A arqueologia também pode ser usada para o futuro; entenda como

Já pensou como seremos conhecidos pelas próximas gerações? Estudiosos avaliam que nome será dado ao período atual

Por: Marcus Neves Fernandes - Colaborador  -  03/04/22  -  15:20
Dois terços de todos os resíduos plásticos já produzidos são impossíveis de serem monitorados
Dois terços de todos os resíduos plásticos já produzidos são impossíveis de serem monitorados   Foto: Adobe Stock

Um grupo de cientistas, entre eles arqueólogos e antropólogos, foi convidado para responder e até mesmo para propor um nome que pudesse representar a nossa contemporaneidade. Para eles, podemos vir a ser conhecidos lá no futuro como os humanos da Era do Plástico.


Na verdade, essa resina sintética que chegou ao mercado há pouco mais de 100 anos pode muito bem sobreviver a nós. É o que diz Atsuhiko Isobe, professor do Instituto de Pesquisa de Mecânica Aplicada da Universidade de Kyushu, no Japão.


De acordo com ele, dois terços de todos os resíduos plásticos já produzidos pela humanidade são impossíveis de serem monitorados – o que o professor chama de plásticos ocultos, como os que se depositam no fundo do oceano.Para arqueólogos do futuro, talvez seja até possível datar, com precisão, o início do século passado como o começo desse período.


Convidado para debater os “legados” da sociedade atual, Matt Edgeworth, arqueólogo e antropólogo da Universidade de Leicester, do Reino Unido, foi categórico: “Esses resíduos estão se tornando parte dos registros arqueológicos e geológicos”. Ele se refere à descoberta, em 2014, do plastiglomerate, no Havaí.


O material, um amálgama de areia, conchas, corais, lava basáltica e resina artificial, acabou por formar um aglomerado ultrarresistente, desafiando previsões sobre quando será o seu desaparecimento.


No México, recente escavação encontrou cartuchos de jogos de computador enterrados a dez metros de profundidade, há 30 anos. Os objetos mostravam poucos sinais de decomposição e alguns ainda eram jogáveis, sendo vendidos on-line por milhares de dólares.


“Os plásticos são uma cicatriz que, com sorte, alertará as gerações futuras sobre a loucura do consumo excessivo insustentável”, comenta Sharon George, diretora do núcleo de sustentabilidade da Universidade de Keele, também no Reino Unido.


Essa cicatriz pode ser traduzida em números. Hoje, acredita-se que cerca de 80% dos 8,3 bilhões de toneladas de plástico já fabricadas ainda estão em algum lugar por aí, inclusive na nossa corrente sanguínea.


Quanto ao futuro, os estudiosos acreditam que nós até poderemos ser vistos como bárbaros, mas, por outro lado, eles torcem para que essa geração ainda seja capaz de obter êxito na empreitada da sustentabilidade, a ponto de se tornar uma idade, era ou período de ruptura com a depredação atual.


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