máquinas

Por: Marcus Neves Fernandes  -  27/02/22  -  15:14
As máquinas estão aprendendo sozinhas e a sociedade precisa se apropriar desse futuro
As máquinas estão aprendendo sozinhas e a sociedade precisa se apropriar desse futuro   Foto: Adobe Stock

“A inteligência artificial (IA) vai vencer a humana. Não chegaremos nem perto”. A previsão é do vencedor do prêmio Nobel Daniel Kahnemans. Nas duas últimas décadas, a IA passou de conceito a algo presente no cotidiano. Está no robô-aspirador, mapeando sua casa; no celular, completando palavras; no mercado eletrônico, “adivinhando” seus desejos.


Clique, assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe centenas de benefícios!


Para Kahneman, esse avanço seria assim, sorrateiro. E como um psicólogo, com Nobel em Economia, se perguntava: “Como as pessoas vão se ajustar a isso?” Em breve, decisões de vida e morte passarão pela IA, seja nos veículos autoguiados ou no prognóstico médico – apenas para citar dois casos concretos.


Por isso, legisladores de vários países se debruçam sobre o tema. No Senado, em Brasília, encontra-se para votação a lei que vai regular direitos e deveres relacionados à inteligência artificial. A proposta brasileira, inspirada nos estudos europeus, foi aprovada em quatro meses na Câmara. A União Europeia estuda a regulamentação há quatro anos. Lá, eles querem regras objetivas, inclusive como, entre outros casos, na definição de quem é o responsável por uma eventual fatalidade – fabricante, desenvolvedor ou usuário?


A versão nacional da legislação, que será agora apreciada pelos senadores, deixa esse e outros temas em aberto, para futuras regulamentações, entendendo que são aspectos que merecem uma melhor análise.


Porém, uma carta recém-lançada e assinada por mais de 20 advogados e juristas alerta que, em vez de atrair, a falta de regras claras acabará afastando empresas e investimentos em Ciência.


Outra crítica se deve ao fato de que a comunidade científica “não foi consultada”, como afirma Sérgio Novaes, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e diretor do Advanced Institute for Artificial Intelligence (AI2), entre outros especialistas. Toda essa preocupação se deve ao fato de que a IA tem a capacidade de manipular, vigiar e dominar, deixando criadores à mercê de algoritmos.


A inteligência artificial, justamente pela complexidade e pelo difícil entendimento, precisa, segundo os especialistas, de uma ação mais didática por parte dos governos, ampliando a participação da sociedade nos debates.


a IA passou de conceito a algo presente no cotidiano
a IA passou de conceito a algo presente no cotidiano   Foto: Reprodução/AT

Nós podemos não ser páreo para cérebros eletrônicos capazes de apreender e se sofisticar. Mas uma coisa é certa: um bom aproveitamento da IA, ao longo das próximas décadas, será medido pelas ações de hoje.


Equipamento já salvou mais de  20 mil recém-nascidos pelo País
Equipamento já salvou mais de 20 mil recém-nascidos pelo País   Foto: Adobe Stock

Laura, um robô brasileiro no hospital
Muitas invenções que hoje fazem parte da vida da sociedade surgiram a partir da necessidade de resolver um problema ou, por vezes, de um trauma que move a pessoa a buscar soluções.


A história registra, por exemplo, o caso de Samuel Morse, um artista plástico que, em razão de uma tragédia pessoal, acabou inventando o telégrafo em 1835.


Longe de sua casa, em viagem a trabalho, ele só ficou sabendo da morte da mulher após o seu enterro. O seu luto foi dedicado a criar um método que permitisse uma comunicação a distância.


Situação semelhante envolveu o brasileiro Jacson Fressatto. Em 2010, esse arquiteto de sistemas de Curitiba (PR) perdeu a filha, prematura, ainda na maternidade. A dor e o sofrimento o levaram a um feito inédito: a criação do primeiro robô cognitivo gerenciador de riscos do mundo, que recebeu o nome da filha de Fressatto, Laura.


Instalado em mais de dez maternidades brasileiras, o robô Laura já salvou mais de 20 mil recém-nascidos pelo País. “O que eu fiz foi uma ferramenta para o médico, que o transforma em um super-herói”, afirma Fressatto.


Laura é capaz de analisar dezenas de variáveis em menos de um segundo, antecipando quadros de infecção com, pelo menos, dez horas de antecedência.


Conectado aos prontuários médicos, o robô monitora os dados e, ao identificar qualquer mínima anomalia, dispara um alerta. O resultado pode ser avaliado em números. Mais de 9 milhões de pessoas já foram acompanhadas pelo sistema, que reduziu as taxas de mortalidade em mais de 25%.


Em outubro de 2020, durante uma conferência internacional organizada pelas universidades de Harvard e Johns Hopkins, ambas nos EUA, a empresa de Fressatto foi considerada uma das cinco melhores do mundo em projetos de IA para a área da saúde.


Logo A Tribuna