Arte engajada: Juliana Alves fala de trabalho, retomada do Carnaval e militância contra o racismo

"Foi emocionante demais", diz atriz sobre volta dos desfiles; confira o bate papo exclusivo com o Domingo +

Por: Stevens Standke  -  24/04/22  -  14:36
  Foto: Guilherme Lima/ Divulgação

A participação no balé do Faustão e na terceira edição do Big Brother Brasil (BBB) deram a Juliana Alves a oportunidade de estrear na TV como atriz, em 2003, na novela Chocolate com Pimenta. Mas o envolvimento da carioca com a arte começou bem antes: dos 3 para os 4 anos, quando a mãe a inscreveu em aulas de dança. “Eu tinha a perna torta e as pessoas diziam que as aulas ajudariam”, lembra. A partir daí, Juliana seguiu na dança e, a partir dos 10 anos, também se envolveu com o teatro. “Não separo muito essas duas artes. O que me encanta, na realidade, é a possibilidade de estar no palco e me expressar artisticamente”. Agora, a atriz, que completa 40 anos em 3 de maio, se prepara para um novo passo: estrear como produtora. “Tudo teve início quando falei para o Ernani (Nunes, marido e diretor) de uma história real que achava que merecia ser contada e que resultou no filme O Casaco. Foi uma espécie de sementinha, sabe? Pensei: por que também não posso produzir os meus projetos?”, conta ela, que prepara um documentário, sobre o qual evita dar detalhes. Na entrevista a seguir, Juliana fala da agenda profissional, que anda lotada, e entre outros assuntos comenta sua ligação com movimentos sociais – em especial os contra o racismo – e a sensação de voltar à Sapucaí após dois anos sem as escolas de samba desfilarem no Carnaval, devido à pandemia.


Como foi voltar a desfilar no Carnaval depois de tudo o que aconteceu na pandemia?
Foi emocionante demais. Percebi que as pessoas viveram o Carnaval muito mais intensamente. Mas confesso que eu, que sempre fiz questão de ir aos ensaios das escolas de samba, neste ano não participei de nenhum. Fiquei bastante insegura, pois, apesar de ter a terceira dose, a minha filha, Yolanda, por estar com 4 anos, ainda não foi vacinada. Preferi, a princípio, observar como a situação ia se desenrolar. Resolvi desfilar em três escolas, porque elas fazem parte da minha história, justamente por eu ser da região da Tijuca, que é um lugar farto de escolas de samba. Embora tenha recebido convites para ocupar posições de destaque, senti que neste ano devia desfilar da maneira mais simples possível, mais para comemorar a retomada do Carnaval. Na Império da Tijuca, por exemplo, eu saí em um grupo de atrizes.


Chegou a ajudar as comunidades quando tudo estava parado?
Nos últimos dois anos, eu e outras pessoas fizemos contribuições e ações não só para o povo do samba, como também para ajudar profissionais do cinema. Só de um tempo para cá que deu para rodar os filmes. Tanto que trabalhei bastante em 2021.


Fez quais trabalhos no ano passado?
Gravei a segunda temporada da série Vlog da Berê, que é um spin-off de D.P.A - Detetives do Prédio Azul e já está disponível no Globoplay. Também rodei quatro filmes, que têm lançamento previsto para este ano. Um deles é o Primavera, da Amazon Prime Video; outro, um projeto para a Netflix. Não posso dar detalhes dos dois por enquanto. Ainda rodei em Portugal o longa Biscoito da Fortuna e participei de um filme independente. Apesar do nosso governo, o cinema continua resistindo e está muito vivo.


Tem mais projetos em vista?
Estou preparando uma peça de teatro e produzindo um documentário. Vou me dedicar mais a esses projetos no segundo semestre. No momento, quero focar na minha filha e comemorar meu aniversário de 40 anos, agora em maio. Me dei de presente uma viagem para Nova Iorque (EUA).


Costuma se preocupar com a idade?
Vou te falar que estou muito animada com a chegada dos 40. Tenho curtido ser quem eu sou e procuro admirar o meu amadurecimento. Aprendi a ser gentil comigo mesma e não me cobrar tanto. Ao mesmo tempo, tenho noção do meu potencial e quero mais é explorá-lo. A diferença é que não me critico mais tanto como antes.


Você tem o hábito de se envolver com causas sociais. Começou com que idade?
Trabalhei praticamente a adolescência toda na ONG Criola, onde atuei em um núcleo que realizava ações nas comunidades. A minha formação pessoal foi muito baseada nas vivências que tive lá. Sempre me envolvi em movimentos sociais, por influência dos meus pais, que são pessoas engajadas. Hoje, sou embaixadora do Instituto Identidades do Brasil, o ID_BR. E por ser atriz, foi mais do que natural que usasse a minha visibilidade a favor da minha militância contra o racismo. A gente precisa parar de fingir que ele não existe. O racismo é um problema da população inteira, não só dos negros, e afeta toda a sociedade, inclusive as empresas.


Como está o processo de transição capilar?
Ficar com o cabelo crespo é algo que eu queria há anos, mas a minha transição foi interrompida algumas vezes, por causa de personagens. Com o tempo, entendi que posso fazer qualquer papel tendo o cabelo crespo. Se o personagem pede fios lisos, ponho uma peruca, em vez de usar química.


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