Coda, grande ganhador do Oscar, vai te conquistar e emocionar

Pandemia ajudou a dar projeção para filmes independentes e de fora de Hollywood

Por: Gustavo Klein - Colaborador  -  03/04/22  -  14:00
O filme faz do espectador um membro da família central da trama
O filme faz do espectador um membro da família central da trama   Foto: Divulgação

Se há um efeito positivo da pandemia na indústria cultural, é a valorização de filmes pequenos, de orçamento mais modesto, que podem ser vistos em tela pequena e que privilegiam criatividade e boas ideias. É marcante que tanto Nomadland, vencedor em 2021, quanto Coda – No Ritmo do Coração, o grande e surpreendente campeão do Oscar 2022, sejam filmes independentes e relativamente baratos.


O até então desconhecido Coda é inspirado em um outro filme, o francês A Família Belier, e ganhou três prêmios na festa do domingo passado (além de Melhor Filme, faturou Roteiro Adaptado e Ator Coadjuvante para Troy Kotsur). À primeira vista, o filme é só mais um daqueles típicos de Sessão da Tarde, sobre uma garota que sonha em ser cantora, sofre bullying na escola, tem um paquera bonitão e um professor de música durão, mas muito inspirador.


Conforme o longa avança, vai mostrando suas inúmeras qualidades que renderam as três estatuetas. Conta com um elenco excepcional, no qual Troy Kotsur se destaca. Tanto ele quanto Marlee Matlin, que faz a mãe da família central da história, são deficientes auditivos na “vida real” e também no filme.


A sigla coda significa, em livre tradução, “filho de pais deficientes auditivos”. E é exatamente a partir de Ruby, a filha, única da família que consegue ouvir, que a história se desenrola. O sonho dela é ser cantora. Mas, como esperar que seus pais e seu irmão também surdo entendam e apoiem a ideia, se não conseguem ouvir o seu talento? E a situação piora: os pais, que são adoráveis, também são meio hippies e nunca quiseram aprender a linguagem de sinais. A garota é o elo entre eles e o resto do mundo. Tem mais: o pai e o irmão têm um barco de pesca. Sem ela ao lado, não são capazes de ouvir a sirene da Guarda Costeira e veem o próprio ganha-pão ameaçado.


Ou seja: o sonho de Ruby, de cursar a faculdade de Música, que fica em outra cidade, é também a quase destruição dos sonhos da família. É o desenrolar dessa situação, com o complicador de que a família é muito unida e amorosa, que o filme aborda. Até que ponto os pais vão apoiar o sonho da filha, mesmo sem entendê-lo? A garota vai ter a coragem de deixar os pais sozinhos em um mundo que não apenas não os compreende, mas que chega a ser agressivo com eles?


Um filme bastante tridimensional, que desperta bastante empatia e chega a ser angustiante, porque vai transformando o espectador num quinto membro da família, que ao final já está torcendo para um final feliz. A produção é independente e foi comprada pela Apple no Sundance Festival do ano passado, mas, aqui no Brasil, ela está disponível no catálogo do Amazon Prime Video. Emocionante e vale seu tempo!


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