Projeto cubatense ajuda a incluir jovens com deficiência no mercado de trabalho

Projeto Incluir para Evoluir atende na Casa da Esperança, em Cubatão, preparando jovens com deficiência

Por: Natalia Cuqui  -  19/11/21  -  08:26
Atualizado em 08/12/21 - 17:30
Projeto atende na Casa da Esperança, em Cubatão, jovens 14 a 23 anos e algum grau de deficiência.
Projeto atende na Casa da Esperança, em Cubatão, jovens 14 a 23 anos e algum grau de deficiência.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Pensando em inserir no mercado de trabalho pessoas com deficiência, a instrutora de formação profissional Márcia Carfer, de 45 anos, criou o projeto Incluir para Evoluir. Ele atende na Casa da Esperança, em Cubatão, jovens 14 a 23 anos e algum grau de deficiência.


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O projeto, pioneiro na região, já formou 16 jovens na Câmara Municipal de Cubatão e tem 24 na lista de espera para a segunda turma. A Casa da Esperança é um centro de tratamento, habilitação e reabilitação que ajuda cerca de 500 pessoas com deficiência, todas moradoras de Cubatão.


A irmã mais velha de Márcia é deficiente auditiva. Sua outra irmã e sócia sugeriu que ela criasse um projeto de treinamento exclusivo para deficientes. Na Casa da Esperança, o curso começou em agosto.


“Sei que a Casa da Esperança trabalha com deficientes. (...) Eu adaptei o conteúdo dentro das limitações deles. (Na turma) Temos deficiente intelectual, com paralisia cerebral em grau leve, deficiente físico, (com Síndrome de) Asperger, autistas. (...) O intuito é capacitá-los e entregá-los para a empresa em uma condição na qual não é necessário parar para ensinar (a eles).”


As partes mais trabalhadas dos alunos no curso são cognição, emoção e convívio social. A primeira parte das aulas tem carga de 40 horas, com menos teoria e mais prática. A última aula é reservada para a irmã de Márcia, que é advogada e explica o Direito Inclusivo, falando também de assédio moral, para que os alunos saibam identificar um possível episódio.


A instrutora Márcia Carfer é a idealizadora do projeto.
A instrutora Márcia Carfer é a idealizadora do projeto.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Depois da formatura, os alunos serão introduzidos a mais 40 horas de treinamento para auxiliar administrativo, também adaptado. O único requisito de Márcia, no momento em que a Casa da Esperança seleciona os alunos, é que eles sejam alfabetizados e não tenham grau severo de limitação nem deficiência visual, pois não há uma máquina em braile.


Como exemplo de superação de dificuldades, fez-se uma excursão com os alunos no Núcleo Itutinga-Pilões, uma trilha no Parque Estadual Serra do Mar. “A visita foi um momento muito marcante, porque vi que foi a primeira vez que eles estavam libertos dos pais”, lembra.


Para a neuropsicopedagoga Alessandra Souza, de 44 anos, que também atua como instrutora, o maior objetivo do curso é ajudar o grupo com as questões pedagógicas e socioemocionais. “Geramos um jovem confiante e com segurança naquilo que ele vai fazer, ensinando-o a não só sonhar, mas correr atrás dos sonhos deles.”


A neuropsicopedagoga Alessandra Souza também é uma das instrutoras do projeto.
A neuropsicopedagoga Alessandra Souza também é uma das instrutoras do projeto.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Para ela, o que demonstra o resultado do projeto é ver as pessoas participando, com desenvolvimento dos alunos e dos pais. “Criamos um vínculo de confiança, porque eles também precisam disso. O desenvolvimento deles traz muita alegria, a palavra com que eu posso definir é essa. A gente prepara também os pais, com apoio dos psicólogos da casa”, comenta Alessandra.


A assistente social da Casa da Esperança, Fernanda Portela, de 40 anos, trabalha na instituição há 13 e acompanha muitos pacientes desde a infância.


“Eles chegam bem pequenos, quando a mãe acaba de receber um diagnóstico de autismo ou paralisia cerebral. Nosso atendimento é para doenças neurológicas e todas as deficiências. A gente atende diversas patologias. O que a gente vinha pensando, de um tempo para cá, é que eles estão crescendo junto coma casa, que hoje tem 41 anos. Então, a ideia era prepará-los para o mercado de trabalho, porque vagas para PCD (pessoas com deficiência) existem, mas a maior dificuldade é colocar esses meninos no mercado de forma qualificada.”


Antes, nem saíam sozinhos. Agora, planejam o destino


Aos 21 anos, Victor dos Santos frequenta a Casa da Esperança desde o primeiro ano de vida. Ele foi diagnosticado com deficiência intelectual e transtorno do espectro autista. As instrutoras destacam sua evolução: chegou tímido e, hoje, planeja até o que comprar com seu primeiro salário. “Vou guardar para comprar roupa e outras coisas”, conta, animado.


Victor dos Santos já faz planos para o primeiro salário e sua mãe, Viviane, notou a evolução do filho.
Victor dos Santos já faz planos para o primeiro salário e sua mãe, Viviane, notou a evolução do filho.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

A mãe dele, a auxiliar administrativa Viviane dos Santos, de 47 anos, também celebra as mudanças e agradece pela existência do curso de capacitação. “Deu (a ele) uma responsabilidade, uma autonomia, ele mudou muito, está tendo autoconfiança. Esse curso está sendo ótimo.”


Para ela, que nunca havia deixado o filho sair sozinho de casa antes da excursão com a turma para o Pilões, o curso “caiu do céu”, e Victor fica “superbem” na companhia de Márcia, Alessandra e dos outros professores auxiliares.


Emily Aureliano, de 16 anos, também faz tratamento na casa desde criança e gostou da inclusão. Na formatura, ela se emocionou e disse que chegou a chorar. “Me marcou muito, foi maravilhoso para mim, não tenho palavras, foi transformador”, disse.


Emily Aureliano tem 16 anos e é uma das alunas que se formou no curso preparatório.
Emily Aureliano tem 16 anos e é uma das alunas que se formou no curso preparatório.   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Segundo a mãe, a dona de casa Angela Rabelo dos Santos, de 38 anos, Emily não queria fazer o curso porque tinha medo de como seria. “Mas, já no primeiro dia, ela chegou falando que amou. Notei uma evolução enorme nela.”


Para Fernanda Portela, “vira uma página quando você consegue garantir que esse deficiente seja incluso no mercado de trabalho, garantir a cidadania dele. A ideia é manter o curso”.


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