Conheça os loucos por carros e o hábito de transformar veículos

Eles criam grupos, eventos e mantêm a tradição de reformar e adaptar os veículos

Por: Giovanna Corerato  -  01/05/22  -  18:29
Atualizado em 01/05/22 - 18:46
Max é dono da Hamburgueria do Fusca, no Canal 4, em Santos. Segundo ele, esse nome se deve ao Fusca exposto na laje da fachada.
Max é dono da Hamburgueria do Fusca, no Canal 4, em Santos. Segundo ele, esse nome se deve ao Fusca exposto na laje da fachada.   Foto: Alexsander Ferraz

Há uma legião de amantes de carros. Só que o gosto de muitos deles foge do convencional. Enquanto os nossos olhos tendem a brilhar quando assistimos àquela propaganda de um modelo que está sendo lançado, muitos apaixonados por veículos preferem um automóvel mais antigo, como a famosa Brasília ou um carro dos anos 1990 ou 2000. E parte deles ainda curte botar a mão na massa, fazendo questão de reformar – por conta própria – os automóveis que compram.


Mais conhecido como Max, Maurício Borges dos Santos, de 44 anos, é apaixonado pelo universo automobilístico desde criança. “Essa paixão me levou a ter vários carros e isso fez com que começasse a mexer e entender sobre eles. De lá para cá, há uns 20 anos, não tem uma única semana em que não estou mexendo nos meus automóveis ou nos de amigos”.


Max é dono da Hamburgueria do Fusca, no Canal 4, em Santos. Segundo ele, esse nome se deve ao Fusca exposto na laje da fachada. “Eu costumava andar com esse exemplar. Ele era todo modificado e, quando fui colocar em cima da laje, fiz mais alterações. Queria um Fusca para a hamburgueria, pois é o carro mais carismático e icônico de todos os tempos”.


Ele não para por aí. O amor por automóveis também inspirou os nomes dos dois cachorros de Max. “Eles se chamam Pistão e Fusquinha”, conta.


Max tem hamburgueria e dois pets com nomes inspirados em carros. Sua mulher vai a eventos
Max tem hamburgueria e dois pets com nomes inspirados em carros. Sua mulher vai a eventos   Foto: Alexsander Ferraz

Encontros

“Vou a eventos de pessoas que são apaixonadas por carros não só em Santos, mas em todo o Estado de São Paulo”, afirma Max. Na Baixada Santista, amantes de veículos organizam encontros via grupos de WhatsApp. “Há desde os de proprietários de carros antigos até os divididos por marcas de automóvel. Eu, por exemplo, sou membro de um grupo chamado Mercedes Club 013”.


E para aqueles que gostam de botar o pé na estrada, esses encontros também acontecem nas rodovias estaduais, em pontos para parada ou postos. “O estacionamento da Graal (autoposto rodoviário) conta com um estacionamento gigante e lá sempre há eventos do tipo”.


Max acrescenta que, por ser uma paixão que faz parte do dia a dia, muitos amantes de carros acabam inspirando namoradas (os), esposas/maridos e familiares a começar a curtir esse universo. Alguns deles, inclusive, passam não só a participar dos encontros como a colaborar na reforma dos veículos. Max, por exemplo, sempre leva sua mulher, sobrinhos e todo mundo que pode aos eventos. “Até os pets acabam indo”.


Reformas

Ao longo dos 20 anos em que Max reforma carros, ele já modificou por total uma Kombi de 1988. “Retirei a tinta do automóvel, lixei toda a lataria e, depois, mandei aplicar verniz para evitar uma oxidação mais rápida. Modifiquei suspensão, freios, motor, estofamentos, rodas, pneus e até mesmo o sistema de setas, colocando o das Kombis alemãs”, explica.


Uma referência no mundo sobre 4 rodas

“Desde a hora de escolher um carro para compra até fazer uma manutenção, as pessoas me procuram e acabo sendo uma referência”, diz Max. Esse foi o caso de Carlos Henrique de Araújo Oliva, de 51 anos, que contou com a orientação do dono da hamburgueria para reformar os seus dois Volkswagen Karmann-Ghia 1970. “A Hamburgueria do Fusca fica em frente à minha casa e toda vez que ia comer lá, eu e o Max trocávamos ideias sobre carros. Ele ficou superempolgado quando lhe pedi ajuda na indicação de bons profissionais para me auxiliar”, conta Oliva. “Ele me ensinou o caminho das pedras e, com isso, meu carro vai ficar pronto em três meses”, completa.


Cada carro planejado para receber uma modificação é chamado de projeto e o tempo de duração dessas reformas varia conforme a proposta. “Se forem poucas modificações, em poucas semanas é possível fazer. Agora, se for algo grande, como a minha Kombi, leva em torno de um a dois anos”, conclui o apaixonado por carros.


Thiago
Thiago   Foto: Alexsander Ferraz

Um 4x4 para a viagem do sonho

Para Thiago Tavares, de 34 anos, seu carro será um longo companheiro de aventuras pelas Américas. O engenheiro químico está preparando uma Land Rover Defender 110, ano 2003, que a partir de agosto será o novo endereço dele e de sua noiva, a arquiteta Caroline Marcelino, de 33 anos.


Há cerca de três anos, o casal planeja uma longa viagem, tudo com a Defender. “O plano é descer para o Sul, passando pelo Uruguai e Argentina até o Ushuaia. Depois, ir para o Norte, pela costa do Pacífico até a Colômbia, despachar o carro em Cartagena até o Panamá por contêiner e, dali, continuar subindo até o Alasca”, explica Thiago.


Para se tornar o novo lar doce lar, o carro precisou passar por reformas e modificações bruscas: na parte interna, Thiago removeu os bancos traseiros e instalou um isolante térmico no teto e nas laterais.


Thiago reforma o carro com o qual percorrerá as Américas com sua noiva.
Thiago reforma o carro com o qual percorrerá as Américas com sua noiva.   Foto: Alexsander Ferraz

“Temos uma caixa d’água de 60 litros, uma cama que quando montada fica com o tamanho de uma cama de casal, uma geladeira de 37 litros, ventilador e iluminação de LED. Também dispomos de autonomia de uns dois dias sem precisar ligar o motor para carregar as baterias ou procurar um lugar com água pra reabastecer o tanque”, conta.


Visando ter um carro confiável e com mecânica simples para evitar ao máximo complicações durante a longa viagem, Thiago chegou ao Defender, um 4x4 robusto e espaçoso. “Eu gosto de mecânica e de pôr a mão na massa. Então, reformar esse carro acaba sendo um passatempo. Também posso ter a garantia de que vai ser feito um serviço caprichoso e bem acabado. Ninguém vai tomar tanto cuidado com o veículo quanto o dono”.


Boa parte da reforma do automóvel o engenheiro químico fez no galpão de um amigo, mas já teve partes que foram realizadas na rua e também na garagem de seu prédio. “Na hora de sujar a mão de graxa, faço tudo sozinho, seguindo o manual de oficina da Land Rover, mas sempre conto com a ajuda e as dicas do pessoal dos grupos de WhatsApp e vejo vídeos no YouTube”.


O casal decidiu pedir demissão dos empregos estáveis para realizar a viagem. “Eu era funcionário público, mas já pedi exoneração. A Caroline trabalha como arquiteta numa multinacional e, nos próximos meses, vai pedir demissão”. Eles têm um Instagram focado nos passeios com o carro: @tortugando_.


Assim como Max, Kauê também marca presença em eventos e grupos do tipo
Assim como Max, Kauê também marca presença em eventos e grupos do tipo   Foto: Matheus Tagé

Um segmento abrangente, que reúne todas as idades

Até por conta da nostalgia, é mais comum vermos pessoas que curtem reformas de carros antigos na faixa etária a partir dos 40 anos. Porém, cada vez mais jovens estão buscando se aventurar nesse universo. “Hoje é muito comum ver pessoas cada vez mais novas se interessando por restauros e reformas de automóveis”. Com essa frase, Kauê Lameira da Silva, de 31 anos, responde o porquê de começar a reformar veículos mais cedo do que a maioria – o início de tudo foi quando ele estava com 24 anos.


Ainda sobre como se interessou por esse universo, Kauê comenta: “Eu tenho alguns carros antigos e acabei começando a reformá-los por minha conta mesmo, porque, normalmente, quase todo veículo antigo necessita de algum reparo, de um cuidado especial”.


Kauê já reformou um Golf 1996, no qual mexeu na funilaria, mecânica, pintura e suspensão. Hoje, se dedica à reforma de um Buggy de 1992, um projeto que irá exigir que altere chassi, funilaria, mecânica e elétrica. “Esse projeto já está durando mais ou menos um ano e acredito que vai demandar mais uns seis meses”, observa ele, que também divide a paixão com a namorada.


Tudo sobre:
Logo A Tribuna