A disruptura dos modelos impacta na vida de todos

Difícil imaginar que, após falarmos tanto em automação e tecnologia, estaríamos olhando para as pessoas em 2022

Por: Maxwell Rodrigues  -  06/07/22  -  17:49
A disruptura dos modelos impacta na vida de todos
A disruptura dos modelos impacta na vida de todos   Foto: Google

“A vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”
John Lennon


Quantas teorias feitas durante a pandemia da covid-19 levaram o mundo de um local para o outro, inflando uma bolha que poucos conseguiam enxergar? Enquanto muitos estavam ocupados e preocupados com a sobrevivência dos seus negócios e em atender demandas emergenciais, outros sofreram demasiadamente com essa fase e ficaram pelo caminho. Falta de emprego, demissões e até um novo arranjo logístico mundial, que está sendo construído, fizeram parte dessa nova fórmula.


Hoje, a Europa sofre severamente com a falta de mão de obra nos aeroportos e nas companhias aéreas, pois muitos que lá trabalhavam foram dispensados durante a pandemia e atualmente se encontram alocados em novos postos de trabalho. Em muitos casos, inclusive, com melhores salários. Esse é um exemplo claro de que as empresas estavam ocupadas demais tentando sobreviver e esqueceram de cuidar de um bem muito importante.


É claro que, no início da pandemia, as empresas e os governos deveriam olhar com maior cautela para a situação. Contudo, todos estavam atordoados. No mundo atual, não basta somente dispensar e depois contratar novamente, pois existe muito conhecimento envolvido. Uma habilidade que dificilmente conseguimos repor de imediato. A integração entre portos, rodovias e aeroportos é fundamental. Afinal, o que afeta os aeroportos em um primeiro momento acaba atingindo os portos e as rodovias.


Os processos seletivos para reposição de vagas são cada vez mais exigentes, obrigando as empresas a buscarem pelos melhores e mais capazes. Mas onde eles estão? Desapareceram? O mantra de que temos vagas, porém não temos gente qualificada, irá perdurar por quanto tempo? O que ocorre hoje nos aeroportos europeus serve como sinal de alerta para o setor portuário, onde podemos sofrer com os novos modelos de negócios impostos por uma cadeia de suprimentos e logística cada vez mais sedenta pelo custo e produtividade. Heranças da covid-19...


Mas, ao fim do dia, onde estão as pessoas que fazem a diferença? Isso preocupa grandes empresas do setor e muitas já estão de olho em como equacionar o problema de mão de obra que pode paralisar os portos no futuro. Quem imaginaria que, após o pico da pandemia, setores iriam crescer ao ponto de faltar gente especializada ou que haveria uma debandada geral para outros segmentos? Será que as pessoas descobriram que podem atuar em novos mercados? O que de fato está acontecendo?


Se todos estamos tão ocupados com nosso principal instinto, a sobrevivência, como iremos resolver uma equação tão perturbadora para o coletivo? No campo político, não temos e dificilmente teremos uma reforma trabalhista. No campo educacional, ainda não avançamos em uma reestruturação rápida para atender o mercado tão carente de pessoas. Por fim, muitos estão desiludidos em buscar uma oportunidade, por nunca encontrá-la de verdade. Difícil imaginar que, após falarmos tanto em automação e tecnologia, estaríamos olhando para as pessoas em 2022.


No Aeroporto de Schipol, em Amsterdã, ao fazer check-in, eu me deparei com a automação do processo de despacho de bagagem. Algo admirável, para não dizer fantástico, graças a altos investimentos em tecnologia e automação. Contudo, muitos passageiros não conseguiam utilizar as máquinas e, ao fim, eram os atendentes que resolviam uma boa parcela dos problemas.


A vida vai acontecendo e nós continuamos ocupados fazendo planos, mas aprendendo que a equação ideal é: (máquinas + tecnologia + automação) x (pessoas + capacitação + processos) = investimentos, oportunidades e prosperidade. Atualmente, usamos uma fórmula que aparenta não estar dando resultado e muitos jovens entram no mercado de trabalho após os 25 anos com formação acadêmica invejável, mas com pouca experiência prática. Clamamos por educação desde sempre, mas será que hoje estamos equilibrando a relação entre prática e experiência? Talvez estejamos muito ocupados!


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