Almoço grátis mata o negócio de fome!

O termo negócio provém do latim negotĭum, que é um vocábulo formado por nec e otium (aquilo que não é lazer)

Por: Maxwell Rodrigues  -  02/08/22  -  19:17
Almoço grátis mata o negócio de fome!
Almoço grátis mata o negócio de fome!   Foto: Imagem google

Confesso que fico me perguntando por qual motivo temos a cultura de querer tudo de graça. Se avaliarmos o volume de corrupção anunciado nos últimos tempos e a agenda anticorrupção atual, podemos refletir um pouco a respeito do futuro dos negócios. Em determinados momentos, ficávamos aprisionados pelos feudos e grupos com interesses individuais, que podiam não ir ao encontro dos interesses da nação e das políticas públicas portuárias focadas em investimentos, lucro e desenvolvimento. Dentro desse universo, existe um temor do retorno desse modelo ineficiente e que corrompe o sistema e pessoas.


Por outro lado, fazer gestão onde tudo é de graça e celebrar acordos nos quais a iniciativa pública comemora o empenho de capital privado em projetos sem aporte de capital público é muito preocupante. Afinal, existe almoço grátis? Imaginar que empresas privadas firmam acordos e parcerias para desenvolver algo “sem custo” à iniciativa pública é acreditar que existe almoço de graça ou que vivemos em um momento único, chamado capitalismo filantrópico. Não podemos concordar que empresas privadas irão realizar algo sem foco no lucro. Isto não deixa as empresas sobreviverem.


O anúncio de lucratividade e seus recordes pelo governo deve respeitar esta mesma condição pela iniciativa privada, ou seja, o privado que faz investimentos também quer comemorar. Aliás, tanto a iniciativa privada quanto a pública devem reverter parte desse lucro para a sociedade e a economia em que suas atividades estão instaladas por meio de novos investimentos. Será que ambas estão fazendo isso? Ou somente a iniciativa privada?


Em certos tempos, vivemos a depreciação e a corrupção nos portos, em outros a celebração do “conseguir tudo de graça”. Onde ficam o negócio e o lucro? Recentemente, retornou ao palco o debate sobre o Serviço de Segregação e Entrega (SSE), em que um serviço realizado não deve ser cobrado. Até quando iremos fomentar a agenda de atratividade do investimento em nosso país e demonizar o lucro? A Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) já suspendeu a cobrança do SSE, cumprindo decisão do Tribunal de Contas da União (TCU).


Segundo a Corte de Contas, a suspensão deve ser imediata, mesmo que haja recurso por parte da Antaq. Há uma expectativa enorme de que a decisão seja judicializada pois essa suspensão da cobrança levará certamente a uma enxurrada de processos de reequilíbrio dos contratos de arrendamento de terminais, visto que o governo previa nos estudos a cobrança - regulamentada pela agência, por meio de resolução, desde 2012.


O negócio está morrendo de fome com tanta instabilidade, receio internacional da corrupção no Brasil e o viés de que tudo deve ser feito “de graça” pela iniciativa privada. Brasileiro gosta de comemorar a derrota dos outros, mas quando aprenderá a ganhar? Nós nos ocupamos demais em desconstruir qualquer avanço ao invés de construir novas oportunidades. O termo negócio provém do latim negotĭum, que é um vocábulo formado por nec e otium (aquilo que não é lazer). Trata-se da ocupação, da atividade ou do trabalho que se realiza com fins lucrativos.


Então, quer dizer que, por aqui, o negócio visa fins lucrativos com a intervenção de muitos atores que querem “tirar uma casquinha”, impor que seja feito sem custo ou se beneficiar da tamanha instabilidade jurídica? Segundo o economista Milton Friedman, ganhador do prêmio Nobel, a expressão “almoço grátis” não existe. Para ele, o governo e os políticos que prometem algo “de graça” certamente irão tirar do nosso bolso por meio de impostos e custos majorados. O aparato estatal, quando toma este tipo de decisão, torna o negócio muito mais caro, lento e ineficiente. Quando comemoramos almoço de graça, significa que o negócio passa fome. Ê, vida de gado! Povo usado! Povo feliz!


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