O que é sarcopenia? Conheça a síndrome muscular

Condição silenciosa enfraquece os músculos e é a porta de entrada para a redução da expectativa e qualidade de vida

Por: ATribuna.com.br  -  25/04/21  -  15:12
  Exercício é muito importante para prevenir o enfraquecimento muscular
Exercício é muito importante para prevenir o enfraquecimento muscular   Foto: Divulgação

Músculos torneados servem apenas para aumentar a autoestima, certo? Errado! As estruturas que ajudam a delinear o corpo são essenciais para evitarmos uma síndrome geriátrica rara, mas grave: a sarcopenia. Esquecida até mesmo na música O pulso, dos Titãs, a doença é pouquíssimo conhecida. Um estudo de 2014 da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo mostrou que quase metade da população com mais de 80 anos (46,6% mulheres e 44,7% homens) têm sarcopenia.


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Causada pela diminuição da massa muscular, a silenciosa sarcopenia é a porta de entrada para a redução da expectativa e qualidade de vida. “A síndrome afeta o desempenho funcional, principalmente nos idosos. Com a sarcopenia, temos mais dificuldades para andar e outras tarefas básicas do dia a dia. Além disso, ela contribui para mais quedas que podem gerar fraturas e para aparição da osteoporose e osteopenia.”, conta a médica com especialização em geriatra, Mirella Maesaka.


Diferente de outras doenças ósseas, que acabam se concentrando em uma parte específica do nosso corpo, a síndrome aparece de forma generalizada. Mirella explica que uma pessoa com sarcopenia têm o enfraquecimento muscular em todo o corpo. “Ela é ainda mais cruel em pacientes com doenças crônicas, já que essas patologias têm um processo inflamatório maior e, por consequência, diminuem ainda mais a quantidade de massa muscular.”


Diagnóstico


A diminuição da massa muscular é fatal para o aparecimento da síndrome, associada principalmente ao envelhecimento e ao sedentarismo. Quem permaneceu por muito tempo internado, como alguns pacientes com covid-19, ou submetidos a cirurgia bariátrica também têm grandes chances de ter sarcopenia. As mulheres precisam ficar ainda mais atentas, pois ela pode aparecer ainda mais cedo, com o climatério e, posteriormente, com a menopausa. A Organização Mundial da Saúde recomenda que todas com mais de 50 anos façam exames regulares de densitometria óssea


A ortopedista com especialização em medicina osteometabólica, Erica de Gerard salienta que não podemos confundir massa corpórea com massa muscular. “Não tem a ver com o volume, ou seja, o tamanho. O que importa é a qualidade dessa massa muscular. Por isso, para um diagnóstico preciso recomendamos o exame de densitometria óssea.”


Erica explica que esse procedimento ajuda a detectar a osteopenia nos pacientes. “Se uma pessoa tem osteopenia, ela também tem sarcopenia.”, afirma a ortopedista. Anterior a já conhecida osteoporose, a osteopenia ocorre quando o corpo não produz um novo osso tão rapidamente quanto reabsorve um osso antigo. Silenciosa, a osteopenia não deixa sintomas no paciente, a menos que progrida para uma osteoporose.


A consulta ao médico e os exames de imagem são indispensáveis para o diagnóstico, mas é possível ficar atento a pequenos sinais que podem sugerir a presença de sarcopenia. Um indicativo é quando trajetos curtos, como da sala para o banheiro, se tornam cansativos ou demorados.


Fique de olho também na ‘batata da perna’, já que elas são compostas, em sua maior parte, por pouca gordura e muita massa muscular. Com o auxílio de uma fita métrica, meça a parte mais grossa: o resultado é considerado satisfatório quando a circunferência fica acima dos 35 cm para homens e 34 cm para as mulheres.


Como cuidar?


Mesmo que a sarcopenia seja inevitável com o avanço da idade, ter uma vida sedentária contribui ainda mais para o agravamento da síndrome e o avanço da osteoporose. Para as médicas Mirella Maesaka e Erica de Gerard é preciso aliar atividade física a boa alimentação. A receita simples que, inclusive, previne várias outras doenças é a chave da longevidade com qualidade.


Com os dentes mais vulneráveis por conta do envelhecimento, os idosos acabam optando por comidas mais fáceis de engolir, evitando proteínas de origem animal, o que favorece a sarcopenia. “Temos que ingerir uma quantidade determinada dessa proteína diariamente. Além disso, estudos mostram que temos que devemos distribuir a ingestão dessas proteínas em todas as refeições ao longo do dia. Nosso corpo absorve melhor assim do que quando concentramos tudo no almoço, por exemplo”, conta a geriatra Mirella Maesaka.


Em alguns casos, devido a baixa dosagem de hormônios como o estrógeno e a testosterona, é possível a prescrição de suplementos e compostos multivitamínicos com colágeno para um bom prognóstico do paciente.


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COVID-19 e sarcopenia


Sem uma estrutura muscular fortalecida, complicações pulmonares são ainda mais agravadas. A caixa toráxica vulnerável provoca uma maior dificuldade para respirar e casos de sarcopenia explodiram com a pandemia de Covid-19. Um levantamento feito no ano passado, pela Universidade Federal de Pernambuco, mostrou uma alta em índices de desnutrição e atrofia em idosos que ficaram pelo menos dez dias internados com a doença. Independentemente da idade, ao vencer a batalha contra o coronavírus, a nova rotina precisa ser readequada e acompanhada por profissionais especializados.


Quem sofreu com este quadro e ainda se recupera da sarcopenia é Marcio Lucchese. O aviador de 49 anos contraiu Covid-19 no início de março após ter contato com o próprio pai, que estava assintomático. “Três dias depois comecei a me sentir mal, como se estivesse com uma gripe muito forte. Fui piorando e precisei ser internado. Fiquei entubado, mas felizmente consegui vencer o vírus agora no começo de abril.”, conta.


Logo após sair do hospital, Marcio percebeu que a doença deixaria sequelas em seu corpo. Ele relembra que o tempo de hospitalização gerou uma brusca atrofia muscular ao ponto de sentir-se ofegante até mesmo para falar e caminhar. “Antes da internação, eu costumava tomar apenas um café pela manhã. Agora não: bebo suco verde e como dois ovos, além de tomar um suplemento alimentar ao longo da manhã. Tudo para ajudar o sistema imunológico e a retomada da massa muscular.”, revela o aviador, que conta com a ajuda de um nutricionista e um fisioterapeuta.


A retomada não foi fácil. “Na primeira semana de fisioterapia, apenas com exercícios de caminhada, senti uma exaustão muito grande. Nunca tinha sentido isso na vida!”, relembra. Com três semanas efetivas de reeducação alimentar e exercícios físicos supervisionados, Marcio afirma que já percebe a melhora no ganho de massa muscular em busca da reversão do quadro de sarcopenia.


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