Almodóvar expõe traumas históricos em melodrama sobre maternidade

Novo longa do espanhol Pedro Almodóvar chegou recentemente ao Netflix e marca a oitava parceria de Penélope Cruz

Por: Gustavo Klein  -  27/02/22  -  14:23
A atriz Penélope Cruz, em grande atuação, concorre a Oscar neste ano
A atriz Penélope Cruz, em grande atuação, concorre a Oscar neste ano   Foto: Netflix/Divulgação

Há duas histórias sendo contadas em Mães Paralelas, novo longa do espanhol Pedro Almodóvar que chegou recentemente ao Netflix e que marca a oitava parceria de Penélope Cruz com o diretor, que extraiu dela suas melhores interpretações. Uma das histórias é o tradicional melodrama, tão característico de Almodóvar, que aqui retrata o drama de Janis (Penélope), uma fotógrafa de 40 anos que engravida após um caso passageiro e, na maternidade, conhece Ana (Milena Smit), também mãe solo em trabalho de parto, de 17 anos.


A ligação que se estabelece entre as duas vai pontuar toda a trama, com as cores fortes habituais de Almodóvar e com um elemento complicador: as filhas de ambas são trocadas na maternidade, fato que só é descoberto porque o pai da filha de Janis, Arturo (Israel Elejalde), coloca em dúvida a fidelidade da namorada por não ver nenhum traço nem dele nem dela na criança. A partir daí, seguem-se as reviravoltas e acomodações rocambolescas a que os fãs do diretor já estão bem acostumados.


A outra história contada no filme é a da luta de milhares de famílias que foram destruídas, durante a guerra civil espanhola, por assassinatos cometidos pelo governo e cujas vítimas foram enterradas em covas coletivas. Janis é uma das corajosas mulheres que lutam para que os corpos sejam desenterrados e identificados para que as famílias consigam, ao menos, ter uma conclusão digna em suas histórias com os parentes.


Há um momento do filme em que Ana, a mãe mais jovem, é repreendida por questionar o porquê de todo aquele trabalho de desenterrar para enterrar novamente. Ouve da amiga que, além de dar um enterro digno ao parente, conhecer o passado ajuda a entender o país em que se vive e a saber de que lado da história se está. E esse aspecto do filme termina com uma mensagem forte emprestada do jornalista e escritor uruguaio Eduardo Galeano: “Não há história muda. Por mais que a queimem, que a quebrem ou mintam sobre ela, a história sempre se recusa a fechar a boca”.


A interpretação de Penélope Cruz está entre as melhores de sua carreira e foi premiada com uma indicação ao Oscar de melhor atriz deste ano. O filme concorre ainda à estatueta de melhor trilha sonora, um trabalho notável de Alberto Iglesias, colaborador habitual de Almodóvar, que faz uma trilha quase de filme de horror. Um destaque mais do que especial a Rossy de Palma, atriz e musa do diretor, cuja presença em cena é fortíssima mesmo em papéis menores, como é o caso aqui.


Uma curiosidade: Almodóvar vem escrevendo a história de Mães Paralelas há tanto tempo que fez até uma referência a ela em Abraços Partidos, filme de 2009, também estrelado por Penélope Cruz. Um pôster do longa aparece em uma das cenas.


Almodóvar alcançou um patamar raro em que seus filmes, como os de Woody Allen, são eventos em si e atraem o público só por contarem com ele nos créditos. Quando é Almodóvar com Penélope, melhor ainda. E como nesse caso ainda há o apelo dos Oscars a que o filme está concorrendo, não há como não ver.


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Festa do Oscar sob críticas

A Academia de Hollywood está sofrendo críticas severas pela decisão de retirar algumas categorias da festa transmitida ao público pela tevê, em uma tentativa de tornar a cerimônia mais ágil e curta. Entre as categorias “rebaixadas” estão maquiagem, trilha sonora, edição e design de produção. Elas serão anunciadas em uma cerimônia à parte, um pouco antes do show da tevê.
A volta de Lei e Ordem
Os fãs dos seriados criados por Dick Wolf têm mais uma razão para comemorar: o Lei e Ordem original, que foi encerrado em 2010 após 20 anos ininterruptos no ar, voltou a ser produzido. Os novos episódios têm parte do elenco original e um apelo mais contemporâneo. Não há previsão de quando o novo show chegará ao Brasil. Além da série Lei e Ordem que acaba de ser ressuscitada, Dick Wolf tem no ar, neste momento, outros dois seriados da franquia (SVU e Crime Organizado), os três shows da franquia Chicago (Fire, P.D. e Med) e três séries de sua outra franquia: FBI, FBI Most Wanted e FBI International. Todas atrações, com exceção de Crime Organizado, são exibidas no Brasil pelo canal pago Universal.


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